Quinta e penúltima escola do Carnaval 2016 do Rio de Janeiro na avenida, a Imperatriz Leopoldinense entrou na Sapucaí na madrugada desta terça-feira (8) com uma homenagem à dupla Zezé Di Camargo e Luciano, distribuída em seis carros e 32 alas. Após sofrer alguma resistência por causa da temática sertaneja, a escola seduziu público e crítica ao apresentar o belo samba-enredo assinado, entre outros, por Zé Katimba.
Com o enredo “É o Amor Que Mexe com Minha Cabeça e Me Deixa Assim. Do Sonho de um Caipira Nascem os Filhos do Brasil”, o carnavalesco Cahê Rodrigues deixou o universo caipira dominar a escola, com muitas referências à roça, à estética dos rodeios e uma pitada de exagero estético. “Como a música sertaneja não tem raiz carioca, fomos muito criticados. Mas estamos jogando muitos preconceitos por terra, principalmente por conta da construção do enredo e da qualidade de nosso samba”, disse Cahê.
Durante o desfile, um tripé mostrou a partida da família Camargo para a cidade grande em busca do sucesso. E, obviamente, o êxito dos cantores foi celebrado em um carro de destaque, com a presença da ex-mulher, Zilú, e dos filhos, Wanessa, Igor e Camila. O mistério sobre a presença de Graciele Lacerda, a atual namorada de Zezé, no desfile foi desfeito quando ela entrou em cima de um dos carros iniciais, dançando entre outros componentes da escola.
A Imperatriz declarou o seu amor ao universo sertanejo com alas e alegorias em que predominaram os tons de vermelho, em alusão à canção “É o Amor”. Fantasias mesclaram os mundos sertanejo e do samba e o último carro trouxe Zezé Di Camargo e Luciano em destaque, com a presença do pai, Francisco, e dos irmãos. Em entrevista à Globo, o patriarca disse que “nunca tinha visto um Carnaval, nem pela TV. Foi maravilhoso”. Emival, o irmão falecido e primeiro parceiro de Zezé, foi homenageado com a escultura de um anjo caipira, e 5.000 almofadas em formato de coração foram jogadas para a plateia.
Universo caipira
Abrindo o desfile, a Imperatriz apresentou um grande momento: a cantora e multi-instrumentista Lucy Alves interpretou sozinha a primeira passagem do samba-enredo, cantando e tocando sanfona. Só depois do solo da jovem –talento da Paraíba revelado ao Brasil no “The Voice” e no musical “Nuvem de Lágrimas”– é que os puxadores da escola e a bateria entraram em cena. Mas a sanfona de Lucy foi presença marcante no samba durante todo o desfile.
A comissão de frente veio com 14 bailarinos, coreografados por Deborah Colker, vieram com vestimentas típicas de rodeio e evoluíram ao redor e sobre um chapéu de palha. “A comissão é muito simples. A gente vem dançando, deslizando. O samba da Imperatriz é muito bonito, muito poético. É o sertanejo que conquista tudo, mas não larga seu chapéu, não larga sua galinha, não larga sua viola, não larga o que ele precisa, quem ele é realmente. A nossa comissão é de muito alegria, poesia, dança, simplicidade. Estou gostando muito de fazer essa conexão”, disse a coreógrafa.
O enredo começou mostrando o universo caipira, simbolizada pela região do Rio dos Peixes, no interior de Goiás, terra natal da dupla. Para isso, a escola apostou em alas e alegorias com muita cor e pouco brilho, representando os produtos da terra –milho, cana, algodão, tomate– que sustentam o homem simples, que colhe o que planta para sobreviver e dar à família o seu sustento.
Antes do abre-alas, os tripés “Porteira da Fazenda” e “Abelha Rainha” trouxeram a dupla Chitãozinho e Xororó e a cantora Paula Fernandes, respectivamente. “Foi uma noite inesquecível, estou sem palavras”, disse Paula.”Pretendo voltar a desfilar, com certeza”. O setor chamado “Mãe Sertaneja” contou a história da música sertaneja no Brasil e exaltou ídolos como Tonico e Tinoco, Cascatinha e Inhanha, Sérgio Reis, dentre outros. Músicas como “Romaria”, “Rei do Gado” e “Tristeza do Jeca” foram relembradas.
A Imperatriz trouxe em seguida Pirenópolis, a terra natal de Zezé Di Camargo e Luciano, através de suas festas populares, como o festejo do Divino Espírito Santo, com vaquejadas, cavalhadas, romarias e mascarados. A quarta alegoria simbolizou a “Fé do Caipira”, com a réplica da coroa do Divino, o Imperador do Divino e os estandartes, feitos por artesãos locais.
O momento seguinte do desfile fez um mergulho na trajetória dos filhos de Francisco e Helena, que vieram representados por Ângelo Antônio e Dira Paes, que estrelaram o filme “Dois Filhos de Francisco” (2005). “Depois de dez anos de ‘Dois FIlhos de Francisco’, reviver esse momento é uma honra, um privilégio, é uma alegria imensa”, disse Dira. “Viva a Imperatriz, que tem esse samba-enredo maravilhoso”.