Sonho possível

Brasileiro de Seleções: um título que veio da ideia de um fazendeiro e da ajuda dos pais

Ao ver Isabella Guimarães Duarte, uma das filhas, jogar pela seleção goiana infantojuvenil em 2015,…

Ao ver Isabella Guimarães Duarte, uma das filhas, jogar pela seleção goiana infantojuvenil em 2015, o fazendeiro Elias Antônio Guimarães Duarte, de 62 anos, resolveu voltar a treinar uma equipe de vôlei 28 anos depois da última experiência, quando foi o técnico da seleção goiana em 1988. Em dezembro de 2015, ele selecionou 23 atletas sub-17 para montar a equipe goiana que se tornou campeã na tarde de sábado (15) da segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Seleções Sub-17 Feminino.

Com essas 23 atletas selecionadas, Elias levou o grupo para suas fazenda em Edealina no mês de janeiro de 2016 e começou a treinar quatro horas pela manhã e quatro horas na parte da tarde em um galpão de sua fazenda. Formado em Educação Física a contragosto dos pais, também fazendeiros, Elias Antônio retomou a atividade como técnico e chegou ao time com 12 jogadoras de 12, 14, 15 e 16 anos que conquistou o título em Saquarema (RJ) ontem.

Depois de janeiro, a rotina de treinos, com quatro atletas do Goiás Esporte Clube, uma delas de Inhumas, quatro do Monte Cristo, duas do Jaó e outras duas vindas do interior – uma de Anápolis e outra de Bela Vista, continuou em Goiânia nas tardes de sábado e nas manhãs e tardes de domingo. Para isso, Elias vinha de Edealina para a capital na sexta a noite e voltava toda semana na segunda cedo para a cidade dele, a 120 quilômetros da capital.

Os lanches eram pagos com vaquinhas feitas pelo técnico e as jogadoras ou com comida que os pais mandavam para os treinos, informou Elias. Depois de alguns amistosos, o primeiro teste da equipe foi a Copa Sesi, em Itumbiara, quando a seleção goiana sub-17 chegou ao vice-campeonato contra times adultos.

“Como a gente precisava alugar um ginásio para treinar e era difícil conseguir horário durante a semana, nós treinávamos no ginásio do Monte Cristo nos finais de semana.” As dificuldades eram superadas com ajuda de algumas pessoas, como mães de atletas que atuaram como fisioterapeuta e preparadora física da equipe.

Formada pela Entidade de Administração Goiana do Voleibol, a equipe contou com a ajuda do diretor de seleções, André Luiz, que também foi importante para conseguir levar as atletas de outras cidades em casa depois dos treinos e buscar para as viagens, contou o técnico.

Viajem para o Rio
A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) bancou as passagens de ida e volta, hospedagem, alimentação e deslocamento de dez atletas e do técnico de cada uma das equipes que disputaram a competição, entre 7 e 15 de outubro. Mas a equipe goiana queria levar 12 jogadoras.

Foi preciso vender produtos da fazenda de Elias nos intervalos dos jogos e fazer livros de ouro, nos quais o doador assina seu nome no álbum de fotos e faz uma ajuda, como se fosse uma rifa. Desse jeito, a equipe conseguiu juntar um pouco mais de R$ 5 mil para a viagem, com gastos em passagens para duas jogadoras e o assistente técnico que custaram R$ 1,8 mil e R$ 3 mil de hospedagem para os três no mesmo hotel da seleção goiana.

Só que a volta dos três, comprada com bastante antecedência, era uma hora depois do horário marcado para o início da partida, que durou duas horas e seis minutos em quatro sets na tarde de sábado. Acabou que a seleção goiana jogou com dez atletas e as outras duas e o assistente voltaram antes da conquista do título. “Eu acreditava que a final seria a noite. Para trocar as passagens, a gente teria que pagar R$ 2.060,00.”

Comemoração
Era 1 hora da madrugada de domingo (16) quando Elias resolveu molhar os pés no mar em frente ao hotel. “As jogadoras ficaram no hotel, eu fiquei muito feliz com a conquista do título e resolvi dar uma ida até a praia.” O uniforme usado pelas jovens, muito elogiado na competição, foi conseguido por meio de doação. O mesmo aconteceu com as meias.

Mas as dificuldades continuam. Mesmo com o título da segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Seleções Sub-17 Feminino e a vaga na série principal da competição, a equipe goiana não tem patrocínio para custear as viagens e os treinos, por exemplo.

“A minha intenção é continuar à frente da equipe e formar outra equipe, a mirim, para dar suporte à sub-17. Das atletas que disputaram a competição esse ano, dez têm idade para disputar a primeira divisão ano que vem”, comentou.