Porque a culpa é da Marvel!
Uma reflexão sobre a cultura de teorias e altas expectativas da atualidade
Com “Blade” e depois, principalmente, com “X-Men” a Marvel foi responsável por dar início ao ressurgimento dos super-heróis no cinema. Ou melhor: foi a responsável por solidificar esta cultura que antes só tinha Batman e Superman da DC como os principais exemplos. Em 2008, a Marvel se lançou como estúdio e deu início aos planos de criar um universo compartilhado de personagens na telona com “Homem de Ferro”. Foi uma aposta e tanto, já que o estúdio não tinha a Disney como dona, nem fundos caso o filme estrelado por Robert Downey Jr. fosse um fracasso. Felizmente, tudo deu certo e hoje a Marvel é a maior responsável por lucros e demandas no mercado audiovisual mundial.
Mas este texto não é para falar sobre a história da Marvel, muito menos sobre seus filmes em particular. Este texto é para falar como a empresa criou uma cultura de fidelidade e promoção gratuita através de suas propriedades intelectuais. Independente da qualidade dos filmes ou se a Marvel é cinema ou não, a questão aqui é como a cada novo projeto a empresa é capaz de mobilizar seus fãs para manter a chama do conteúdo, e interesse, acesa através de análises, teorias e cada vez mais especulações sobre o que irá ocorrer nos filmes futuros.
Se por um lado é maravilhoso a facilidade proporcionada em discutir o material, e conversar com centenas de pessoas pelo mundo sobre as possibilidades da história de determinado projeto, a Marvel criou um monstro sem controle onde ela têm se tornado a cada dia mais refém. Claro, temos que tirar o chapéu pois se o conteúdo não fosse bom, divertido ou agradável para o consumidor, a empresa não chegaria tão longe. Mas hoje, seus roteiristas vivem em uma constante linha tênue carregada de preocupações que visam não desagradar o público – principalmente uma parcela de fãs mais radicais – com o inesperado. Nada precisa ser tudo igual os quadrinhos, os próprios quadrinhos são cheios de ideias cafonas e sem sentido. E se na mídia física o autor tem liberdade para expor ideias novas, no cinema a ideia precisa valer também para o realizar.
Amo os filmes da Marvel, amo os filmes da DC, mas amo também a possibilidade de ser surpreendido sem ter excesso de trailers, ou informações que entreguem todo o potencial da narrativa. Por exemplo: com o trailer recém lançado do próximo Homem-Aranha, a internet já confirmou (nada oficial) que teremos a presença de Tobey Maguire e Andrew Garfield no filme, já criaram toda a história do Aranhaverso na cabeça e solidificaram uma expectativa para o longa que se algo for mudado minimamente já será motivo para decepção. E isso tudo é culpa da própria Marvel, e não somente dos fãs.
Principalmente com este recente trailer, a Marvel sabe vender o peixe e entende que hoje muitos irão destrinchar segundo por segundo de cada vídeo da empresa que for lançado. No trailer de “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” ele mostram o Dr. Octopus do Alfred Molina, a bomba do Duende Verde vivido por Willem Dafoe (e sua risada icônica), e outros pequenos flertes que estão jogando na cara da plateia que, sim, nós teremos o Aranhaverso no filme e todas as peças estão colocadas para receber os outros dois atores que interpretaram o Homem-Aranha no cinema. Não faz sentido não acontecer, pois a própria Marvel está alimentando este sentimento. Não faz sentido e seria um tiro no pé a esta altura do jogo Tobey Maguire e Andrew Garfield não dar as caras, pois caso fosse, a Marvel não faria questão de trabalhar o multiverso no filme do personagem.
Estou empolgado em vivenciar este momento onde teremos os três atores juntos em cena. Minha preocupação, até com os meus próprios sentimentos, é estar criando uma expectativa tão grande cujo tombo poderá ser doloroso. Particularmente, gostaria que a Marvel não mostrasse mais nada sobre possíveis vilões ou aparições especiais do filme, e guardasse as surpresas para a sala escura onde deve ser o lugar ideal para espantos, arrepios e sorrisos – e não em um trailer.