Copa 2023 amplia debate sobre falta de técnicas mulheres no futebol
O assunto surgiu algumas vezes ao longo da Copa do Mundo, em entrevistas coletivas de Sarina Wiegman, que pediu mais mulheres no futebol
Mesmo que sempre em menor número, as mulheres podem ser maioria entre os treinadores campeões da Copa do Mundo. A Inglaterra de Sarina Wiegman tentou se tornar a quinta seleção comandada por uma mulher a levantar a taça em nove Mundiais, mas acabou caindo para a Espanha na decisão.
Campeã da Eurocopa feminina em 2022, as inglesas fizeram boa campanha no Mundial da Oceania e o sucesso das Leoas também ajudou a escancarar outro problema: a falta de profissionais no futebol feminino.
MAIOR PRESENÇA
Sarina foi a última técnica a se manter viva de 12 mulheres que disputaram a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia entre 32 seleções.
“Precisamos de mais técnicas. Muito trabalho já foi feito e ainda é necessário fazer mais para ter mais mulheres envolvidas. Dar oportunidades. E a balança precisa ser melhor. Não que homens não sejam bem-vindos, porque eu acho que há muitos homens que fazem um bom trabalho e estão no jogo por muito tempo, mas precisamos de mais igualdade”, afirma Sarina.
Este, porém, foi o melhor número da história de participação feminina no Mundial. Nas três últimas edições, foram seis em 2011, oito em 2015 e nove em 2019 a primeira com 16 times e as duas outras com 24.
Gunilla Paijkull, da Suécia, foi a única na primeira edição da Copa, em 1991. Naquela época 12 equipes disputaram o título.
Das oito edições anteriores, quatro foram vencidas por mulheres. Jill Ellis ergueu a taça duas vezes pelos Estados Unidos (2015 e 2019) e Tina Theune e Silvia Neid, pela Alemanha (2003 e 2007, respectivamente).
Nas Olimpíadas, por exemplo, os últimos três ouros foram de mulheres (Bev Priestman com o Canadá, Silvia Neid pela Alemanha e Pia Sundhage nos EUA).
Na Copa América, a edição de 2022 dobrou o número, passando de duas para quatro. Além disso, teve uma mulher como campeã pela primeira vez, com Pia Sundhage no Brasil.
MAIS MULHERES
O assunto surgiu algumas vezes ao longo da Copa do Mundo, inclusive em entrevistas coletivas de Sarina Wiegman. Ela pediu mais mulheres não só como treinadoras, mas em cargos de liderança.
Durante a Convenção de Futebol Feminino da Fifa, um dos painéis reuniu Jill Ellis, treinadora campeã com os Estados Unidos em 2015 e 2019, além de Emma Hayes, técnica do Chelsea, e Arsène Wenger, histórico comandante do Arsenal.
O objetivo principal era falar sobre o papel dos treinadores nas equipes, como lidar com frustrações, uso de dados e outros. Além disso, o trio falou sobre a importância de se ter mais mulheres nos cargos e especialistas no futebol feminino para o desenvolvimento da modalidade.
“Nas Olimpíadas e no Mundial, eu acho que as mulheres ganharam muito. Acho que as mulheres podem fazer um bom trabalho em alto nível. O que está vendo em termos de números é que temos de continuar criando oportunidades de investimento. Nós não podemos apoiar apenas uma pessoa porque é mulher. Temos de fazer com que haja apoio, seja educada para estar pronta. A Fifa tem um programa com Olimpíadas e Copas, onde deve ter uma mulher como treinadora ou assistente. É ruim termos que legislar isso, mas às vezes tem de ser feito”, disse Jill Ellis.
CARGO EM TIME MASCULINO
“Precisamos desenvolver o conhecimento, porque como mulheres, não somos ‘pequenos homens’. Qualquer um que começa a trabalhar no Chelsea, não deixo ter qualquer interação com as jogadoras por seis semanas. Até que estejam sem as ideias enviesadas de vir de um ambiente do futebol masculino”, afirma a técnica do Chelsea.
É comum que mulheres com sucesso em times femininos comecem a ser cogitadas em equipes masculinas. Isso também acontece com homens, como Arthur Elias no Brasil cotado para comandar o Corinthians de homens recentemente.
Na Inglaterra, Phil Neville deixou o comando da seleção em 2021 para treinar o Inter Miami antes de Sarina exercer o cargo. Antes de assumir, Neville precisou se desculpar por comentários feitos anos antes em redes sociais com teor sexista.
Agora é a vez de Sarina Wiegman, que estaria sendo cogitada no time masculino da Inglaterra após rumores de que os Estados Unidos poderiam tentar contratá-la.
“É hora de falar do futebol feminino. Não temos sempre de falar do masculino na mesma frase. A Sarina é treinadora da seleção inglesa, está fazendo um ótimo trabalho. É hora de falarmos sobre isso como prioridade e nada mais. Estou para dizer que é incrível no time inglês e o futebol feminino merece ter as melhores treinadoras”, afirmou Emma Hayes.
A própria Emma já foi cotada para mudar ao futebol masculino pelo trabalho de sucesso à frente do Chelsea desde 2012. Em 2021, foi ligada ao AFC Wimbledon, que atualmente joga a quarta divisão do futebol inglês.
“O futebol feminino é algo a comemorar, e a qualidade, a conquista de todas as mulheres que represento… É um insulto para elas que falemos do futebol feminino como um passo para trás. Com a dedicação e qualidade que tem. Toda a questão sobre [Wimbledon] não ser capaz de me pagar não tem nada a ver com dinheiro, mas tudo a ver com o fato de que estou no melhor emprego do mundo. Nenhuma quantia de dinheiro vai me tentar”, disse ela na época.