Literatura

Raduan Nassar chama governo Temer de “repressor” ao receber prêmio Camões

O escritor Raduan Nassar, autor de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera, recebeu na manhã de…

O escritor Raduan Nassar, autor de Lavoura ArcaicaUm Copo de Cólera, recebeu na manhã de sexta-feira (17) o prêmio Camões de Literatura. A premiação conjunta entre Brasil e Portugal reconhece os maiores nomes da Literatura em Língua Portuguesa.

Além da honraria, Nassar, notoriamente recluso, aproveitou a oportunidade para criticar o governo de Michel Temer na presença de Roberto Freire, ministro da Cultura.

Segundo reportagem do El País Brasil, ele chamou o governo Temer de “repressor” e disse que o Brasil passa por tempos “sombrios, muito sombrios”. Ele também citou alguns episódios, como todo o circo ao redor de Alexandre de Moraes e a nomeação de Moreira Franco.

Ainda de acordo com a reportagem, o discurso do homenageado teria tirado do sério o ministro da cultura, que abriu mão do seu discurso preparado para chamar a fala de Nassar de “lamentável”.

No meio disso tudo ainda estavam o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, e a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo, pegos no fogo cruzado da troca de farpas.

“O Brasil de hoje assiste perplexo a algumas pessoas da nossa geração, que têm o privilégio de dar exemplos e que viveram um efetivo golpe nos anos 60 do século passado, e que dão exatamente o inverso. É fácil fazer protesto em momentos de governo democrático como o atual. Quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura!”, teria dito o ministro, segundo o El País.

Em resposta, Freire teria recebido algumas vaias. O jornal destaca que o prêmio foi concedido à Nassar antes do impeachment e que a demora da entrega pode ter sido motivada por medo de uma crítica política por parte do autor. Raduan já havia escrito extenso editorial na Folha de São Paulo em que chamou o governo Temer de ilegítimo.

[ATUALIZADO]

Em nota, o Ministério da Cultura publicou uma resposta oficial, divulgada pela Folha de São Paulo. Nela, o MinC culpa nominalmente os partidários do PT pelos protestos na premiação:

O Ministério da Cultura lamenta, mais uma vez, a prática do Partido dos Trabalhadores em aparelhar órgãos públicos e organizar ataques para tentar desestabilizar o processo democrático. Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões de Literatura, em São Paulo, o ministro da Cultura, Roberto Freire, teve sua fala interrompida por manifestantes partidários, sinal de desrespeito à premiação oficial dos governos de Brasil e Portugal.

Considerada a mais importante distinção da Língua Portuguesa, o prêmio concedeu 100 mil euros (sendo 50 mil euros arcados pelo Ministério da Cultura) ao escritor brasileiro Raduan Nassar.

O agraciado foi respeitado por todos durante sua fala, ao contrário do que ocorreu com o ministro da Cultura, interrompido de forma agressiva. Apesar de ser um adversário político do governo, Raduan recebeu o prêmio, legitimando sua importância. Uma premiação literária com essa dimensão não merecia esse comportamento intolerante de alguns, que tentaram partidarizar o evento.