Do Bronx faz primeira defesa de cinturão do UFC por fim do rótulo de azarão
Brasileiro defende pela primeira vez o cinturão dos pesos-leves, mas é visto como azarão nas casas de apostas
Charles Oliveira da Silva, 31, o Charles do Bronx, terá neste sábado (11) a primeira defesa de cinturão após se tornar campeão dos pesos-leves (até 70,3 kg) do UFC (Ultimate Fighting Championship). É o desafiante dele, no entanto, o americano Dustin Poirier, 32, o favorito a vencer a luta nas casas de apostas.
Mesmo depois de alcançar o inédito título em maio, após bater o americano Michael Chandler, o brasileiro ainda é considerado como um azarão dentro da categoria. A condição, porém, não é algo que o incomoda. Pelo contrário. É parte de sua motivação.
“Essa luta vai confirmar que o Charles é o verdadeiro campeão, que o Charles merece estar ali”, afirmou o lutador à reportagem. “Quando todo mundo acha que o Charles é azarão, eu estou entrando [no octógono] feliz. Eu nasci para lutar, o que sei fazer é lutar. Você quer ver um show, então me coloca dentro da grade.”
O campeão voltará ao octógono em Las Vegas, nos EUA, onde ocorre o UFC 269. O card principal, no qual a brasileira Amanda Nunes defenderá seu cinturão dos pesos-galo (até 61,2 kg), começa à meia noite (de Brasília), na virada de sábado (11) para domingo –o canal Combate transmite o evento.
Nascido no Guarujá, o paulista esbanja confiança em cada uma de suas frases, embora goste de afirmar que mantém “a humildade e os pés no chão” após conquistar o título.
Ele reconhece, contudo, que a sua vida mudou desde a vitória sobre Chandler. “Mudou tudo. Agora a gente tem mais seguidores, em todos os lugares que a gente chega, o povo para e quer fazer fotos. Temos mais patrocinadores. Estou muito feliz com tudo que vem acontecendo”, disse.
De fato, após tornar-se campeão, o paulista passou a ter um reconhecimento maior do público brasileiro. Nesse quesito, também fazem diferença as parcerias que ele buscou, como uma firmada em novembro com o Corinthians, seu time do coração, do qual ele se tornou embaixador.
Segundo o clube, o lutador terá papel de destaque na divulgação de lutas e também para a construção de oportunidades de negócios que poderão envolver licenciamentos de produtos e promoção de eventos.
A estratégia de Do Bronx é semelhante a de Anderson Silva, uma das maiores lendas do UFC. Desde 2011, o ex-campeão dos pesos-médios (até 83,9 kg) sempre manteve diversas parcerias com o clube do qual ele se declara torcedor. Atualmente, ele administra uma academia de MMA dentro da Neo Química Arena.
“Eu sou corintiano de verdade. Não sou corintiano de balela. Sou corintiano desde que eu me entendo por gente. Cada um tem sua história, eu sou corintiano daqueles que vive dentro da comunidade, no meio da Gaviões, torcendo, vibrando, cantando. Eu sou aquele que chora. Cada um tem uma trajetória, o Anderson tem a dele, eu tenho a minha”, afirma Charles, tentando se diferenciar do Spider, apelido do ex-campeão.
Questionado sobre o que quis dizer com a expressão “corintiano de balela”, o campeão se esquivou. “Cada um é corintiano de um jeito. Eu sou corintiano daqueles que vestem a camisa de verdade.”
Apesar de buscar uma diferenciação entre ele e Silva, Charles admite que um de seus objetivos é se tornar uma lenda do UFC tal qual o ex-campeão conseguiu.
“Eu entrei no UFC para fazer história, para me tornar um dos melhores do mundo. Por isso eu saio todos os dias do Guarujá para São Paulo para fazer quatro treinos por dia.”
Com isso, ele espera, ainda, que possa acumular um patrimônio financeiro maior. Apesar de ser o dono do cinturão dos pesos-leves, o paulista ainda está longe da fortuna acumulada por outros grandes nomes da franquia. O irlandês Connor McGregor, por exemplo, já faturou mais de US$ 15 milhões (R$ 63 milhões) só em premiações no maior evento de MMA do mundo.
“As empresas querem estar com os grandes nomes, com os grandes campeões”, aponta Charles, que não pensa em deixar o país, principalmente o Guarujá, mesmo se conseguir se tornar um milionário, a exemplo do que fizeram outros brasileiros.
“Quero manter minhas origens, gosto de viver no Guarujá, perto da minha família, perto da favela”, afirma o lutador, que cresceu em Vicente de Carvalho, distrito do Guarujá, no litoral sul paulista, local em que desde a infância ele passou a ser chamado de Do Bronx.
O laço com a comunidade foi se fortalecendo ao longo do tempo, sobretudo pelo apoio que ele recebeu de pessoas próximas. Charles Oliveira demorou quase 11 anos, desde a sua estreia no UFC, em agosto de 2010, para se tornar um campeão da categoria, em maio deste ano. Ninguém na história da principal organizadora de eventos de MMA do mundo levou tanto tempo até a conquista.
Cada luta na categoria, no entanto, já era como uma disputa de cinturão para o paulista. Afinal, na infância, ele recebeu um diagnóstico de febre reumática e sopro no coração. “O médico chegou a me falar que nem uma bola eu iria poder jogar. Hoje sou um campeão do mundo.”
Segundo ele, se isso não o abalou na época, não são rótulos como o de azarão que vão desanimá-lo agora. “Alguém acha que as pessoas falando que eu não posso e que eu não vou ser [campeão] vão me abalar? Eu vou voltar para casa com o nosso cinturão”, prometeu.