Parasita: o triunfo do filme que até americanos aceitaram como o melhor
Produção fez história e levou para casa quatro Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original
Os americanos estão tão empolgados com Parasita, de Bong Joon-ho, como antes nunca estiveram com um filme de língua não inglesa. O sul-coreano faz tanto sucesso que até uma vitória no principal Oscar, o de Melhor Filme, já é uma proeza considerada. Até então, tal categoria jamais era pensada para um filme que não tivesse o inglês como língua oficial.
Um dos argumentos que reforçam a vitória do filme foi o prêmio concedido pelo sindicato dos atores, o SAG, que escolheu como melhor elenco do ano (correspondente a melhor filme) o de Parasita. É preciso lembrar que atores formam a maioria dos quase 9 mil votantes da Academia, o que abre uma possibilidade viável.
Desde o início da temporada de premiações (com o Globo de Ouro), Bong Joon-ho vem demonstrando um maior relaxamento. Naquela noite, ao receber o troféu concedido pela imprensa estrangeira que trabalha em Hollywood, ele agradeceu fazendo um alerta: que os americanos aceitassem melhor filmes legendados, pois teriam a chance de abrir uma janela para o mundo.
Sempre acompanhado de um intérprete, Bong Joon-ho foi, aos poucos, perdendo o receio, arriscando mais seu inglês, fazendo mais piadas. No encontro promovido pela Academia com todos os concorrentes da categoria de melhor produção internacional, ele arrastava uma pequena multidão por onde passava.
A menção de seu nome despertou gritos e aplausos. Ele, que preferiu tietar Pedro Almodóvar (aplaudiu de pé quando o espanhol foi chamado para o palco), vem repetindo um discurso mais cauteloso, mostrando não estar na onda de euforia, apesar de não negar sua satisfação.
“Muitos me perguntam como foi feito o filme, esperando, como resposta, histórias mirabolantes. Na verdade, foi tudo bem pensado, até mesmo o desenho do apartamento”, desdenha ele, na esperança de frear a empolgação. No entanto, Hollywood já adotou o sul-coreano, que fez história.
Parasita foi eleito pelo Mais Goiás como o Melhor Filme de 2019
Vencedores no Oscar
Parasita também venceu os prêmios de Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Internacional. Boon Joon-ho homenageou Martin Scorsese, e disse que, se a Academia o autorizasse, gostaria de compartilhar o prêmio com os demais diretores. O próprio diretor de O Irlandês emocionou-se quando o colega disse que havia estudado sua obra na universidade de cinema, e vencê-lo era algo que superava toda a sua expectativa.
Ao apresentar o Oscar de melhor ator, a vencedora do ano passado, Olivia Colman, disse que todos poderiam ganhar, mas teve de entregar a estatueta a Joaquin Phoenix, por Coringa, como era esperado. Ele fez um discurso político, falando de gênero, igualdade e meio ambiente, mas principalmente combatendo o egoísmo e promovendo a educação, a compaixão e a redenção.
Esculhambaram o Partido Democrata e a Academia, zoando a falta de indicados negros e mulheres. No tapete vermelho, Natalie Portman, que venceu o prêmio por Cisne Negro, em 2011, já usara um vestido com os nomes bordados de mulheres diretoras que ficaram de fora da disputa. A militância faz escola no prêmio da Academia.
E veio o primeiro prêmio da noite. Regina King anunciou o vencedor como melhor ator coadjuvante – não deu outra, e Brad Pitt subiu ao palco do Oscar para receber sua estatueta, por Era Uma Vez… em Hollywood. Brad colocou nas nuvens o diretor Quentin Tarantino e seu colega de elenco, Leonardo DiCaprio. Destacou a originalidade de Tarantino e disse que a indústria fica muito melhor com ele. Nos bastidores, relaxado, acrescentou – “Eu estava realmente nervoso sobre o que discursar Tenho alguns amigos engraçados que poderiam me ajudar, mas, naquele momento, tinha de ser algo realmente pessoal. Tive uma temporada muito boa de premiações.”
O Oscar de animação foi para Toy Story 4, bisando o prêmio do 3. O primeiro, que fez história, recebeu um Oscar especial para o diretor John Lasseter. Primeira surpresa da noite – o Oscar de roteiro original para Bong Joon-ho, por Parasita. Segunda – o Oscar de roteiro adaptado para Taika Waititi, por Jojo Rabbit. Scarlett Johansson saltou na poltrona e o roteirista, também ator e diretor do filme, deixou claro que não havia preparado nada, demorando um pouco para achar seu rumo.
O Oscar de documentário – o único prêmio com concorrente brasileiro, Democracia em Vertigem -, foi para Indústria Americana, produzido pelo casal Obama, Barack e Michelle, sobre um tema da maior atualidade. Chineses reabrem fábrica fechada em Ohio, mas as diferenças culturais terminam criando problemas.
Elegantíssimo, Mahershala Ali, duas vezes vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante, entregou o prêmio para a melhor atriz da categoria – Laura Dern, por História de Um Casamento. Fez um discurso emocionado, agradecendo ao pai, Bruce Dern.
Precedido de um clipe com cenas de filmes famosos em que canções fizeram história – Titanic, Ghost – Do Outro Lado da Vida, Negócio Arriscado, 8 Mile – Rua da Ilusão, etc. -, o Oscar da categoria foi para I’m Gonna Love Again, de Rocketman. Foi o segundo Oscar para Sir Elton John, após o de O Rei Leão, a animação.
A novidade deste ano é que as reduzidas piadas do início foram transformadas em esquetes cômicos na apresentação da maioria dos prêmios. Beirando o absurdo, os gatos humanoides de Cats provocaram o riso brigando com o microfone ao apresentar o Oscar de efeitos – para 1917. O humor deu a tônica e até Tom Hanks teve seu momento cômico ao anunciar a criação do Museu de Cinema de Los Angeles, que será inaugurado ainda este ano.
O filme com as mulheres mais bonitas e bem vestidas do ano – O Escândalo – recebeu o prêmio de melhor maquiagem e penteados. O de figurino foi para Adoráveis Mulheres, e também foi merecido. Penélope Cruz, talvez a mais bem vestida da noite, apresentou um clipe de grandes filmes internacionais, precedendo a vitória de Parasita.
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