Culturas Tradicionais

Tenda multiétinica do FICA promove interculturalidade

Quilombolas, indígenas e povos ciganos do cerrado são os convidados deste ano

Povos quilombolas e indígenas apresentaram suas manifestações culturais na manhã desta sexta-feira (8) na Tenda Multiétnica – Povos do Cerrado, no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA). São convidados a participar professores, estudantes e intérpretes que fazem parte da rede regular de ensino do Estado de Goiás, de diferentes municípios.

É o terceiro ano em que a ação é organizada, em uma parceria entre a Seduce e a Universidade Estadual de Goiás (UEG). A gerente de Educação do Campo Indígena e Quilombola da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce), Valéria Cavalcante, ressalta a importância de debater sobre a realidade dos povos tradicionais no Brasil. “É um ponto de inclusão, de acolhimento à diversidade, respeito à diversidade e uma compreensão de toda essa interação de uma forma melhor de nos aceitar e de conviver”, explica.

Povos Xavante ofereceram curso da língua e das pinturas tradicionais

Xavante

Os indígenas das etnias Xavante, Avá-Canoeiro e Tapirapé,– esses últimos do território de Minaçu, em Goiás, – apresentaram suas danças e costumes como, por exemplo, a caça com arco e flecha. Além disso, foi oferecido um mini-curso da língua Xavante e aula de grafismo indígena, com a pintura de camisetas.

Essa é a terceira vez que os povos indígenas Xavante participam do encontro na Tenda Multiétnica. O Xavante Cristóvão, tutor indígena da escola indígena do município de Aragarças, conversou com o Mais Goiás. Ele explica que essa é uma oportunidade de aprender mais sobre outras culturas, além de apresentar o modo de vida aos participantes do evento.

O Xavante Cristóvão ressalta a importância dessa transmissão de conhecimento por meio da oralidade, comum aos povos tradicionais: os mais velhos contam aos mais novos as histórias e vivências, para que as tradições não se percam. Apesar disso, ainda existem dificuldades, por exemplo, com a manutenção da língua. Isso acontece devido à assimilação de aspectos da cultura não-indígena e todo o histórico de extermínio desse povo.

“Cada um que vem aqui como professor e liderança tem essa responsabilidade de partilhar, para que cada um saiba o que nós fazemos nas aldeias, o que nós produzimos e o que ainda não resolvemos: a questão da demarcação das terras, a perda que muitos indígenas tiveram da língua”, disse Cristóvão.

A força das mulheres Kalunga na manutenção da cultura de um povo injustiçado

Kalunga

“Somos de uma raça sofrida, à procura do saber/ Mas os anos de sofrimento vão ficando para trás/ E hoje já não sofremos tanto, como sofreram nossos pais/ A nossa vida é simples, antes pouco do que nada/ A cada frase que aprendemos é uma vida transformada/ […] Nessa vida de ventura, o direito à cultura é uma grande aventura/ Mas que transforma toda a gente em uma nova criatura”.

Esse é um trecho de um poema Kalunga, apresentado na manhã de hoje. Os povos quilombolas são moradores de comunidades negras, descendentes de escravos que fugiam das fazendas e se refugiavam em áreas escondidas nas matas, os chamados quilombos.

Assim como os povos indígenas, outros povos tradicionais e as comunidades camponesas, os quilombolas sofrem dificuldades. Além do preconceito por serem negros, descendentes de escravos, têm problemas de acesso à educação e às políticas públicas de saúde.

Para apresentar seu modo de vida aos participantes das atividades do FICA, os povos Quilombolas Kalunga, de cidades de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, fizeram uma roda de conversa e apresentaram danças com os instrumentos e vestimentas tradicionais. Durante a tarde, a apresentação foi do povo quilombola de Abadia de Goiás, que demonstrou os modos de vida dos quilombolas urbanos.

Indígenas Xavante ensinaram pinturas tradicionais aos participantes da atividade