Os fãs de Warcraft
Para muitos, o filme finaliza a espera de uma década
Na quinta-feira (2), estreia a adptação cinematográfica de Warcraft, filme baseado na longa série de jogos da Blizzard Entertainment. Embora a crítica esteja detonando o filme, ele fez mais dinheiro que o esperado em seu final de semana de estreia em 20 países e deve fazer mais esta semana ao atingir um total de 75 territórios. Mas isso não importa muito para os fãs que assistirão ao filme independente de ele ser bom ou ruim: muitos deles aguardam por uma versão cinematográfica desde 2006 quando os primeiros rumores e conversas de uma adaptação começaram a ser ventilados pela própria Blizzard. A trama do filme, em produção mais ou menos desde 2010, gira em torno do confronto entre os orcs de Draenor e os humanos de Azeroth e os heróis de ambos os lados que tentam evitar o derramento de sangue. Foram anos para tentar encontrar um equilíbrio narrativo – que pode até não ter dado certo.
Porém, nem mesmo os criadores da franquia poderiam imaginar que um dia ela acabaria nos cinemas. Em 1993, a ainda pequena Blizzard estava desenvolvendo um jogo de estratégia em tempo real para a Games Workshop, adaptando seu famoso cenário de fantasia Warhammer. Tudo ia bem até a GW dar para trás, deixando a Blizzard no prejuízo e com um jogo praticamente pronto nas mãos. Reza a lenda de que a empresa, para não quebrar, fez as mudanças necessárias apenas para não tomar um processo na cara e lançou Warcraft: Orcs & Humans para DOS em 1994. Era tão parecido com Warhammer – até no nome – que era quase constrangedor. O jogo fez sucesso o bastante para justificar uma sequência muito mais elaborada e feita com tempo: Warcraft II: Tides of Darkness.
Agora sim, a Blizzard pôde colocar suas asinhas de fora e contar a sua própria história, se aprofundando no próprio cenário e suas criaturas. Foi aí que começou a rolar a percepção de que o lado dos orcs – a Horda – não era propriamente ruim (ao contrário do primeiro jogo, em que eles claramente eram vilões), dando as primeiras dicas de um plano diabólico que usaria os orcs como marionetes. Um enredo clichê, mas elaborado para a época que, associado a gráficos muito coloridos e belas animações, atraiu de verdade legiões de jogadores e fãs. O jogo e sua expansão, Beyond the Dark Portal, inclusive ganharam dublagens canastronas no Brasil e encontrar uma dessas versões hoje em dia não é apenas um tesouro, mas uma raridade. O sucesso foi o bastante para a Blizzard conseguir financiar e lançar sua outra franquia de estratégia, Starcraft que se tornou extremamente popular, especialmente em meio competitivos.
Mas o ponto de virada real para Warcraft só veio nos anos 2000. Em 2002 e 2003 com o lançamento de Warcraft III: Reign of Chaos e sua expansão The Frozen Throne, a franquia foi mais fundo como nunca em sua própria mitologia e adicionou facções grandes ao cenário, como os mortos-vivos e os elfos noturnos. Tudo isso foi uma preparação para World of Warcraft, lançado para marcar os 10 anos da franquia em 2004. O MMORPG da empresa logo cresceu para se tornar o maior do mundo, chegando a ter 12 milhões de assinantes pagos em 2011. Foi aí que Warcraft se tornou mainstream e conhecido até por quem não tinha o menor interesse em video games. Com uma trajetória como essa, é desnecessário dizer que muitos fãs cresceram com a série e hoje estão entre seus vinte e poucos e trinta e poucos anos, o que explica a grande expectativa para o filme, independente de sua qualidade final.
Júlio Campos
“Jogo WoW há 10 anos. Comecei por causa do meu irmão que passava a maior parte do tempo jogando e acabou me ganhando quando vi um touro gigante virar uma leão marinho e nadar” conta o servidor público Júlio Campos sobre o personagem druida do seu irmão. Inicialmente, ele não dava moral para a mitologia grande e complexa da franquia, só se importando com as mecânicas: “Jogava mais pela diversão, nunca lia as missões e as raids eram apenas dungeons mais difíceis, mas de uns 2 anos para cá eu descobri o livros contando a história e comecei a me interessar”. Conforme o interesse cresceu, aumentou também o receio em relação ao filme: “Inicialmente eu não gostei, a tendência de filmes de jogos é serem ruins e com a única intenção de arrecadar”, porém, o trailer e outras imagens de divulgação acabaram ganhando-o: “Acompanhando as notícias do desenvolvimento, o trailer em 360º e as fotos do set, fiquei encantado, reserve uma pré-estreia para mim”. Embora até agora não tenha gostado de nenhum filme baseado em video game (“os de Pokémon servem?”), ele espera: “Acho que vai ser uma espécie de filme da Marvel. Será uma diversão incrível para quem sabe nada do lore, mas vai ter um monte de referências para os fãs. Com certeza, quem joga vai reclamar, mas não tem como agradar orcs e humanos”.
