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CBF quer mais jogos da seleção no Brasil: o que falta para isso acontecer

Em junho, por exemplo, a equipe de Tite fará jogos em Coreia do Sul, Japão e Austrália

“Vamos aproximar a seleção brasileira do Brasil, com mais jogos no país, aproveitando melhor os investimentos feitos para construir e modernizar os estádios brasileiros”.

Essa foi a promessa do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, expressa no relatório de gestão apresentado na terça-feira (19) a federações e clubes. Mas esse objetivo ainda não será alcançado de imediato. Em junho, por exemplo, a equipe de Tite fará jogos em Coreia do Sul, Japão e Austrália. Em setembro, a programação atual prevê partidas nos Estados Unidos. Uma mudança de cenário depende de uma guinada em um aspecto comercial que há tempos vigora na CBF.

Na era Ricardo Teixeira, a entidade viu que os amistosos poderiam ser uma pequena mina de ouro e repassou os direitos de exploração comercial para empresas estrangeiras. Um contrato famoso foi assinado em 2006, por exemplo, com a International Sports Events (ISE), ligada ao Dallah Albaraka Group (DAG) -com sede na Arábia Saudita-, que, por sua vez, sublicenciou os direitos à Kentaro, cuja base é na Suíça.

Em 2012, a CBF rompeu o contrato com a Kentaro e fechou com a Pitch International, que é a parceira atual. Ao longo dos anos – sobretudo nos ciclos em que não precisou participar das Eliminatórias-, o Brasil fez amistosos em lugares completamente fora da rota natural do futebol de alto escalão. Em 2009, por exemplo, enfrentou a seleção de Omã. Em 2014, o amistoso contra o Japão foi em Cingapura. Já teve Brasil x Argentina na China, também em 2014, e na Austrália, em 2017 -dose que será repetida em 11 de junho.

Com o Brazil Global Tour, como é denominada comercialmente a série de amistosos, a seleção brasileira também se tornou frequentadora assídua dos Estados Unidos. Desde a Copa de 2014, a seleção fez 38 amistosos -foram 12 amistosos lá. Nesse mesmo período, a seleção só fez quatro jogos amistosos no Brasil- todos antes de alguma Copa América (em 2015 e 2019).

O contrato atual expira em dezembro deste ano, colocando a CBF diante de um cenário crucial para definir a política de amistosos a partir de 2023. A cada partida, a Pitch paga cerca de 2 milhões de dólares à CBF -assim como os contratos de patrocínio, a variação cambial afeta a rentabilidade.

“Os atletas e a comissão técnica adoram jogar no Brasil. Mas também, por força de um contrato que está vencendo agora em 2022. Se tiver que ser renovado ou ser feito outro, vai ser em um outro modelo, que não seja esse de que a seleção só tem que jogar fora. A seleção tem que se identificar com o brasileiro para que o Brasil e os torcedores possam estar sempre próximos aos seus ídolos”, disse Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

A relação com a Pitch passou por altos e baixos no último ciclo. A empresa acabou ficando fora do cenário por causa do calendário – a pandemia embolou tudo, deixando pouco espaço até mesmo para as Eliminatórias da Copa. Os jogos da caminhada rumo ao Qatar e a própria Copa América foram algumas pontes usadas para reduzir a distância com o torcedor.

Antes dos três jogos agendados para junho deste ano, os amistosos anteriores organizados pela Pitch foram em novembro de 2019 -a seleção enfrentou a Argentina na Arábia Saudita e a Coreia do Sul nos Emirados Árabes. Pouco antes, gerou desgaste na CBF, algo expressado publicamente com Tite, a estrutura dos campos escolhidos para receber os jogos do Brasil.

Como ainda tem jogos a entregar e uma Copa do Mundo pela frente, a CBF ainda não acelerou os movimentos para definir o futuro dos contratos dos amistosos.

“A CBF ainda não foi procurada para discutir a renovação. O contrato termina em dezembro. A CBF pode discutir a renovação ou ter outros horizontes nos quais a seleção não possa ser tão sacrificada”, completou Ednaldo Rodrigues.

Outro elemento que pode chacoalhar esse mercado de amistosos é a discussão em torno da Nations League. O movimento de aproximação entre Uefa e Conmebol é interessante para acabar com a falta de jogos do Brasil contra europeus. Ao mesmo tempo, pode restringir ainda mais o período para amistosos e ainda gerar um ajuste na fórmula das Eliminatórias. Ninguém quer ficar jogando à toa.