Tiago Holsi fala sobre HQs e zumbis
Quadrinista lança 'Entardecer dos Mortos' neste sábado
Tiago Holsi é natural de Silvânia (GO) e começou a fazer seus primeiros quadrinhos para um jornal mensal da cidade. Na época, ele tinha só 17 anos e de lá pra cá evoluiu muito: “eu fazia tirinhas pra ele. Contribuí pra eles por uns cinco anos e depois fui estudar Design na Católica e fui convidado pela prefeitura de lá para fazer um material que seria distribuído nas escolas e fiz essa revista educativa por seis anos. Agora eu também publico tiras e charges online no meu site e na minha fanpage”. O primeiro produto autoral dessa carreira atribulada será lançado oficialmente neste sábado (11) em uma loja de HQs da capital. Por lá, Holsi estreia Entardecer dos Mortos, a peculiar histórias de Romeu, zumbi vendedor de sabonetes, e como sua vida é abalada com a chegada do fiel cachorro Timbete. Eles depois até conhecem uma vidente que revela-lhes o futuro, inclusive quem será o amor da morte de Romeu. O autor conta que o projeto começou a ser criado ainda em 2014 e que foi empregando o que aprendia a ele: “Nesse período eu fiz alguns cursos de colorização, de narrativa de HQs em São Paulo e fui chegando ao resultado que a gente tem agora. Mas tive que fazer muitas decisões durante este tempo sobre cor, sobre formato. Eu tava fazendo em um papel um pouco menor e a tendência é fazer no A3 que é um papel maior, com mais espaço pra desenhar. Eu acabei seguindo a minha fórmula e deu tudo muito certo”.
Para viabilizar financeiramente a sua ideia, ele jogou a ideia no Catarse. A primeira tiragem foi de 1000 exemplares que custou cerca de R$ 5 mil para imprimir, um preço tranquilo para a campanha que arrecadou R$ 9,5 mil. “Aí fizemos algumas recompensas, o Catarse cobra uma taxa também do total arrecadado e tivemos alguns gastos de envio já que a maior parte das pessoas que contribuíram era de fora. Eu já havia contribuído para alguns projetos no Catarse e resolvi me arriscar. Acabou dando certo. A gente conseguiu a verba e fizemos a impressão em outubro de 2015, fizemos um lançamento prévio na FIQ em BH (em novembro do ano passado) e agora ele foi contemplado pelo Fundo de Cultura de Goiás e vai sair uma nova edição em agosto, talvez até com capa dura.”, conta. Até agora acostumado com o meio digital, ele disse que cogitou lançar o projeto apenas online, mas depois mudou de ideia: “Pensei em fazer online, mas achei que ia ficar muito prejudicada a leitura por ter muitas páginas duplas. Apesar de eu gostar muito do formato online, neste caso o papel funcionava melhor”.
Ele agora quer investir no selo local que ele criou e busca fortalecer a união entre os quadrinistas, cartunistas e artistas goianos: “A segunda tiragem vai ser de mil também, mas talvez seja maior, porque estamos negociando com uma editora e talvez a gente lance por ela. Essa primeira tiragem foi com selo próprio, tenho uma micro-editora que é a Céleblo Comics e faço todos os meus lançamentos independentes por ele. Por enquanto o material lá é todo meu, mas conforme ganhar força, vou juntar com uma galera independente e fortalecer o selo. Acho que junto a gente é mais forte, ficar sozinho batendo cabeça é muito mais difícil conseguir apoio, divulgar mais. É necessário ter mais coisas assim em Goiânia, às vezes a galera aqui é independente demais (risos), acho que se conseguirmos unir essa cena de quem quer fazer quadrinho aqui vai ser muito melhor pra todo mundo”.
Mas e no caso do Entardecer, de onde veio essa ideia bizarra de um zumbi que vende sabonete? “Eu tive a ideia inicial que seria um zumbi oferecendo um produto de porta em porta. Primeiro eu tinha pensado que ele ia vender planos de saúde. Ele vive em um mundo pós-apocalíptico, todo mundo tá morto, eu queria que ele vendesse alguma coisa totalmente desnecessária nesse cenário. Outra ideia foi ele vender enciclopédia já que não ia ter mais internet, mas acabei fechando no sabonete que ninguém precisa porque tá todo mundo morto. Mas linquei isso com a fome deles: eles precisam de nutrientes e não têm mais seres vivos para comer, então eles comem sabonete, têm uma fome insaciável por sabonete”.
Como o nome do livro faz referência à Madrugada dos Mortos e à Noite dos Mortos-Vivos, ele conta que sempre foi fascinado por essa temática: “Eu semprei fui muito fã dos filmes de zumbi do George Romero e de pós-apocalipse, sempre fui atraído para essa temática. Eu não gosto muito dos filmes atuais de zumbi. Não gosto de The Walking Dead, acho que ele perdeu a essência do zumbi, tem muita conversa e falta ação, tem poucos elementos de zumbi, falta terror”. Mas ele faz questão de lembrar que o Romeu é um zumbi para todo mundo: “Os meus zumbis são mais fofinhos, são para todo o público então não tem nada violento, nada nojento. Zumbis podem ser descontruídos, você pode desmontar ele, é bem divertido”.
Entre suas principais influências, ele cita grandes artistas e autores brasileiros e de fora, destacando: “Eu gosto muito do estilo do Robert Crumb. Laerte e o filho, Rafael Coutinho, gosto muito do trabalho deles. Ando acompanhando muito o Eduardo Medeiros do Open Bar e do História Mais Triste do Mundo e gosto muito do artista Scott Young que tem um estilo muito legal”. Ele chama a atenção também para o cenário independente de HQs autorais que ganhou muita força graças à internet, revelando nomes como Galvão, André Dahmer e Carlos Ruas: “O cenário independente é muito forte, com muito trabalho bom e agora o pessoal da gráfica MSP está empolgando as pessoas a fazer coisas diferentes, sem ser o tradicional da Turma da Mônica nem história de herói. É uma mídia que tem espaço pra todo mundo e qualquer tipo de desenho. Sabendo contar uma história legal, é isso que importa, é a paixão que ele tem pelo quadrinho”.
Depois do lançamento de Entardecer, Holsi tenta não perder o foco conforme acumula novos projetos: “Vou ser pai agora também e fiz um material sobre essa missão de ser pai. O Entardecer é meu primeiro quadrinho autoral publicado. Queremos montar um estante lá na CCXP, estou esperando a resposta da seleção pra fazer o lançamento lá de um misto de livro ilustrado com quadrinhos chamado 665, sobre a vizinha do diabo (pouco depois de conceder essa entrevista, ele conseguiu o estande, que vai dividir com o quadrinista goiano Rodrigo Spiga). Esse é o próximo projeto, mas tenho outros três que quero lançar até o final do ano, vai depender se consigo terminá-los até lá, estão em fazes de planejamento. Um eu iniciei e outros dois estou trabalhando com os roteiros”. No sábado, quem quiser poderá comprar o Entardecer por R$ 20 além de adquirir outros materiais do autor, como prints e sketchbooks.
Serviço:
Tarde de autógrafos com Tiago Holsi, autor da HQ Entardecer dos Mortos
Onde: Comic Strip (Avenida T-4, Galeria T-4, Quadra 142, Lote 2/3, Setor Bueno, Goiânia)
Quando: Sábado, 11 de junho, a partir das 14h
Informações: (62) 3246-3675