Crítica

Luke Cage: nova temporada não bate como a anterior

Assombrada por fillers e um roteiro que anda em círculos, segundo ano só é redimido por bons atores e uma excelente trilha sonora

Depois de uma primeira temporada inspirada, com ótimos vilões e um subtexto racial forte, Luke Cage tinha tudo para voltar arrebentando após sua passagem morna pela minissérie Os Defensores.

Mas, assim como Jessica Jones, a segunda temporada é bem mais fraca do que a primeira e se deixa cair em armadilhas bestas que prejudicam o sucesso do Herói de Aluguel.

Assim como Jones, o seriado retorna após os eventos sobrenaturais de Os Defensores. Pela primeira vez em muito tempo, Luke (Mike Colter) é um homem livre. Além disso, ele é famoso e querido no Harlem.

Porém, enfrentar criminosos sem usar uma máscara logo atrai atenção indesejada e ele se vê em meio a uma guerra de gangues, tendo que enfrentar o criminoso jamaicano Bushmaster (Mustafa Shakir) que quer fazer uma expansão do Brooklyn para o Harlem.

O bom

O ponto alto da segunda temporada são suas atuações. Shakir está muitíssimo bem como o vilão, conseguindo dar um certo ar ameaçador, mesmo que embora um tanto caricato, a um personagem que é, para todos os efeitos, unidimensional. É o ator quem consegue trazer um pouco mais de vida a ele que, por si só, é quase irrelevante.

A melhor atriz no pedaço, porém, continua sendo Simone Missick no papel da detetive Misty Knight. E parece que os roteiristas sabiam disso. Misty tem um arco completo nesta temporada, arco este que é de longe o mais interessante e envolvente. Isso é ajudado pelo ótimo trabalho de Missick que confere cores vivas à personagem.

Shakir como o vilão Bushmaster (Divulgação)

Quem não fica muito atrás é Alfre Woodard como Mariah Stokes Dillard. Enquanto a primeira temporada acompanhou o caminho da personagem para a violência e a vilania, os novos episódios mostram Mariah como uma mulher que aos poucos está se desfazendo dentro da própria máscara de criminosa. Seu arco e percalços também são muito interessantes o que resulta em bastante tempo de tela.

Outro destaque para o seriado está na trilha sonora que continua espetacular. Desta vez, além de uma ótima trilha original e faixas licenciadas bem escolhidas, a trilha é turbinada por algumas versões exclusivas de algumas canções icônicas como The Thrill is Gone.

O ruim

Assim como em Jessica Jones, a sensação é de que os produtores não sabiam o que fazer com Luke Cage após Os Defensores. O personagem desta temporada pouco tem a ver com o da temporada passada. Ele agora é reclamão e passivo, às vezes até bobo e infantil, não percebendo dicas e soluções que são evidentes.

Existe uma razão para ele estar assim: esta temporada está cheia de fillers. Os episódios duram pra sempre. Três, quatro deles se passam com tão pouco conteúdo relevante para a trama que caberiam tranquilamente em um episódio só.

E a linguiça é enchida insistentemente com coisas inesperadas e flagrantemente desnecessárias, como até mesmo participações especiais de alguns personagens.

Outro problema é que eles não sabiam o que fazer com Cage. A trama da segunda temporada, uma guerra de gangues, se desenrola exatamente como um filme sobre o assunto faria, com direito a homenagens diretas à O Poderoso Chefão.

O problema disso é: a trama segue adiante e muda sem qualquer interferência do protagonista. É como se Luke Cage não estivesse na própria série. Pessoas morrem, brigam e vão presas muitas vezes sem o herói sequer estar em cena em partes pivotais da trama.

O veredito

Embora não seja necessariamente ruim, a segunda temporada de Luke Cage é sem dúvida alguma fraca. Rasa, repetitiva e muito cansativa, ela some com todo o poder e impacto que sua trama e protagonista tinham em 2016.