HISTÓRIA

Relembre as novelas de sucesso de Gilberto Braga

Gilberto Braga, que faleceu na última terça-feira (26/10), desenvolveu diversos sucessos para a TV aberta…

Gilberto Braga, que faleceu na última terça-feira (26/10), desenvolveu diversos sucessos para a TV aberta e alguns até pararam o Brasil. O autor escreveu tramas de todos os gêneros. De clássica à contemporânea. E, com isso, conseguiu também fazer personagens inesquecíveis.

Braga também tinha como marca sempre colocar um “quem matou” como suspense das suas tramas. O principal deles foi o de Vale Tudo (1988), onde ele conseguiu parar o Brasil para identificar o assassino de Odete Roitman, uma das piores (ou seria melhores?) vilãs da teledramaturgia brasileira.

Relembre abaixo alguns sucessos de Gilberto Braga

A Escrava Isaura (1976)

Gilberto Braga conseguiu prender milhares de telespectadores em frente à TV para trazer uma trama que retratava a luta abolicionista no Brasil e paixão doentia de um senhor por uma escrava branca, interpretada por Lucélia Santos.

A história traz Isaura, que se tornou órfã de mãe após o parto e, até então, não conhecia o pai. Ela foi cuidada por Ester, mas esta, por sua vez, também morre, e o filho dela, Leôncio (Rubens de Falco) toma posse dos bens da família, inclusive de Isaura.

A escrava é assediada e maltratada de todas as maneiras pelo seu senhor. Até que ela conhece o pai, Miguel, e decide fugir com ele. Ela assume a identidade de Elvira e conhece o jovem abolicionista Álvaro (Edwin Luisi).

A trama se encerra com a morte de Leôncio após todos os bens dele ser arrendados por Álvaro, inclusive Isaura. Por anos, A Escrava Isaura foi a trama mais vendida da Globo.

O sucesso era tamanha que  alcançou países do então bloco comunista. Em Cuba, por exemplo, o racionamento de energia chegou a ser suspenso para que os telespectadores não perdessem os capítulos. Na China, Lucélia Santos ganhou o Prêmio Águia de Ouro, com os votos de cerca de 300 milhões de pessoas – foi a primeira vez que uma atriz estrangeira recebeu um prêmio no país.

Lucélia Santos e Edwin Luisi ganharam os telespectadores com a história da escrava branca (Foto: divulgação – Rede Globo)

Dancin’ Days (1978)

A estreia de Braga do horário nobre foi em grande estilo. Dancin’ Days abusava das cores e de uma trilha sonora embalada por sucessos das discotecas, casas de danças que foram febre na década de 1970.

A trama girava em torno da briga de duas irmãs: Júlia Matos (Sônia Braga), que era uma ex-presidiária, e a socialite Yolanda Pratini (Joana Fomm). Nesta obra, Braga inseriu o debate entre os valores da classe média e das elites urbanas, mais uma das marcas das obras dele.

Júlia é condenada a 22 anos de prisão por atropelar um guarda-noturno. Após cumprir metade da pena, ela sai da cadeia e tenta se livrar do estigma de ex-presidiária. O primeiro passo é conquistar a filha, Marisa (Gloria Pires).

A menina foi criada pela tia Yolanda enquanto a mãe estava na cadeia e, com receio de perder a sobrinha, ela dificulta a aproximação entre as duas. Júlia conhece o diplomata Cacá (Antônio Fagundes), mas os dois vivem um romance atribulado no início da trama.

Júlia chega a ser presa novamente, mas logo retoma à liberdade e se casa com Ubirajara (Ary Fontoura), um homem rico e que é completamente apaixonado por ela. A reviravolta da trama começa ai, com Júlia sendo uma nova mulher após retornar de uma viagem que fizera para Europa, completamente mudada.

Cena clássica de Júlia (Sônia Braga) dançando na discoteca, que viraram febre durante a novela
Cena clássica de Júlia (Sônia Braga) dançando na discoteca, que viraram febre durante a novela (Foto: arquivo – TV Globo)

A novela ditou moda com as meias coloridas de lurex. Ela conseguiu promover produtos como água-de-colônia e sandália de salto fino.

No papel da vilã da trama, Joana Fomm foi muito hostilizada nas ruas e recebia até propostas indecorosas por telefone. Gilberto confessou que, na época da novela, a cozinheira da sua casa bateu o telefone na cara da atriz.

