DECLARAÇÃO

Pastor que desejou morte de Paulo Gustavo se manifesta: ‘Não foi a intenção’

Nas palavras de José Olímpio, o "dono" do ator seria o diabo pelo fato de Paulo ser gay e casado com um homem

(Foto: Reprodução Twitter)

O pastor José Olímpio da Silva Filho, da Igreja Assembleia de Deus de Alagoas, pediu desculpas em uma carta destinada ao ator e humorista Paulo Gustavo, 42, após desejar publicamente a morte do artista.

“Peço desculpa, pois nunca foi intenção do meu coração ferir, ofender ou machucar a nenhum dos ofendidos (que são aos milhares), a começar do ator Paulo Gustavo, que foi atingindo diretamente, passando por seus familiares, amigos, admiradores e muitos fãs, pois o mesmo é uma pessoa querida no mundo artístico”, escreveu o líder religioso.

Paulo Gustavo batalha pela vida há mais de um mês na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital da zona sul do Rio de Janeiro por causa de complicações da Covid-19. O ator está intubado e, segundo os últimos boletins médicos, o estado de saúde dele continua grave.

Na última quinta-feira (15), o pastor publicou uma foto de Paulo caracterizado para um personagem atrás de um crucifixo. Na legenda da foto, Olímpio escreveu: “Esse é o ator Paulo Gustavo que alguns estão pedindo orações e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si”.

Nas palavras de Olímpio, o “dono” do ator seria o diabo pelo fato de Paulo Gustavo ser gay e casado com outro homem, o dermatologista Thales Bretas – eles são pais de dois meninos.

Como um rastilho de pólvora, a manifestação do pastor causou revolta e motivou 30 entidades ligadas ao movimento LGBTQIA+ a repudiarem a atitude do líder religioso em um manifesto público. O Grupo Gay de Alagoas também disse à Folha que vai processar o pastor pelo crime de homofobia.

Passados quatro dias do episódio, José Olímpio afirmou estar arrependido pelo ato falho e exaltou a família e a própria história construída na Igreja para dizer que é uma pessoa bem-intencionada. “Se forem procurar falhas e imperfeições em mim, vão encontrar muitas, mas, malignas intenções, creio que não encontrarão”, disse.

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O pastor explicou que a sua intenção era defender a honra “de meu Deus”. “A minha insensatez foi tentar defender a honra de meu Deus, muitas vezes ultrajada de muitos modos e de muitas maneiras e por muitas pessoas, esquecendo-me eu, de que Deus, o Criador do céu e da terra não precisa de quem defenda a sua honra”, afirma.

E continuou: “quão tolo eu fui! Por ter escrito a sandice que escrevi, mesmo sem no meu íntimo desejar a morte de ninguém, pois apesar de minhas fraquezas, sou um cristão convicto”.

Ao final da carta enviada ao ator, o pastor pediu perdão a Paulo Gustavo mesmo “sem ter cometido o pecado de desejar verdadeiramente a morte de ninguém”.

Numa sequência de outros perdões, o líder religioso de Alagoas se dirigiu à própria família ao tê-la colocado “numa situação vexatória”, e também ao presidente da Igreja Assembleia de Deus “que sempre me ensinou e ensina a todos os obreiros a não perder tempo nas redes sociais e nem exporem-se nas mesmas. Se tivesse dado ouvidos aos seus ensinamentos, não teria caído nessa situação”, escreveu.

Nildo Correia, presidente do Grupo Gay de Alagoas, havia dito à Folha neste domingo (18), que também encaminharia um ofício à direção da Assembleia de Deus nacional e a do estado de Alagoas sobre a conduta de Olímpio. “Acreditamos que a instituição não deve comungar com a postura dele como membro”, afirmou.

Na carta em que pede desculpas a Paulo Gustavo, Olímpio também disse ter colocado as funções que exercia à disposição para análise da Mesa Diretora da Convenção dos Ministros da Igreja Assembleia de Deus no estado de Alagoas.

“Estou solicitando ao Conselho Consultivo e de Ética da mesma, através de documento protocolado na secretaria, a análise do caso em apreço. Ponho-me a disposição do mesmo para que me sejam aplicadas as penas previstas nas normas estatutárias e regimentais de minha Convenção Estadual, de acordo com o que este douto Conselho julga”, disse o pastor.

