Cinema

Paulistas: longa goiano faz sua estreia em mostra

Filme dirigido por Daniel Nolasco vai fazer sua estreia por aqui durante a mostra O Amor, a Morte e as Paixões

O cineasta goiano Daniel Nolasco estreia seu novo longa, Paulistas, na noite do dia 21 de fevereiro durante a programação da mostra O Amor, a Morte e as Paixões. O filme fala sobre a região de Paulistas, no sudeste goiano, próximo à Catalão.

Acompanhando três irmãos: Samuel, Vinícius e Rafael, ele conta a história do lugar que perdeu todos os seus jovens para Catalão e para cidades maiores e que foi severamente impactado pelo crescimento do agronegócio e pela construção da barragem da Serra do Facão.

“Eu sou do Paulistas, nasci lá, passei boa parte da minha infância lá então acompanhei a vida toda a questão do êxodo rural na região especialmente para a cidade de Catalão, que é a maior mais próxima”, conta Nolasco.

Essa vivência lhe despertou o desejo de contar essa história, especialmente em 2010, quando a construção da barragem intensificou o êxodo. “Já tinha a questão do agronegócio, associada com a construção da barragem. Então essas duas coisas aconteceram no mesmo lugar e tornou um pouco difícil a vida lá. Foi aí que eu tive o interesse de fazer a pesquisa lá e registrar essas mudanças”.

No vídeo, além dos três jovens, é possível ver várias pessoas idosas e de meia idade tocando suas vidas e cuidando da roça. Gente bastante humilde em frente às câmeras que, conta o diretor, são em grande parte seus parentes de 1º e 2º grau.

Essa naturalidade com a câmera não veio pronta: em 2013, o diretor gravou por lá um curta-metragem, Febre da Madeira, que chegou a ser exibido no Goiânia Mostra Curtas e na mostra ABD do FICA.

“Fizemos esse primeiro contato até pra ver como seria essa questão de levar essa câmera para lá”, conta Nolasco, “acho que esse processo de filmar o curta antes ajudou muito, porque quando a gente foi filmar o longa, eles já sabiam mais ou menos como eram os processos”.

Agora, com os jovens, acostumados com o celular, ele conta que a experiência foi um pouco diferente: “eles tinham muita noção de que estavam sendo filmados, mesmo de fazer uma certa performance pra câmera e isso tá presente no filme”.

O filme foi rodado em duas partes, levando cerca de 40 dias no local com uma equipe de apenas três pessoas. O diretor acredita que a experiência neste formato ajudou a criar um laço, uma certa intimidade com os personagens à frente da câmera.

O longa também é muito bonito, cheio de mega-planos e uma montagem inteligente, ligando uma sequência na outra, abrindo mão de depoimentos e narração em voz.

“Uma coisa que a gente conversou muito antes de filmar foi sobre como filmar o Cerrado. É uma paisagem que não foi tão filmada assim”, disse o diretor. Portanto, “o Cerrado é uma paisagem que pode ser muito bonita, mas que ao mesmo tempo é muito seca. Ele carrega essa contradição de uma certa aspereza e uma certa beleza. Uma coisa que a gente sempre evitou era filmar só paisagem: sempre tinha um personagem em cena, nem que fosse um mega plano-geral sempre ter um personagem fazendo alguma ação”.

Ele também queria escapar do lugar comum: “Filmar um pôr-do-sol no Cerrado é uma coisa estonteante, mas a gente procurou evitar esse caminho de só mostrar a paisagem porque é um caminho que muita gente faz. Queríamos mostrar como aqueles personagens, aqueles corpos, estão inseridos na paisagem”.

Já a escolha de não usar narração e depoimentos, conta o diretor, veio desde o início do projeto. O que por si só traz seus próprios desafios: como contar esta história? “ No final das contas, os depoimentos e a narração são recursos que ajudam muito a explicar e a gente tinha algumas questões: como falar da hidrelétrica sem mostrar a hidrelétrica mesmo, como explicar que aquele rio foi represado recentemente e como isso afetou a população”.

A solução para isso tinha que ser planos e montagens inteligentes que ligassem e formassem uma narrativa através das imagens na tela, o que não foi um processo fácil.

Para conferir o resultado de Paulistas, basta ir ao cinema Lumière do shopping Bougainville às 20h30 do dia 21/02. No dia seguinte, ele faz outra grande estreia, mas em outra plataforma: através da Sessão Vitrine Petrobrás.