Entrevista

O Calango Beat da Marmelada de Cachorro

Banda toca neste sábado no festival Ganjaço; confira entrevista

Quando maduros, os frutos da Marmelada de Cachorro têm coloração negro-azulada, sabor adocicado e polpa macia. Encontrada facilmente no cerrado, a planta ganhou o nome científico de Alibertia sessilis, tem colheita realizada de setembro a dezembro e foi debaixo de seus galhos que o baixista Amim Cozac e o vocalista Thainan Ferrante decidiram criar a banda, na Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Na sombra de uma árvore com um nome tão peculiar, achar um título para a banda não deve ter sido tarefa difícil.

Mais complicado foi criar um ritmo que flerta com tantos gêneros quanto há membros na banda. Além dos dois amigos, entraram os guitarristas Brunno Prudente e Renato Prado, o baterista Filipe Aguirre, o gaitista Matheus Jucá e o DJ Pedro Côdo. Cada um deles trouxe uma vertente diferente da música, unindo MPB, rock, eletrônica, rap, soul, funk e blues. Era hora de fugir da sombra confortável e se expor ao sol do cerrado, bem, como um calango faria. É. O Calango Beat.

“As referências musicais fazem parte da construção da personalidade de um músico. E em nossas músicas tentamos trazer um pouquinho de cada um dos integrantes. E para que o som saia de forma homogênea, é o resultado de muito entrosamento da banda. Somos sete músicos, e sete amigos que querem tocar juntos”. A banda respondeu a entrevista em conjunto, no melhor estilo Os Três Mosqueteiros. “Já as composições, normalmente se iniciam com um riff, letra ou batida que um de nós pensou e durante o ensaio, apresentamos a ideia e juntos damos forma à música, à nossa música”.

“Um exemplo desse processo criativo é a música Esmeraldas, a primeira base da música foi composta pelo baterista Filipe Aguirre, que levou o arquivo da música e botamos fé. Então cada um começou a trabalhar em cima dessa base e adicionou a ela a sua referência e a sua marca. O Neguim [Thainan] trouxe o rap e a letra, o Renatinho o peso da guitarra enraizada no havy, o Amim as viradas de baixo e seu tapping, o Brunno os riff do soul, o Jucá os harmônicos de Gaita e o Pedro a composição eletrônica. E assim ela deixou de ser uma composição individual e passou a ser uma música nossa”.

A primeira composição da banda foi Quando a Cidade Pega Fogo, que hoje faz parte do EP de estreia, Calango Beat (2015). A banda já participou dos festivais Juriti, TacaBoca, as duas edições anteriores do Ganjaço e toca neste sábado (11) na terceira, às 20h, no Baobá Clube. Sobre o álbum, eles definem o resultado como uma miscelânea de estilos que produz um “calangar”:

“O cerrado é muito presente em nossas letras, veja a música Calango Beat. Nela retratamos várias plantas típicas do cerrado em batidas rápidas e marcantes. O nome Calango é em homenagem ao calango rasteiro, animal típico do cerrado, nosso habitat natal. Quando parado, ele balança a cabeça em ritmo constante, marcando o som. E esse comportamento, do calango, era repetido pela platéia em nossos shows. Vendo isso, começamos a curtir, falando que era a hora de calangar. E o trem pegou, trouxemos o conceito enraizado no cerrado e o calangar. Daí surgiu o termo Calango Beat”, afirmam.

Sobre a relação com o movimento Mangue Beat, eles declaram ser fãs no Nação Zumbi e do criador do Manifesto Mangue Beat, Chico Science. “Eles são referência para nós. E ficamos honrados de vocês verem dessa forma. Acreditamos que a contracultura é elemento principal de nossas composições. Queremos fazer algo novo, que represente, que comunique com quem está a muito tempo calado pelo ‘o que vende’. É a representatividade da periferia na música goiana. Esse é um movimento libertário da fórmula vendida no cenário rock”.

A banda promete uma música inédita para o show no Ganjaço. Enquanto isso, é possível fazer o download gratuito do EP através do site www.vagalume.com.br/marmelada-de-cachorro e ouvir pelo www.soundcloud.com/marmeladadecachorro. Veja o grupo em ação: