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Transbordada. O título já diz tudo. O novo disco de Paula Toller traz uma artista em busca de reinvenção, deixando de lado o banquinho e o violão (do período acústico do Kid Abelha) e o apreço pelas baladas, para partir ao encontro com a pista de dança. Ou “classic pop”, como definiu a cantora e compositora ao jornal O Estado de S.Paulo sobre a nova empreitada solo, a primeira após a turnê de 30 anos da banda seminal da música pop nacional desde o início dos anos 1980.
Um novo álbum, com um antigo parceiro. O produtor Liminha foi o escolhido para dar andamento ao projeto que perseguia Toller desde 2011. Somente no fim do ano seguinte, quando as comemorações das três décadas do Kid Abelha chegaram ao fim e Paula pode, enfim, transbordar. “Foi uma coisa que pedi ao Liminha”, conta a cantora e compositora. “Falei: ‘Quero agitar o show com mais barulho, mais guitarra, quero dançar e colocar o povo para dançar!”.
Liminha foi escolhido não apenas pelo extenso currículo e atribuições acertadas ao longo da carreira. Produtor de Seu Espião (1984), Educação Sentimental (1985) e Tomate (1987), discos do período inicial da carreira do Kid Abelha – Leoni ainda integrava a banda nos dois primeiros -, o músico compartilha com Toller a vivência do auge do pop rock nacional, nos anos 1980 e 1990. “Estava com saudade dos nossos papos longuíssimos, de relembrar os causos, ouvir muita música”, conta ela. Gravar no estúdio Nas Nuvens, do qual Liminha é proprietário, também animava a cantora. “É a nave-mãe da minha geração”, completa Toller.
Vinte e oito anos depois da última produção de um disco do Kid Abelha, o produtor reencontrou uma Paula Toller madura, com a bagagem de mais de três décadas de estrada e 52 anos de vida, com ideias muito concretas sobre quais seriam os direcionamentos deste quarto trabalho solo, que inclui dois discos de estúdio, Paula Toller (1998) e SóNós (2007), e o ao vivo Nosso (2008). Transbordada é, dentre eles, o trabalho mais solto. Ou, como disse a carioca, é “poderoso”.
Desde o início do projeto, em 2011, o trabalho se desenhava para ela como solo, não como parte da discografia do Kid Abelha. “Era muito confessional”, conta. Diante de um ambiente em completo rebuliço, do cotidiano corrido à fúria da natureza, com o desastres ambientais como o deslizamento na região serrana do Rio de Janeiro, no início daquele ano. “Tudo isso só faria sentido com um som exuberante, excessivo”, explica.
A intimidade com Liminha fez com que Toller experimentasse compor em conjunto com o produtor. O resultado disso é que todas as dez músicas de Transbordada são assinadas pela dupla, acompanhadas por Arnaldo Antunes em Será Que Vou Me Arrepender e por Beni Borja em Seu Nome É Blá e À Deriva Pela Vida. “(Eu e Liminha) tínhamos muita história juntos. Fomos vizinhos de porta várias vezes e nunca tinha rolado”, lembra. “Começamos a nos encontrar uma vez por semana, mostrávamos nossos rascunhos e eu ia trabalhar nas letras em casa. Nesta fase, criamos uma música por semana.”
Segundo ela explica, a integração foi completa ao longo do processo criativo, desde os primeiros esboços até as invencionices no estúdio. “Trabalhamos juntos em tudo: letra, melodia, harmonias, estrutura e arranjos”, conta Toller. “No estúdio, o bacana é experimentar, mesmo que depois não goste do resultado.”
Apenas em uma música, na já citada Será Que Vou Me Arrepender, uma das poucas e lindas baladas, em um disco prioritariamente dançante, a voz de Toller se une ao tom inconfundível de Hélio Flanders, vocalista do Vanguart, em um encontro temporal do pop oitentista com a geração atual: “Hélio tem uma voz linda, que se reconhece no primeiro segundo”, disse ela. “Isso não se aprende.”
Rock, pop, baladas adocicadas e canções dançantes. O novo disco dela é tudo isso. Paula Toller está, definitivamente, transbordada. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)