“Ela possui um arsenal de informações que teoricamente a impediriam de fazer essa confusão. Ela me vê escrever a novela, dá uma olhadinha no final do capítulo às escondidas, conversa comigo”, contou o autor ao Memória Globo.

“No entanto, quando tentei sugerir que a Joana não tinha nada a ver com a Yolanda, ela respondeu: ‘Sei que o senhor é que escreve aquilo tudo, não sou burra. Bati o telefone outro dia por causa da cara de nojenta que ela fez quando a Júlia entrou no camburão da polícia. A cara não foi o senhor que escreveu, era dela mesmo.’”

Vale Tudo (1988)

Até onde vale a pena ser honesto num país marcado pela corrupção? Esta é a premissa que permeia o enredo de uma das novelas mais atemporais da televisão brasileira: Vale Tudo.

Ao todo, foram 204 capítulos que mostraram os conflitos entre honestidade e falta de ética em meio de alguns momentos históricos pelos quais o Brasil passava. Com isso, a novela caiu rapidamente no gosto do público.

A novela caiu na graça do público ao trazer personagens marcantes como a batalhadora Raquel (Regina Duarte), o ambicioso Ivan (Antônio Fagundes), o bondoso Afonso (Cássio Gabus Mendes), a alcoólatra Heleninha (Renata Sorrah), a sensata Celina (Natália Timberg) e o combo master de vilãs da teledramaturgia brasileira: Maria de Fátima (Glória Pires) e Odete Roitman (Beatriz Segall).

Com um discurso ácido, Gilberto conseguiu fazer com que o Brasil odiasse ambas. Diante do sucesso, ele decidiu assassinar Odete na trama para plantar uma pergunta que causaria um verdadeiro frisson: Quem matou Odete Roitman?

Relembre as principais novelas de Gilberto Braga
Vilã Odete Roitman (Beatriz Segall) foi a grande vilã de ‘Vale Tudo’ e gerou o mistério central da trama (Foto: Reprodução/Rede Globo)

A pergunta saiu das telinhas e se tornou pautas de conversas em todo o país e até tema de concurso para quem acertasse o nome do assassino.

O números traduzem o sucesso de Vale Tudo. A trama teve média geral de 58 pontos, isso colocou como a 8ª novela mais vista da história da Rede Globo. No capítulo em que Odete Roitman é morta, a audiência foi de 81 pontos. E isso era véspera de Natal de 1988. São números impossíveis nos dias atuais.

A trama também acertou na trilha sonora. A abertura teve a faixa Brasil, escrita por CazuzaNilo Romero e George Israel, e sendo interpretada por Gal Costa. Um tiro certeiro, já que a letra da canção retrata muito bem a mensagem da novela.

Relembre as melhores cenas da novela Vale Tudo, que está na Globoplay
Glória Pires brilhou como a filha desnaturada Maria de Fátima (Foto: Divulgação/Rede Globo)

Celebridade (2003)

A trama que discute o mundo da fama trouxe a rivalidade entre duas mulheres: Maria Clara Diniz (Malu Mader) e Laura Prudente da Costa (Claudia Abreu), grande vilã da história.
Maria Clara é dona da produtora Mello Diniz. Laura consegue o emprego no lugar e passa a conhecer todos os passos da mocinha. Porém, ela apenas não quer tomar tudo dela, como se tornar uma nova Maria Clara.
Para destruir a rival, ela conta com a ajuda de Marcos (Márcio Garcia), o famoso michê.
O motivo de tanto ódio é que Laura é filha da verdadeira musa da canção que fez de Maria Clara uma mulher rica e famosa. Laura e a mãe amargaram uma vida miserável enquanto a mocinha acreditava que a música Musa de Verão teria sido composta por seu ex-noivo Wagner em sua homenagem.
Celebridade também contava com outros personagens marcantes como Darlene Sampaio (Deborah Secco) e Jaqueline Joy (Juliana Paes) que faziam de tudo para serem famosas e promoviam altas cenas de humor na trama.
A novela entrou para a história como a maior surra entre protagonista e antagonista da história da TV Globo. A cena em que Maria Clara bate em Laura dentro do banheiro ainda é lembrada até hoje pelos amantes das telenovelas. Foram mais de 30 tapas desferidos.

