Apagado?

Catar: Intercontinental passa desapercebida em Doha, que ainda mantém referências à Copa do Mundo de 2022

Sem envelopamentos especiais na cidade e com poucos produtos à venda, torneio tenta ganhar mais apelo com chegada de torcedores de Real Madrid e Al Ahly

(POR AGÊNCIA O GLOBO) Um pouco esvaziada e facilitando o caminho dos times europeus, que disputam apenas a sua final, a Copa Intercontinental não vem cativando Doha, a moderna e tecnológica cidade que sedia sua edição inaugural. Pelo contrário, é muito mais fácil ver a capital do Catar vivendo de memórias da Copa do Mundo de 2022, que está completando dois anos, do que do novo torneio implementado pela Fifa.

O baixo apelo do Mundial de Clubes, que vinha sendo disputado anualmente desde 2005, contando com os campeões continentais e um anfitrião, levou a Fifa a repensar o modelo. No ano que vem, estreará o Mundial com 32 clubes, realizado a cada quatro anos, prometendo ser uma espécie de Copa do Mundo dos clubes.

Só que o antigo torneio sobreviveu, de uma maneira diferente, para que toda temporada tenha alguma equipe que possa se chamar de campeã do mundo. Neste ano, o Botafogo venceu sua inédita Libertadores e almejou o sonho de disputar a final contra o Real Madrid, campeão europeu. Só que este foi interrompido logo na estreia, com a derrota por 3 a 0 para o Pachuca (México).

Antes da partida, quando ensaiava-se uma tímida “invasão alvinegra” ao Oriente Médio, o GLOBO foi às ruas para saber como Doha está tratando a Intercontinental. E não encontrou muitas pessoas a par do torneio realizado no próprio país. Nos corredores do Souq Waqif, espécie de mercadão da capital, vários cataris até se assustaram quando um grupo de torcedores do Botafogo se juntou para puxar um canto de arquibancada.

Nem os vendedores de camisas de futebol no Souq Waqif estavam esperando grande movimento por causa da Intercontinental, mas também não deixavam de exibir camisas “alternativas” do Real Madrid — com o nome de Kylian Mbappé às costas — e outros clubes nas fachadas de suas lojas.

A chegada do time espanhol é a aposta para aumentar o interesse geral, assim como o Al Ahly — disputa a semifinal com o Pachuca, às 14h de hoje (de Brasília) —, com sua massa de torcedores egípcios.

Uma Copa ainda viva

Ao mesmo tempo, não há símbolos do torneio nas ruas da cidade. Pelo contrário, restam muitas referências à Copa do Mundo de 2022, incluindo até o letreiro do campeonato de seleções, na avenida Al Corniche, que percorre o litoral de Doha. Figuras do mascote La’eeb também são comuns, dando o tom de uma memória ainda muito viva do evento que terminou com a Argentina tricampeã mundial, capitaneada por Lionel Messi.

Para achar envelopamentos da Intercontinental, só mesmo indo ao estádio 974, que recebeu pouco mais de 10 mil torcedores no jogo da última quarta-feira, que terminou com a eliminação do Botafogo, e será palco do jogo de hoje.

Aliás, esta arena, construída sobre 974 contêineres de diferentes cores e com uma proposta ecológica, deveria ter sido desmontada logo após a Copa do Mundo, mas segue intacta em Doha. A ideia inicial era que sua estrutura fosse aproveitada em outros locais da capital, ou mesmo doada para outros países.

Os motivos não são muito bem esclarecidos pela organização do país, mas, conforme apurou O GLOBO, custos de logística impediram a operação. Além disso, Doha ainda receberá torneios nos quais o estádio será necessário, desde o futebol profissional até torneios de base da Ásia. Dessa forma, mesmo que o estádio raramente esteja lotado, houve uma falta de mobilização para que o 974 fosse “reciclado”.

Final em dia de feriado nacional

Voltando à Intercontinental, as vendas de produtos quase inexistem. A reportagem encontrou apenas um quiosque do lado de fora do estádio, vendendo blusas genéricas com o símbolo do torneio.

Se a Fifa entende que a Intercontinental é uma obrigação para fazer um torneio “mais acessível” que o futuro Mundial, por mais que o campeão europeu tenha a vantagem de fazer apenas uma partida, está realizando um campeonato protocolar até o momento, realizado em um país de difícil acesso para todos os participantes, e que ainda conta com todos os tipos de restrições à festa de arquibancada.

A decisão, marcada para a próxima quarta-feira (18), cairá no Dia Nacional do Catar, feriado no país. Há preparativos na avenida Al Corniche para um grande desfile na avenida litorânea, contando com a presença da família real, atração que realmente chama atenção de seu povo.

Parece que o jogo entre Real e Pachuca ou Al Ahly precisará de mais esforços da Fifa para lotar o estádio Lusail, que também foi palco da decisão da última Copa do Mundo — inclusive, em um dia 18 de dezembro, mas em contexto totalmente diferente.