Futuro

Copa São Paulo: como clubes monitoram promessas em torneio com mais de 100 times

Tradicional torneio de categoria de base atrai a atenção de equipes brasileiras e até de outros países

Rwan Seco, do Santos, é um dos artilheiros da competição com seis gols marcados e deve ir para o time profissional. Foto: Pedro Ernesto Guerra - Santos

A Copa São Paulo de Futebol Júnior é famosa por ser celeiro de futuros craques e reúne muitas promessas do futebol brasileiro ano a ano. Mas monitorar jogadores em uma competição com 128 times não é tarefa fácil. Os principais clubes contam com banco de dados detalhados que constam nomes já foram observados em outros torneios ou indicações de colaboradores, mas novos atletas que se destacaram na competição podem aparecer na lista.

A edição 2022 ainda trouxe uma notícia boa para quem faz o “scouting” dos jogadores na competição. Todos os jogos do torneio tiveram transmissão, seja pela TV, YouTube ou através do aplicativo Paulistão Play. Pessoas ouvidas pela reportagem contam que a acessibilidade para assistir às partidas foi de grande ajuda para o trabalho de observação e análise de atletas

O coordenador de captação de atletas para a base do Palmeiras, William Santos, explica que o clube conta com toda a equipe de observação (oito profissionais) na Copinha, além da participação do coordenador geral João Paulo Sampaio, que está presente em diversos jogos.

“A estratégia foi manter uma base de três profissionais analisando por vídeo e cinco presenciais. Todos os dias, após o término dos jogos, realizamos debates sobre destaques e possíveis situações interessantes”, avalia.

O coordenador de captação do Santos, Rodrigo Augusto, revela que sete a oito profissionais acompanharam jogos da Copinha, sendo que todas as partidas da primeira fase da competição foram analisadas. Augusto está presencialmente na maioria dos jogos em que é designado para monitorar jovens promessas e diz que acompanha de quatro a seis partidas por dia. Os profissionais da captação ainda contam com suporte da análise de mercado do clube, além de dispor de uma parceria com um grupo que também assiste jogos por vídeo ou in loco.

“Temos que ser bem pontuais e certeiros para não supervalorizar um atleta que, daqui a pouco, pode não ter esse valor de mercado É preciso cautela. Nós não entramos em leilão. Muitas vezes quando você vai falar com um clube durante a competição sobre um jogador, o valor da negociação é surreal, parece que estamos falando de atleta profissional. Então, nós somos muito exigentes porque já temos vários atletas de idade de Copinha que já estão no elenco profissional (cerca de dez nomes) e a equipe tem desempenhado muito bem na competição”, analisa Augusto, que também explica como o mercado da base funciona depois da disputa da Copa São Paulo.

“Depois da Copinha, em fevereiro, os clubes menores que não conseguiram negociar jogadores já buscam parcerias com os maiores. Os que não conseguem algum tipo de parceria, em março, quando são geralmente as férias da categoria, tentam fazer com que os atletas façam avaliações para a categoria sub-20 nesses clubes”.

Uma das surpresas da Copa São Paulo foi o Resende, que eliminou Fortaleza e Corinthians na fase mata-mata e negociou um dos seus destaques durante o torneio. As ótimas atuações do goleiro Pedro chamaram a atenção do Portimonense, de Portugal, que o contratou por empréstimo. O camisa 1 deixou a delegação antes mesmo de a equipe enfrentar o Corinthians pela terceira fase.

“Eles (Portimonense) assistiram logo ao primeiro jogo e gostaram dele. Foram em todas as partidas. Quando o Pedro pegou três pênaltis contra o Fortaleza, eles bateram o martelo: ‘É pegar ou largar porque temos um plano B já. Precisamos de um goleiro com urgência’. Nossa avaliação era de que o reserva (Sales) é do mesmo nível dele, já tínhamos outros dois goleiros para o profissional e o nosso calendário ainda é restrito”, explica o diretor de futebol do Resende, Hugo Machado, que conquistou o título da Copinha como jogador pelo Internacional (1974) e também como gerente da base por Corinthians (2004 e 2005) e Santos (2014).

O Resende realiza desde 2016 uma parceria com a Pelé Academia e, em 2019, firmou acordo com o Lyon, da França, para desenvolvimento de jovens talentos. O clube francês traz profissionais ao Brasil para capacitação dos funcionários e, em troca, tem prioridade na transferência de jogadores formados no time do Rio de Janeiro. A equipe vai promover nove atletas que disputaram a Copa São Paulo ao elenco profissional, que disputará o Campeonato Carioca.

“Tivemos outras três propostas que envolvem alguns dos jogadores que, inclusive, vão visitar o Lyon agora a partir de domingo”, disse Machado, citando o zagueiro Peixoto, o meia David Kauan e o atacante Kaio. “Quem tem a preferência é o Lyon. Se recebermos uma proposta por um jogador, avisamos o clube”.