Em uma segunda carta enviada ao pastor Severino Rodrigues da Silva, presidente da Assembleia de Deus de Alagoas, Olímpio disse que estava colocando as funções que ocupava na Igreja porque a postagem que fez sobre Paulo Gustavo “vem causando grande dano à minha pessoa, à minha família, à minha Igreja e à minha Convenção, entes estes que nada têm a ver com minhas atitudes pessoais”, explicou.

“Notifico humildemente que aceito a punição que me for imposta, dentre as que estão previstas no ordenamento estatutário e regimental da nossa Convenção”.

Pastor que desejou morte de Paulo Gustavo se manifesta: 'Não foi a intenção'
(Foto: Reprodução Instagram)

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Leia a íntegra da carta de José Olímpio para o ator Paulo Gustavo:

Mediante esta, quero apresentar-me ao publico com uma nota dupla: primeiro, para pedir desculpas, pois o pedido de desculpa deve ocorrer quando se cometer um ato falho sem a intenção de ofender ao atingido.

Por isto, em primeiro lugar peço desculpas, pois, quem me conhece, sabe que do meu intimo jamais eu ofenderia propositalmente alguém, estou dessa idade e por aonde passei foi construindo amigos e servindo a quem precisa com o que estar ao meu alcance.

Para saber quem é a pessoa deve-se buscar a começar na família, na vizinhança onde se criou e viveu e na igreja onde é membro. Se forem procurar falhas e imperfeições em mim, vão encontrar muitas, mas, malignas intenções, creio que não encontrarão.

Considerando esse preâmbulo peço DESCULPA, pois nunca foi intenção do meu coração ferir, ofender ou machucar a nenhum dos ofendidos (que são aos milhares), a começar do ator Paulo Gustavo, que foi atingindo diretamente, passando por seus familiares, amigos, admiradores e muitos fãs, pois o mesmo é uma pessoa querida no mundo artístico.

A minha insensatez foi tentar defender a honra de meu Deus, muitas vezes ultrajada de muitos modos e de muitas maneiras e por muitas pessoas, esquecendo-me eu, de que Deus, o Criador do céu e da terra não precisa de quem defenda a sua honra. Quão tolo eu fui! Por ter escrito a sandice que escrevi, mesmo sem no meu intimo desejar a morte de ninguém, pois apesar de minhas fraquezas, sou um cristão convicto.

Peço mil vezes a todos: DESCULPAS, DESCULPAS, DESCULPAS. Mas, mesmo sem ter cometido no meu intimo o pecado de desejar verdadeiramente a morte de ninguém, eu também, quero pedir PERDÃO.

Perdão aos familiares, amigos, admiradores e fãs, porque os feri e principalmente ao ator Paulo Gustavo. Perdão a minha mãe, irmãos, cunhados, a minha esposa e aos meus três filhos, um jovem e gêmeos adolescentes, por coloca-los em uma situação tão vexatória.

Perdão a memoria de meu pai, que me ensinou a ser um cidadão de bem. Perdão aos meus amigos que ao longo dos anos têm posto tanta fé em mim. Perdão a minha Igreja na qual nasci e me criei, que desde a minha infância, na Escola Dominical, tem me ensinado o caminho reto.

Perdão aos pastores de todo o Brasil, que Deus me deu a graça de conhecer, ama-los e ser por eles amado. Perdão aos meus companheiros da briosa COMADAL, por ter-lhes causado este desconforto.

Perdão as mui dignas Mesas Diretoras da IGREJA e da COMADAL, que me deram um voto de confiança, consagrando-me ao Ministério.

Perdão ao meu pastor presidente, que sempre me ensinou e ensina a todos os obreiros a não perder tempo nas redes sociais e nem exporem-se nas mesmas. Se tivesse dado ouvidos aos seus ensinamentos, não teria caído nessa situação.

Por fim e principalmente, quero pedir PERDÃO ao meu Deus, pois por minha causa o seu nome está sendo blasfemado entre os gentios (Rom 2:24), sem que Ele, nem sua Palavra, nem sua Igreja tenham culpa alguma.

Evidenciando o reconhecimento do meu erro, junto a esta nota, dou a conhecer a quem possa interessar, que voluntariamente pus minhas funções à disposição da Mesa Diretora da Convenção dos Ministros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Estado de Alagoas – COMADAL e estou solicitando ao Conselho Consultivo e de Ética da mesma, através de documento protocolado na secretaria, a analise do caso em apreço, ponho-me a disposição do mesmo para que me seja aplicada as penas previstas nas normas estatutárias e regimentais de minha Convenção Estadual, de acordo com o que este douto Conselho julgar. Termino rogando as orações por mim e por minha família.