No ar em “3%”, Bruno Fagundes fala sobre hiato na televisão
Última produção em que o ator trabalhou foi a novela "Meu Pedacinho de Chão", da Rede Globo
A trama da série de ficção científica “3%”, da Netflix, gira em torno de um futuro distópico onde a grande maioria da população tenta sobreviver em uma terra arrasada e pobre. Aos 20 anos de idade, todas as pessoas têm direito a passar por um processo seletivo onde apenas 3% dos candidatos serão aprovados para viver em uma espécie de cidade futurista rica e feliz.
Durante mais de dois meses, os candidatos passam por sessões de testes que podem chegar a horas de duração. Os avaliadores são exigentes e as tarefas demandam trabalho. E foi só depois de se submeter a todos esses testes que, na vida real, Bruno Fagundes, 29, conseguiu seu lugar ao sol. Ou melhor, ao set de “3%”.
“Fui merecedor, cheguei preparado para passar para o outro lado”, brinca Bruno, utilizando expressões recorrentes da série na qual estreou já na sua segunda temporada, lançada no final de abril. Nela, o ator interpreta André, o irmão de Michele (Bianca Comparato), uma das protagonistas.
“Foi quase como o processo da série mesmo”, diz o ator, que é humilde, uma vez que, tendo disputado o papel com outros 60 atores, representa uma porcentagem ainda mais diminuta do que a da ficção, 0,6%. Essa é a segunda participação de Bruno em uma produção da Netflix. Na primeira vez, fez um pequeno papel na série “Sense8”. “Também fiz teste para ela, mas fui descartado na verdade. Queriam alguém mais velho”, explica o ator.
“Mas passados uns 15 minutos depois de eu receber essa notícia me ligaram falando que a Lana [Wachowski, criadora da série] tinha gostado de mim e queria me oferecer um papel”, conta Bruno. “Eu era fã da série, nunca nem tinha sonhado em atuar nela.” Oriundo do teatro desde o berço, Bruno é filho do ator Antônio Fagundes e da atriz Mara Carvalho. Contracena com os dois – e ainda com a atual esposa do pai, Alexandra Martins – na peça “Baixa Terapia”, comédia que começou a pouco sua turnê nacional e internacional, prevista para durar até dezembro.
“Acho que se todo mundo trabalhasse em um escritório de advocacia junto a animosidade podia aparecer na relação pessoal”, brinca Bruno. “Mas estar e cena é tão divertido que a gente se dá bem o tempo inteiro”. Mas engana-se quem pensa que, em uma família tão teatral, tornar-se ator foi um caminho natural. “Não é só uma coisa de família, porque se não meus irmãos também seriam atores”, diz Bruno. “Durante um longo tempo eu me questionava se estava fazendo isso só por ser filho do meu pai. Tinha receio de ser comparado a ele”.
“Hoje já não tenho mais esse receio”, conta. “O teatro é uma paixão bem verdadeira para mim”. E parece ser recíproca. “Fazer teatro me fez nunca parar de trabalhar”, conta Bruno. “Depois da minha última novela na Globo, por exemplo, nunca mais fui chamado para fazer testes. Então eu acabei focando em um meio que nunca me abandonou”.
A novela a que Bruno se refere é “Meu Pedacinho de Chão”, uma produção aclamada dirigida por Luiz Fernando Carvalho e que foi ao ar em 2014. Desde então, apesar de ser filho de um figurão da casa, Bruno nunca mais participou de uma produção do canal.
“Não foi uma opção minha. Eu tenho que me preocupar em fazer a minha parte. E ela eu sei que fiz O resto não está sob meu controle”, diz o ator. “Acho que o sistema de celebridades é muito incerto. Tem um milhão de fatores que podem ter ocorrido, mas de qualquer forma, não foi uma decisão minha”.
Foi decisão sua, sim, passar o ano de 2017 dividido entre as peças “Baixa Terapia” e “Senhor das Moscas” e as gravações da segunda temporada de “3%”. “Fazia sete sessões de teatro por semana e rodava o ‘3%’ nos dois dias de folga”, lembra Bruno. “Trabalhei de segunda a segunda, sem nenhuma folga. Estou trilhando meu caminho”.
“É um caminho diferente do meu pai”, explica o ator. “Tenho certeza de que, daqui a 40 anos, estarei em um lugar muito diferente do dele também”. Onde, exatamente, Bruno ainda não sabe. “Penso mais no meio do caminho do que no fim. A força das coisas quando elas têm que acontecer é muito maior do que qualquer planejamento”.