RETROGAMERS

Mesmo descontinuado nos anos 1990, Mega Drive ainda recebe jogos

Console de maior sucesso da Sega tem até brasileiro produzindo games, atualmente

Mesmo descontinuado nos anos 1990, Mega Drive ainda recebe jogos

Você sabia que o Mega Drive (ou Sega Genesis), apesar de ter sido descontinuado pela Sega, recebe jogos até hoje? Lançado em 1988, o videogame teve a produção paralisada no Japão em 1995 e em 1997, nos Estados Unidos – ainda assim, ele vendeu mais de 30 milhões de unidades neste período.

Isso, claro, não impediu os entusiastas de produzirem jogos independentes – na raça – para o console mais querido da Sega. Talvez, um dos grandes responsáveis por isso seja o game Pier Solar and the Great Architects, um RPG clássico lançado em 2010 pelo estúdio WaterMelon (WM). Em uma conversa, há alguns anos, com Túlio Adriano Cardoso Gonçalvez, brasileiro e ex-presidente da WM, ele disse que, ainda em 1997, entrou em um fórum de programadores e daí surgiu a ideia do game.

Com o tempo, a equipe de envolvidos foi crescendo e, em 2008, o game foi anunciado, junto com a empresa. Naquele mesmo ano começaram as pré-vendas. “Concluímos o jogo em 2010 e fizemos o lançamento em dezembro daquele ano.” O jogo vem em um cartucho com potência de 64MB – os maiores games de Mega, nos anos 90, tinham no máximo 40MB.

“O Pier Solar foi feito para o Mega Drive, porque foi um projeto que começou como hobby. Todos os envolvidos eram apaixonados pelo console e a Sega e, inicialmente, o objetivo era fazer o jogo para o Sega CD, pois assim qualquer um poderia baixar uma ISO e gravar num CD-R e jogar no console real. Quem não tivesse o Sega CD ainda poderia jogar em emuladores, então era um formato bom para todos. Porém, durante o desenvolvimento, coisas que funcionavam em emulação não funcionavam no console real. Haviam erros e problemas que eram muito difíceis de solucionar especialmente já que a plataforma era obsoleta e não tínhamos o apoio da Sega. Por fim decidimos que a mudança do jogo para o formato de cartucho era a única forma de fazê-lo sem maiores contratempos. Como ainda tínhamos aquela vontade imensa que o jogo fosse jogado no console real, resolvemos fabricar cartuchos, porém cartuchos tem custo e assim começou a pré-venda para arrecadar fundos para a fabricação”, explicou.

XenoCrisis

Vale destacar, que o game acabou ganhando uma versão em HD para consoles como Dreamcast, PC, Xbox 360, PS3 e Wii U. Mas este não é, nem de longe, o único. Em 2019, após uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo, o grupo britânico Bitmap Bureau lançou XenoCrisis para Mega Drive e outros consoles – inclusive para outro queridinho de gerações passadas, o Neo Geo AES.

O game, que tem uma dificuldade extrema, é inspirado em SmashTV, com muito tiroteio, inimigos grandes e gráficos e trilha sonoras que exploram os limites do meguinha. Ah, só pra lembrar, tanto ele quanto o Pier Solar têm opções de idioma em português. A produção começou em 2017.

Yagac: jogo de um homem só

Brasileiro, Cleber Casali também se aventurou no Mega Drive. Ele resolveu portar um jogo dele, que havia saído, inicialmente, para PC: Yagac MD. Em 2019, o título de plataforma também foi viabilizado por um site de financiamento coletivo – nele, o jogador controla um personagem que precisa recuperar as cores do mundo.

Ao Mais Goiás ele explica como foi a origem de tudo: “Eu estava dando uma arrumação aqui em casa e queria botar meus videogames antigos expostos em uma estante. O Atari e o Master System já estavam com defeito. Liguei o MSX e ele funcionou. Liguei o Mega e funcionou também.

