Ausente em Tóquio, escalada brasileira vê em novo ginásio chance para ir às Olimpíadas
Os brasileiros estão se movimentando para conseguir ingressar na próxima disputa olímpica de escalada esportiva,…
Os brasileiros estão se movimentando para conseguir ingressar na próxima disputa olímpica de escalada esportiva, em 2024. A modalidade fez sua estreia em Tóquio sem representação brasileira, contraste com o skate que, também debutante, abocanhou três pratas.
A ponta de lança para essa ainda possível conquista nacional se dará com a criação de estruturas para treino, incluindo o projeto de um ginásio de escalada, ainda em fase de idealização pela prefeitura de Curitiba. Já existe um chamamento público para que ele saia do papel, permitindo a formalização de um contrato de colaboração com uma entidade ligada ao setor.
A estreia da escalada nesta edição dos Jogos Olímpicos se deu com 20 vagas para competidores de todo o mundo e destacou países com tradição no alpinismo, como Eslováquia, Áustria, França e Japão.
Mesmo internacionalmente, o esporte, como modalidade competitiva, vem se estruturando há pouco tempo, tendo como marcos a criação de um conselho que articulava disputas na União Internacional de Alpinismo, em 1997, e também a fundação da Federação Internacional de Escalada Esportiva, em 2007.
No Brasil, a escalada está se organizando em torno da ABEE (Associação Brasileira de Escalada Esportiva), criada em 2014, e da também muito jovem Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, que existe há 17 anos. São essas associações que buscam reforço no diálogo entre atletas brasileiros e entidades públicas e privadas que almejam uma classificação para os Jogos de 2024.
Não se trata de um esporte acessível como o skate, notabilizado pela vasta possibilidade da vida urbana, do uso de corrimãos e rampas aos preços de uma tábua com rodas.
“Não é um esporte acessível, por enquanto. Não é todo mundo que pode pagar uma mensalidade de R$ 400 em um ginásio”, diz Samuel Carlos da Silva, que tem 18 anos, cinco deles dedicado à escalada, em referência a um preço médio cobrado em São Paulo. Silva também almeja uma vaga olímpica. “Fora equipamento”, prossegue, citando cordas, dispositivos de segurança e sapatilha.
O que pode mudar? Após diálogos com a ABEE, em julho, a Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba divulgou chamamento público para um termo de colaboração destinado à criação de um ginásio de escalada capaz de preparar atletas para o nível de excelência exigido nos Jogos Olímpicos.
Segundo o chefe da pasta, Emílio Trautwein, trata-se da ampliação de uma estrutura já em utilização, no parque Olímpico do Cajuru. “Atenderá atletas e será aberto a todo o público”, diz o secretário.
Em Tóquio, as competições se desenvolveram em três modalidades específicas: velocidade, boulder, que se caracteriza pelo uso de paredes mais baixas e nível técnico mais elevado, e guia, em que vencem os que atingem o ponto mais alto de uma determinada parede.
Para Felipe Ho, um dos atletas favoritos na composição de uma seleção olímpica, o problema “não é apenas incentivo financeiro”. “Isso ajuda muito. Mas o que realmente constrói um escalador olímpico é a cultura do país em si. Aqui, em um campeonato nacional juvenil, temos doze crianças competindo. Lá fora, em uma disputa como essa, tem mais de duzentas crianças”, diz o atleta.
Para Ho, a ausência de uma cultura de escaladores se reflete na parte estrutural de treino. “É óbvio que você vai ter menos ginásios, menos marcas envolvidas, menos patrocínios.
Uma coisa que resolveria pontualmente nossa situação é ter um centro de treinamento olímpico, como esse que está para ser criado em Curitiba. A gente ainda é refém de ginásios que são comerciais”, afirma.
“Tivemos um momento com poucos ou nenhum atleta participando de Mundial ou Copas do Mundo”, diz o gerente de comunicação da ABEE, Neudson Aquino. “Aqui [no Brasil], as vias e boulders não são montadas no nível, estilo e quantidade que um escalador de alta performance precisa pra treinar. Na Europa, por exemplo, é possível treinar em alto nível em ginásios comerciais. Lá, esse tipo de espaço atende os dois públicos [atletas e não atletas]. Aqui, não”.