Vencedor da Mostra Competitiva do Fica será conhecido neste domingo
A exibição dos filmes da Mostra Competitiva do 20º Festival Internacional de Cinema e Vídeo…
A exibição dos filmes da Mostra Competitiva do 20º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) terminou na tarde de sábado (9), na cidade de Goiás, com uma seleção diversificada de filmes, tanto no sentido ambiental como de linguagem de cinema.
Um dos curadores de seleção dos filmes da mostra, o cineasta Benedito Ferreira, contou que são películas que pensam a questão ambiental em várias vertentes. “O festival tem 20 anos, então seu conceito de cinema ambiental foi sendo amadurecido, e há problemas que nos competem hoje que são diferentes de problemas de 20 anos atrás”.
Ferreira disse, por exemplo, que há cerca de seis anos, especialmente no Nordeste, os documentários nas cidades sobre a especulação imobiliária foram muito recorrentes. E os festivais caminharam junto com essa produção. No ano passado, o Fica recebeu muitos filmes sobre os 30 anos do acidente radioativo com o césio-137 em Goiânia, um grave problema ambiental para a região.
Entretanto, este ano, os temas dos 22 filmes da Mostra Competitiva foram mais diversos, com partidarismo, poesias, proposições e observação.
Benedito Ferreira citou, por exemplo, o documentário Dia 32 (Portugal, 2017), que trata do fim do mundo. “O diretor pensa um apocalipse e pensa o que podemos salvar em termos de imagem. É um filme de arquivo. Ele vai capturar imagens no YouTube, na Cinemateca Francesa, vai olhar os irmãos Lumière. É um tratado de imagens inserido em um panorama apocalíptico, o ambiental está inserido aí”, explicou.
Também foi exibido o longa italiano Sensibile (2017), que traz a questão das pessoas que sofrem com o magnetismo. “É saúde, meio ambiente, um drama humano. Os temas são sempre intercortados”, disse Benedito.
O Aracati (Brasil, 2016), por exemplo, é observacional e poético, segundo o curador do Fica. “As diretoras observam a passagem do tempo e o vento como um personagem”. Já o espanhol Sub Terrae (2017) é um filme experimental em que há uma única tomada de um cemitério que se confunde com um lixão. “Um plano de 7 minutos que você fica estarrecido com a imagem. É um filme poético e que levanta mil discussões”.
Segundo Benedito, também há uma série de filmes que pensam a relação do ser humano com a cidade, com o ambiente e seus trabalhadores.
Para o curador, o recorte do Fica é ambiental, mas primeiro é um festival de cinema. “Você pode ter um tema maravilhoso e um filme péssimo. Estamos sempre em busca de filmes que têm qualidade técnica, proposições estéticas, olhares apurados, filmes que devolvem e apresentam soluções, que olham com carinho para o mundo”, ressaltou.
No total, foram exibidos no Fica 101 filmes, em oito mostras de cinema, entre animações, documentários, ficção e outros gêneros. As mostras são: Fica 20 anos “A força de um legado”, com sucessos e vencedores do festival; Mostra Competitiva; ABD Cine Goiás; Fica Animado; Cinema Fica Atitude; Cinema Povos do Cerrado; Mostra Saneago e Mostra de filmes com audiodescrição. Além dessas, o festival promove ainda algumas exibições avulsas.
A Mostra Fica 20 anos trouxe sucessos e vencedores de outras edições do festival. O curador avalia que são filmes engajados, poéticos, questionadores, que lançam um olhar para o mundo com indignação e afeto. Entre os filmes da mostra estão O Menino e o Mundo (Brasil, 2013), Corumbiara (Brasil, 2009), Recife de Dentro pra Fora(Brasil, 1997) e Ainda há Pastores (Portugal, 2006).
Cinema Ambiental
Durante a mesa de cinema sobre dramaturgia, realizada hoje (9) durante o Fica, o escritor e roteirista George Moura e o diretor Walter Carvalho falaram sobre o conceito do cinema ambiental contemporâneo. De acordo com Moura, é importante ter as questões ambientais dentro das narrativas, mas é chato quando a abordagem é panfletária, didática ou expositiva.
Para ele, o meio ambiente e a geografia precisam ser parte e personagem das histórias, como é o caso de Onde Nascem os Fortes, série em exibição na TV Globo, criada por ele. “A geografia ganha outra dimensão”, disse.
Para Walter Carvalho, todo filme é ambiental já que o ser humano existe em todo os espaços. “Se você filma o trânsito, em uma sequência de engarrafamento, você está filmando o meio ambiente. Até um filme feito dentro de uma casa fechada é ambiental, quando o personagem abre a geladeira e tem um alface lá”.
O diretor José Luiz Villamarim também participou das discussões no Cine Teatro São Joaquim, onde ocorrem as mostras de cinema do Fica.
* A equipe da Agência Brasil viajou a convite da organização do Fica 2018