‘Nos Tempos do Imperador’ chega à TV e elenco brinca: vai estrear?
“Será que vai estrear?”, brinca o ator Alexandre Nero no evento de lançamento da novela…
“Será que vai estrear?”, brinca o ator Alexandre Nero no evento de lançamento da novela “Nos Tempos do Imperador”, do qual o F5 participou. A dúvida é pertinente, uma vez que a estreia foi adiada consecutivas vezes devido à pandemia de Covid-19.
A trama vinha sendo gravada desde o final de 2019 e tinha previsão de ser lançada em março de 2020, após “Éramos Seis”, quando o anúncio do fechamento dos Estúdios Globo pegou o Brasil de surpresa.
A emissora, então, colocou no ar a reprise de “Novo Mundo” (2017), como espécie de aquecimento para a nova produção –dos mesmos autores, Alessandro Marson e Thereza Falcão, a trama é quase um prólogo de “Nos Tempos”, por tratar do pai de Dom Pedro 2º, personagem central da novela inédita. Só que a pandemia se prolongou, e a emissora teve de recorrer a outras reprises, caso de “Flor do Caribe” (2013) e “A Vida da Gente” (2011).
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Quase um ano e meio depois da previsão inicial, a novela finalmente entra no ar a partir desta segunda-feira (9) na faixa das 18h. É a primeira novela inédita da emissora desde o começo da pandemia —houve capítulos inéditos de “Amor de Mãe” e “Salve-se Quem Puder”, mas ambas já haviam estreado quando foram interrompidas.
O diretor artístico da novela, Vinícius Coimbra, diz que a pandemia tornou as gravações muito mais complexas. “Foi um desafio grande. Precisamos ver quais eram as cenas imprescindíveis de contato físico e contar essa história apesar dos protocolos”, conta.
“Foi difícil não só pelas questões práticas do set, mas também do impacto da Covid. Houve receio no início, principalmente dos atores que se expõem mais, mas me parece que isso gerou um sentimento interessante de união, de guerrilha, de não deixar a máquina parar.”
O ritmo das gravações, segundo ele, foi bem diferente do normal. “Gravávamos menos da metade das cenas que faríamos antes”, compara. “Principalmente no início da retomada. Depois o grupo foi criando confiança e relaxando.”
Para garantir que não precisaria interromper a novela no meio caso um eventual agravamento da pandemia voltasse a provocar o fechamento dos estúdios, a Globo optou por esperar. Assim, esta será a primeira novela a estrear na emissora com as gravações quase terminando.
O autor Alessandro Marson conta que o último bloco de capítulos da novela já foi entregue. “Estou me sentindo um pouco o Raimundo Lopes no final de ‘Redenção'”, brinca, referindo-se ao autor da novela mais longa da TV brasileira, com 596 capítulos exibidos pela TV Excelsior entre 1966 e 1968.
“A gente está há muito tempo com essa novela. Começamos a trabalhar na novela no final de ‘Novo Mundo’, entre 2017 e 2018.”
A trama é centrada na figura de Dom Pedro 2º, vivido por Selton Mello. Casado com a imperatriz Teresa Cristina (Leticia Sabatella), ele convida a condessa de Barral (Mariana Ximenes) para ser preceptora das filhas, mas acaba se apaixonando por ela.
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“É uma sequência da ideia de ‘Novo Mundo'”, confirma Thereza Falcão. “A diferença é que a gente já tem um Brasil estabelecido desde a Independência, isso muda toda a perspectiva dos personagens. Ainda temos alguns estrangeiros, mas é quando começamos a ter brasileiros, um Brasil mais definido.”
Os autores garantem que o protagonista não será mostrado apenas com tintas de herói. “A gente realmente procura realçar esses pontos fortes, porque estamos muito carentes de pessoas que pensem o Brasil da forma que ele pensava, mas não quisemos fazer uma novela chapa-branca”, diz Falcão. “O que tem de falho a gente mostra de forma clara e tentando entender o contexto, afinal é um homem do século 19.”
“Numa obra como uma novela, que é longuíssima, é muito mais fácil mostrar várias facetas de um personagem do que em um filme ou numa série curta”, completa Marson. “Conseguimos mostrar várias facetas. Tivemos que expor algumas contradições não tão perfeitas ou heroicas.”
“Eu não lembrava muito da história do Pedro 2º quando li os capítulos”, confessa seu intérprete, Selton Mello. “Fiquei intrigado por ser um personagem tão importante na história do Brasil e não ter sido tão explorado. O Pedro 1º várias pessoas fizeram. Já o Pedro 2º não teve outro ator a ter feito para servir de referência.”
Há 21 anos longe das novelas, Selton Mello diz que foi seduzido pelo roteiro. “Gostei muito do que não li, do que estava nas entrelinhas, no que ele estava pensando ao dizer ou viver aquilo”, diz. “Fui ler várias biografias. É interessante que elas não têm respostas para muitas coisas.”
“Estou fazendo o Pedro 2º possível, usando a minha sensibilidade, meu não-conhecimento”, avalia. “Também comecei a trabalhar ainda criança, então em algum lugar me identifico com esse cara. Espero que o público complete nosso raciocínio e descubra mais coisas.”
Os autores chamam a atenção para o fato de que não se trata de um documentário histórico. “É uma ficção, mas temos o cuidado de ser respeitosos com as pessoas que existiram”, diz Marson. “A nossa grande inspiração em termos de estilo é a ficção histórica. A gente gosta muito das ficções históricas, algo que não fazemos tanto no Brasil —não sem razão, porque sempre que fazemos somos muito atacados.”
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Ele lembra que isso ocorreu na primeira semana de “Novo Mundo”, quando a imperatriz Leopoldina (vivida por Leticia Colin) chegava ao Brasil em um navio que era atacado por piratas. “Isso nunca ocorreu, mas colocamos os personagens em situações-limite para poder apresentá-los”, explica.
Histórias paralelas à trama central também foram fruto de muita pesquisa. A dupla de autores quis apresentar personagens negros que não fossem apenas escravizados, como é comum em tramas que tratam da época anterior à abolição.
“Conseguimos chegar num lugar diferente, vamos ver personagens negros complexos, livres, e a busca pela abolição”, diz Falcão. “É importante para lembrar que a abolição não foi fruto só de uma canetada.”
Há, por exemplo, o fugitivo Jorge, que acaba se apresentando com o nome de Samuel. Ele será interpretado por Michel Gomes e fará par romântico com a mocinha Pilar (Gabriela Medvedovski). Também há um núcleo de personagens que habitam a região da Pequena África, reduto de negros livres no centro do Rio de Janeiro.
As tramas tiveram consultoria do pesquisador de cultura afro-brasileira Nei Lopes. “Por mais que tenhamos empatia, somos duas pessoas brancas”, diz Falcão. “São histórias muito delicadas e com as quais temos muito cuidado. Procuramos ter muito respeito e abordar da maneira mais consciente possível.”