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Corinthians: Augusto Melo derrete politicamente e impeachment ganha força

O maior baque foi a rescisão do contrato da Vai de Bet. O mandatário se gabava de ter conseguido o maior acordo de patrocínio da história

LUCAS MUSETTI PERAZOLLI E LIVIA CAMILLO
SANTOS E SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O presidente Augusto Melo perdeu força política e está cada vez mais isolado no Corinthians. A possibilidade de impeachment é real.

Augusto Melo perdeu a base política que o fez presidente após 16 anos da Renovação & Transparência no clube.

Os principais aliados não estão mais com o presidente. Em pouco mais de cinco meses, Augusto derreteu politicamente.

O maior baque foi a rescisão do contrato da Vai de Bet. O mandatário se gabava de ter conseguido o maior acordo de patrocínio da história.

O contrato de R$ 370 milhões por três anos foi rescindido por meio de cláusula anticorrupção após a denúncia de empresa laranja no acordo de intermediação.

Era o que a oposição precisava. São necessárias 51 assinaturas para a abertura do processo de impeachment por “prejuízo considerável ao patrimônio e imagem do Corinthians”.

O UOL ouviu que o mínimo de 51 assinaturas será conseguido “rapidinho”. A expectativa é protocolar o requerimento ao Conselho nos próximos dias.

O PROCESSO

Com as 51 assinaturas na mão, o presidente do Conselho, Romeu Tuma Jr, terá um mês para acatar ou não o pedido.

Se o processo de impeachment for aberto, será marcada uma votação no Conselho. Com a maioria dos votos dos conselheiros, uma assembleia entre os associados seria anunciada.

Se os sócios votarem que “sim”, o vice-presidente Osmar Stábile assumiria e teria 30 dias para convocar uma eleição indireta. Neste caso, apenas os conselheiros vitalícios ou com pelo menos dois mandatos votariam.

VICE CONTESTADO

O empresário Osmar Stábile, que assumiria a vice-presidência em caso de impeachment, foi financiador de uma campanha pró-golpe militar.

Em 2019, Stábile produziu um vídeo que exaltava o golpe militar de 1964. O documento diz que o exército “apenas cumpriu seu papel”.

“Não tenho e nem tive a pretensão de mexer com os brios, dores e sentimentos daqueles que se dizem perseguidos pelas Forças do Estado naquele importante período da nossa história. Mas acredito plenamente nos esforços de nossas Forças Armadas que evitaram males políticos maiores para a nação”, disse Stábile.

Durante a campanha à presidência, Augusto Melo foi perguntado sobre o fato e disse que a chapa conversou com Osmar Stábile, que admitiu os “excessos” e pediu desculpas.

QUEM MAIS?
O UOL apurou que há pelo menos três nomes de olho na presidência do Corinthians: Antonio Roque Cittadini, Andrés Sanchez e Romeu Tuma Jr.

Cittadini e Andrés já foram candidatos à presidência do Corinthians, enquanto Tuma Jr é o atual presidente do Conselho.

“Romeu Tuma Jr tem até marketeiro. Um profissional de imprensa trabalhando o nome dele”, disse Juca Kfouri, colunista do UOL, em live do Corinthians.

O vice-presidente Osmar Stábile, a princípio, não seria candidato. Pessoas próximas, porém, afirmam que só daria para saber quando ele tivesse a “caneta na mão” em caso de impeachment.

QUEM JÁ DEIXOU AUGUSTO MEMLO

A diretoria do Corinthians vive uma debandada. Os últimos foram o adjunto de futebol Fernando Alba e o diretor financeiro Rozallah Santoro.

A dupla faz parte do “Movimento Corinthians Grande”, uma das chapas mais influentes do clube. O grupo que apoiou Augusto Melo rachou com o atual presidente.

Outros que deixaram a gestão são o diretor de futebol Rubão, o diretor jurídico Yun Ki Lee e o diretor jurídico adjunto Fernando Perino.

O diretor de marketing Sérgio Moura pediu licença após o escândalo da Vai de Bet, mas segue mandando no departamento no esquema home office.

Sérgio Moura e o diretor administrativo Marcelo Mariano são dois dos remanescentes da primeira formação de Augusto Melo e colecionam inimizades.

OS ALIADOS

Sérgio Moura e Marcelo Mariano foram bancados por Augusto Melo mesmo após o envolvimento direto na polêmica intermediação do acordo com a Vai de Bet.

O Corinthians pagou parte da intermediação da Vai de Bet para a Rede Social Media Design Ltda: R$ 1,4 milhão em dois pagamentos com intervalo de três dias. Quatro dias depois, pouco mais de R$ 1 milhão foi repassado para a empresa laranja Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda (não confundir com a Neoway verdadeira, empresa de Big Data de Santa Catarina).

A Neoway de fachada tem como dona Edna Oliveira dos Santos, uma moradora de Peruibe, que sobrevive com Bolsa Família e foi envolvida como laranja nessa história.

A Rede Social Media Design Ltda pertence a Alex Cassundé, amigo de Sérgio Moura e um dos grandes apoiadores de Augusto Melo na campanha.

O pagamento de R$ 1,4 milhão do Corinthians para Alex Cassundé foi autorizado por Marcelo Mariano, sem a autorização de Rozallah Santoro, que estava no financeiro.

O caso virou investigação policial e a Vai de Bet cobrou explicações. Sem respostas concretas, a casa de apostas ativou uma cláusula anticorrupção do contrato e rescindiu unilateralmente.

Marcelo Mariano manda no seu e em outros departamentos do clube, enquanto Sérgio Moura dá ordens de casa no marketing. Os dois são tidos como grandes parceiros de Augusto Melo no clube.

E O FUTEBOL?

O Corinthians vive crise institucional e tenta evitar que isso respingue dentro de campo. O Timão está na zona de rebaixamento, com cinco pontos na 17ª colocação.

O executivo de futebol Fabinho Soldado tenta blindar a comissão de António Oliveira e o elenco, mas quem convive no dia a dia relata um clima tenso. Os salários estão atrasados.

António está bem incomodado com os problemas políticos e ficou inconformado com a saída de Carlos Miguel. O goleiro deve jogar no Nottingham Forest (ING), que pagará a multa de R$ 23 milhões.

Os ídolos Cássio e Paulinho saíram e o grupo perdeu suas principais lideranças. A faixa de capitão ficou com Fagner, que deve sair no fim do ano, e os demais postulantes à braçadeira são recém-chegados: Gustavo Henrique, Raniele e Rodrigo Garro.

Pressionadíssimo e cada vez mais isolado, Augusto Melo tenta recuperar apoio político e angariar receitas para conseguir reforços para contornar uma crise sem precedentes. Sem a Vai de Bet, aliados e com a oposição no pé, a tarefa não será fácil.