Na ocasião, eu já tinha desenvolvido o Yagac para PC e ganhei um concurso com ele. Lembrei de ter lido sobre o BasiEgaXorz algum tempo atrás, que é um compilador Basic para o Mega. [Então pensei] Vou fazer um joguinho simples, como eu fazia na época do MSX. Peguei alguns gráficos do Yagac e comecei a brincar com eles no BasiEgaXorz.”

Cleber diz que gostou da brincadeira e comprou um everdrive pra poder testar os programas no hardware real, ou seja, do próprio Mega. “Minha ideia inicial era fazer um joguinho bem simples, tela a tela, estilo Castle Excellent, usando os gráficos do Yagac. Mas a coisa foi evoluindo, aprendi a usar os scrolls e carregar mapas grandes na memória, e minha meta mudou para um port completo do jogo. Deu bastante trabalho, demorei uns 2 anos”, resume a odisseia.

Novo título

O brasileiro revela que já tem um novo jogo em andamento, que vai usar a mesma engine (plataforma) do Yagac. “Mas estou trabalhando em outros projetos e não sei quando vou conseguir dar atenção pra este”, revela.

Questionado sobre essa longevidade do Mega, ele diz que o console continua vivo, porque marcou uma geração. “A diferença dele para os consoles anteriores era impressionante, e levou bastante tempo até conseguirem botar um superior no mercado. Tem outro fator que é o hardware de excelente qualidade e durabilidade.”

O programador cita que tem dois meguinhas, inclusive. “Funcionam perfeitamente até hoje e nunca precisaram de manutenção. Ou seja, os fãs ainda têm seus consoles e continuam jogando neles até hoje.”

Vale lembrar que a Sega lançou uma versão “mini” do seu videogame no ano passado. Antes disso, porém, a Tectoy relançou o console em 2017 com uma caixa igual a dos anos 1990. Item de colecionador.

Mega Drive (Foto: Pixabay)

Mais portes

E por falar em port (quando você leva um game de um console para o outro, como Cleber fez com o Yagac), o Mega Drive recebeu, no ano passado uma conversão de Cave Story, do PC, pelo programador Daisuke “Pixel” Amaya. O título ficou Cave Story MD.

O game já tinha recebido versões oficiais para Wii, 3DS e Switch. A do Mega, porém, é não licenciada e se você procurar por aí, dá para achar a rom gratuita – a até cartucho.

Trata-se de um jogo que acompanha um robô que perdeu a memória e precisa explorar uma caverna para saber mais sobre seu passado. Ele segue um estilo conhecido como “metroidvania”, um tipo de exploração e RPG/Aventura.

Outros

De 2018, temos como exemplo o jogo de plataforma e quebra-cabeças, Tanglewood, no qual o jogador controla uma espécie de raposa chamada Nymn. Com belíssimos gráficos 2D, a aventura é longa e tem um nível de dificuldade na medida.

Um caso curioso é de o Ultracore, que seria lançado em 1994 pelas mãos da DICE como Hardcore, mas foi cancelado. No ano passado, então, o estúdio Stricly Limited Games assumiu os direitos e finalizou o shooter de plataforma, que também tem elementos de exploração.

Por vir

Para 2021 que vem, ou com sorte, ainda este ano teremos Demons of Asteborg. Segundo a própria produtora, a Neofid Technology, “é um jogo baseado em plataforma com alguns elementos metroidvania inspirados em títulos como Ghouls’n Ghosts, Castlevania, Mickey Mania, Space Harrier e Panzer Dragoon”.

Ele também está previsto para Switch e PC. “Somos apaixonados por jogos retro e adoramos levar o Mega Drive ao seu limite. O jogo ainda está em desenvolvimento, mas realmente queremos vê-lo no Mega Drive o mais rápido possível”, escrevem no site oficial.

E este título também é mais um caso de financiamento coletivo. Aparentemente, a melhor opção para produtores independentes. E isso é só uma pequena amostra. Tem muitos outros games de antes e outros ainda por vir. O Mega Drive segue vivo.

E só para deixar claro, o Mega Drive não é o único videogame antigo a receber ports. O Super Nintendo (Snes), o Nintendinho (NES), o Master System e outros também têm alguns títulos lançados. Uma verdadeira festa para os retrogamers.