Já o economista Felipe Cordeiro começou a jogar Warcraft III por acaso em lan house com amigos quando tinha 11 anos. A competição logo acabou dando lugar à curiosidade. “Primeiramente o que me impressionou foram os gráficos e efeitos que eram relativamente muito bons pra época. Depois de conhecer e começar jogar um pouco comecei a entender melhor a história e a partir daí ela foi, e ainda, é o mais importante para eu me interessar até hoje pela franquia. No WoW a história continua sendo escrita e a cada expansão eles mandam muito bem em dar continuidade ao que vai ficando solto nas histórias dos jogos mais antigos, eles são muito bons em trabalhar cada elemento do seu universo”, conta. Assim como Júlio, Felipe estava descrente, mas foi convencido pelo trailer: “Confesso que não me empolguei muito, pois os filmes de games eram todos muito decepcionantes. Depois que saiu o primeiro trailer eu já desacreditei e fiquei bem animado, agora estou igual uma criança esperando o lançamento, mal posso esperar, pra mim será o filme do ano”.
Porém, ao contrário de Júlio, ele acha que a aventura vai conseguir convencer os céticos e agradar até quem nunca ouviu falar em video game: “Tenho certeza que vai agradar todo mundo, tem bons efeitos, guerra, ação e uma história muito bem trabalhada e envolvente, não precisa ser fã da série pra gostar disso. Acho até que vai aumentar consideravelmente o interesse das pessoas pela Blizzard, principalmente das novas gerações, pois a história merece e desperta atenção, só olhar O Senhor dos Anéis“. Prova viva disso é o publicitário Paulo Júnior. Embora ele tenha jogado Warcraft III, nunca se interessou pela versão online. Isto não o impediu, porém, de acompanhar Warcraft de outras formas interessado principalmente na narrativa: “Conheço Warcraft desde 2002, a priori só achava interessante o sistema de jogo (RTS) mas depois eu fui conhecendo o mundo a partir da campanha e me apaixonei por Azeroth. Apesar de nunca ter jogado o MMO, desde então acompanhei o universo do jogo, seus personagens, acompanhei contos, livros e quadrinhos, joguei o então cardgame oficial. A história sempre foi o fator importante para que a franquia me mantesse interessado”.
Assim como Cordeiro, ele acredita que será um ótimo ponto de entrada para quem não conhece a franquia. Porém, ainda tem ressalvas quanto à qualidade do filme e prefere conter suas expectativas: “Acho que será um ponto de entrada interessante aos neófitos, mas quanto a ser o primeiro filme de videogame bem sucedido, acho que só o lançamento dirá, afinal Warcraft desde muito tempo não é só um videogame, é uma franquia midiática e o cinema é um passo natural na expansão dela”.
O mesmo vale para o estilista Nathan Oliveira. Embora ele tenha jogado Warcraft III, foi WoW e a história do jogo que envolveu ele e seus amigos: “As quests de história, que você faz parte da coisa toda te faz sentir jogando em um espécie de filme. tipo GTA onde além disso você ainda pode tomar decisões onde afeta o curso e o fim da história”, conta.
Ele contou que também estava com medo, mas que ao ver o elenco e o figurino, passou a ficar empolgado: “Fiquei com medo, né? Medo de inventarem demais e estragarem a história ou algo do tipo. Eu vi a conferência na época que anunciaram, o figurino (eu como designer de moda tava super ansioso pra ver) e a escolha de atores, falaram da história também e agora depois dos trailers estou mais otimista e muito ansioso”.
Para ele, o filme deve fazer muito sucesso por seu próprio mérito e, mesmo se não der certo, vai atrair novos jogadores para a Blizzard: “A Blizzard não dá ponto sem nó, ela sabe que um filme como esse vai atrair milhares de novos jogadores”.
E você, está ansioso? Assim que vermos o filme vamos trazer a nossa crítica pra vocês.