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O autor também colocou o suspense com o “quem matou” na novela. A vítima foi Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana) que foi assassinado por Laura após descobrir que era o verdadeiro pai de Maria Clara.
A novela conseguiu reunir um grande  número de participações especiais de pessoas famosas como o escritor João Ubaldo Ribeiro, os cantores Marina Lima, Rita Lee, Erasmo Carlos, Jorge Aragão, Emilio Santiago, Fernanda Abreu, Fréjat, Lenine, Marcos Valle, Gabriel O Pensador, Ed Motta, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Mart´Nália, Neguinho da Beija-Flor, Beth Carvalho, os atores Fernanda Montenegro, Edson Celulari, Claudia Raia e Norma Bengell, o autor Silvio de Abreu, o cineasta Cacá Diegues, o empresário Ricardo Amaral e sua mulher Gisela, Lucinha Araújo, o dançarino Carlinhos de Jesus, o músico Wagner Tiso, os ex-jogadores de futebol Zico e Pelé, o cirurgião Ivo Pitanguy, o empresário Helcius Pitanguy, Susana Werner, entre outros artistas e esportistas; além de três participantes da quarta edição do Big Brother Brasil: Solange, Thiago e a ganhadora Cida, transformados em celebridades instantâneas por conta do programa.

A cantora canadense Alanis Morissette também fez uma participação em Celebridade. Em passagem pelo Brasil, ela gravou uma cena rápida em que conversa brevemente com as personagens de Mallu Mader, Júlia Lemmertz e Paulo Vilhena.

Em entrevista ao G1 no ano passado, Alanis disse que a experiência foi “fantástica”. “Qualquer coisa que seja meio incomum, constrangedor, eu sempre me ofereço para participar. [Risos]”.

Alanis Morissette in a Brazilian soap opera

Paraíso Tropical (2007)

Gilberto Braga quis explorar o antagonismo entre as gêmeas Paula e Taís, que foram interpretadas por Alessandra Negrini. Uma boa e outra má. A história se passava no bairro de Copacabana, que quase foi o nome da novela. Atualmente, Paraíso Tropical é reexibida pelo Viva.
Paula e Taís se conhecem no decorrer da trama. A cena do encontro das duas é uma das mais bem escritas na teledramaturgia. Taís é atropelada na frente do Hotel Duvivier, onde passa boa parte da trama, ao ver uma pessoa idêntica a ela que, até então, ela não conhecia.

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Outro vilão que movimenta a trama é Olavo Novais (Wagner Moura), que faz tudo para que Daniel (Fábio Assunção) não assuma a presidência do Grupo Cavalcanti). Ao lado da prostituta Bebel (Camila Pitanga), Olavo protagonizou cenas divertidíssimas. Camila, inclusive, deu um tom certo para Bebel, principalmente pela “catiguria” dela e pela preferência na “cueca maneira” de Olavo, que a chamava de “cachorra”. O casal foi o grande destaque da trama.

Olavo e Bebel ganharam o público com a química de Wagner Moura e Camila Pitanga
Olavo e Bebel ganharam o público com a química de Wagner Moura e Camila Pitanga (Foto: divulgação – Rede Globo)
Gilberto também retratou a homossexualidade sem preconceito, embates em relacionamentos e, como não poderia faltar, um “quem matou”.
Taís Grimaldi foi morta no capítulo 154 e foram 24 capítulos para se descobrir quem foi o grande assassino: Olavo Novais. A morte dela não estava prevista, mas ocorreu pela crise que o folhetim passou no início e para justificar a relação conturbada entre Ivan (Bruno Gagliasso), Olavo e Marion (Vera Holtz)
A novela passou por algumas mudanças no período de preparação: Paula e Taís foram escritas para Cláudia Abreu, que descobriu que estava grávida do segundo filho e teve que sair da trama.
Em entrevista, Braga afirmou que não tinha escrito os papéis para Alessandra, mas que eles eram para ela. Olavo e Bebel seriam interpretados por Mariana Ximenes e Selton Mello.
Renée de Vielmond foi convidada pelo próprio autor para estar no folhetim. Este, inclusive, foi o último em que ela apareceu, já que decidiu cursar psicologia.
A novela foi muito premiada no ano de 2008. E chegou a ser indicada ao Emmy Internacional. Diferentemente do que muitos veículos anunciaram no dia da morte de Braga, Paraíso Tropical não foi a grande vencedora do prêmio e sim a novela árabe The Invasion Igtiyah, da Jordânia. A primeira novela brasileira vencedora do Emmy Internacional foi Caminho das Índias (2009), escrita por Glória Perez.