Phum Shang: ribeirinhos lutando pela sobrevivência
Filme indiano retrata o drama dos pescadores do lago Loktak que precisam ser evacuados por causa da poluição
Uma das comunidades mais tradicionais de Manipur, estado no norte da Índia, é a dos pescadores do lago Loktak. Vivendo em choupanas flutuantes sobre as águas, eles estão por lá há várias gerações. Tudo isto mudou quando, em 2011, o governo central indiano decidiu que eles deveriam ser despejados do lago com uma indenização de apenas 40 mil rúpias, cerca de R$ 1.932 por toda uma casa e uma vida.
Alguns viarejos aceitaram, outros resolveram resistir. O documentário Phum Shang, do cineasta de Manipur, Haoban Paban Kumar, narra a luta de um desses vilarejos contra o governo que aos poucos vai chegando e destruindo todas as choupanas. Sem ter para onde ir, os pescadores resistem em uma luta inglória.
Kumar, documentarista de longa data, conta que o filme surgiu por acaso: “Eu sou de Manipur, sou da região, mas estava filmando meu primeiro longa lá perto quando ouvi falar do que estava acontecendo”, relata o diretor, que foi à região para pesquisar locações. “Lá, eu vi vilarejos inteiros destruídos. Foi muito chocante e decidi fazer o documentário primeiro para entender estas pessoas e entender o que estava acontecendo para depois fazer o longa, que estou quase terminando”.
O longa, ainda não finalizado, é ficcionalizado, mas o tema do lago e dos despejos permanece sendo central. De 2011 pra cá, Kumar conta que apenas uma vila restou e somente porque está no centro do lago, onde o acesso é mais difícil.
Todo o processo de Phum Shang levou três anos e gerou um relacionamento tão forte com a comunidade que ele continua fazendo filmagens na região até hoje, mas tudo isto teve que ser construído. “No início eles estavam muito relutantes em relação às filmagens. Estavam desconfiados. Muitos cineastas iam lá apenas para explorar, filmar o melodrama, a tragédia, alguns diretores fazem isso. Eu tive que convencê-los e ganhar a confiança deles. Mas faço documentários há muito tempo e a confiança tem que ser construída antes de você começar a filmar, senão não há filme”.
Kumar está muito satisfeito com a recepção do filme: “Na Índia ele venceu praticamente todos os prêmios principais de cinema, incluindo o do maior festival de documentários da Ásia, que é o Mumbai International Film Festival”. Além disso, ele venceu melhor documentário no festival de Leipzig, na Alemanha, já fez um tour por Hamburgo, passou pela França e em outros festivas na Europa.
“Mas esta é a primeira vez que eu venho e que ele é exibido na América do Sul”, revelou, “Estou adorando, a comida é muito parecida com a nossa, sem arroz nós não sobrevivemos também (risos). Só que nós comemos mais peixes”. Porém, ele não vai poder estender sua estadia no Brasil: o diretor está muito empolgado com o seu longa e disse estar com a agenda super apertada para conseguir lançá-lo até o final do ano.
Quanto aos pescadores do lago Loktak, Kumar disse que um novo governo central, favorável aos pescadores, foi eleito, o que deixou a situação um pouco mais estável: “Ao meu ver, eles vão ter que sair de lá, porque o lago realmente está muito poluído. Mas culpar algumas centenas de pescadores por isso é um absurdo, assim como é despejá-los. O certo seria que o governo conversasse e negociasse e todos chegassem a um meio termo”.