ACUSAÇÃO

Shantal diz que médico Renato Kalil indicou abortivo para acelerar parto

A influenciadora Shantal Verdelho passou por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico…

A influenciadora Shantal Verdelho passou por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal), na terça (21), para averiguar se o procedimento realizado pelo obstetra Renato Kalil durante o parto de sua filha, em setembro, acarretou lesão corporal na vagina.

Shantal acusa o médico, considerado referência na obstetrícia brasileira e famoso por fazer partos de celebridades, de violência obstétrica.

A perícia irá apurar se as manobras que o obstetra fez durante o parto, consideradas inadequadas, provocaram lesão vaginal na influenciadora.

Kalil está sendo investigado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP) após virem à tona áudios e o trecho de um vídeo gravado pelo marido de Shantal, Mateus Verdelho, mostrando o médico gritando e falando palavrões na hora do parto da influenciadora ocorrido em setembro, no Hospital São Luiz. Em uma das mensagens ele diz que Shantal ficou “arregaçada”, porque não quis fazer uma episiotomia —procedimento em que o períneo da mulher é cortado.

A influenciadora diz que o médico praticou em seu parto a chamada manobra de Kristeller, prática que consiste em pressionar a barriga da gestante para empurrar o bebê. O mecanismo, contraindicado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, pode comprometer a saúde da mãe e do bebê.

Shantal, que não tem se pronunciado, decidiu formalizar a acusação contra Renato Kalil e prestou depoimento à polícia na sexta (17), em SP, para relatar os episódios de violência obstétrica que afirma ter sofrido.

A paciente acusa o ginecologista de insistir para que ela fizesse uso do medicamento abortivo Misoprostol para acelerar o trabalho de parto quando ela estava com 40 semanas de gestação.

O Misoprostol tem controle especial e só pode ser administrado em ambiente hospitalar, segundo determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Seu uso é contraindicado para mulheres que já tenham feito cesárea, caso de Shantal, que já era mãe de Filippo, 2.

Shantal afirma à delegada que não aceitou fazer uso da droga após pesquisar a literatura médica e consultar outra obstetra e sua fisioterapeuta pélvica. Ambas teriam dito que a influenciadora poderia correr risco de vida. Elas serão ouvidas pela polícia nesta semana.

O São Luiz, onde o parto de Shantal foi realizado, diz que o misoprostol é de uso intra-hospitalar e que só pode ser prescrito por médicos que sejam cadastrados e façam parte do corpo clínico do hospital. E que apenas médicos e enfermeiros podem administrá-lo, desde que haja consentimento da paciente.

Procurado, o advogado de Shantal, Sergei Cobra Arbex, diz que o processo corre sob sigilo e que não poderia comentar o conteúdo do depoimento. “Esperamos que tudo seja investigado e que a justiça seja feita”, afirma.

Renato Kalil nega as acusações. Ele afirma que o parto de Shantal ocorreu sem “qualquer intercorrência” e que o vídeo foi editado, com frases retiradas de contexto.

Sobre as acusações feitas por Shantal em depoimento à polícia, o advogado de Kalil, Celso Vilardi, diz, em nota, que as condutas do médico são “pautadas pelas boas práticas” e seguem integralmente os protocolos técnicos vigentes. E que “por respeito ao obrigatório sigilo profissional e por não ter tido acesso ao inquérito” não poderá responder aos questionamentos da coluna.

“Dr. Kalil aguarda com tranquilidade o avanço das investigações, quando poderá ser ouvido e comprovar a lisura dos procedimentos adotados”, diz.

NOVAS DENÚNCIAS

O vazamento e a repercussão do caso de Shantal levaram outras mulheres a se pronunciarem sobre episódios inadequados, machistas ou de assédio moral que teriam sido protagonizados por Renato Kalil. Os hospitais paulistanos São Luiz e Albert Einstein e o Ministério Público de São Paulo informaram que estão investigando as denúncias contra o renomado médico.

Shantal também acusa o médico de ter revelado, por meio de suas redes sociais, o sexo de sua filha sem o seu consentimento.

A jornalista britânica Samantha Pearson, correspondente do jornal The Wall Street Journal no Brasil, disse ao jornal O Globo ter passado por episódios traumáticos de assédio moral no consultório de Kalil.

Segundo Pearson, após o parto de seu primeiro filho, ela ouviu o médico dizer a seu marido que não se preocupasse porque havia “feito um ponto ali”, referindo-se à vagina da paciente.

Ao “Fantástico”, da Globo, uma outra mulher acusou o médico de assédio sexual no ano de 1991.

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