Pouco depois da Copa do Mundo de 2014, Dunga reassumiu uma seleção brasileira humilhada pelo fracasso retumbante em casa e sob um clamor quase geral de caça às bruxas. Um de suas primeiras preocupações foi defender os jogadores. “Não pode mudar tudo a toda hora. Não pode colocar como terra arrasada. Temos jogadores de qualidade”, decretou. Quase dois anos depois, o treinador mudou quase tudo. Daquele grupo formado por Luiz Felipe Scolari, só há três remanescentes entre os 23 que disputarão a Copa América Centenário, nos Estados Unidos.
Os sobreviventes são o lateral-direito Daniel Alves, o meia Willian e o atacante Hulk. Seriam quatro se o volante Luiz Gustavo não tivesse pedido dispensa nesta quinta-feira por problemas pessoais. E um quinto jogador que participou da frustrante Copa do Mundo de 2014 e não está no grupo atual é Neymar. Neste caso, apenas por circunstâncias, pois descansará durante a Copa América Centenário para jogar a Olimpíada do Rio, em agosto.
Desta vez, a mudança é mesmo radical. Em todas as convocações anteriores, Dunga manteve entre 8 e 10 jogadores da “era Felipão”. Agora, parece ter resolvido deixá-los de lado, em sua grande maioria, definitivamente. Há atletas que perderam espaço tanto dentro como fora do campo. Às falhas somaram-se reações que desagradaram o treinador. São os casos de Jefferson, que reclamou por ser barrado por Alisson; de Thiago Silva, que ficou chateado por perder a condição de capitão (e falhou feio contra o Paraguai na Copa América passada); e de Marcelo, que não comunicou à comissão técnica estar apto fisicamente para atender a convocação para os jogos das Eliminatórias da Copa de 2018 contra Paraguai e Uruguai, em março.
Outros se “queimaram” por não renderem o que deles se esperava. Nesse grupo estão Oscar e Fernandinho (que pelo menos entraram no grupo dos 40 pré-convocados para a Copa América Centenário, mas, apesar dos cortes, não foram lembrados), além de David Luiz e Ramires.
Também existem aqueles que Dunga simplesmente não considera em condições de servir à seleção. São eles Henrique, Maxwell, Jô, Fred, Bernard, Paulinho e Dante. Já Victor e o veterano Julio Cesar saíram do baralho porque o treinador considera que há goleiros melhores. Hernanes perdeu espaço porque também há melhores opções no meio de campo e o lateral-direito Maicon caiu em desgraça por ter cometido indisciplina logo na primeira convocação feita por Dunga.
Mesmo quem permaneceu não tem assegurado lugar de titular. Hulk é reserva e tudo indica que, se tivesse ficado, Luiz Gustavo perderia a posição para Casemiro. Com moral com o chefe mesmo só Willian, titular absoluto e que Dunga quer levar para a Olimpíada, e Daniel Alves, até porque há poucas opções na lateral direita.
DISCURSO ABANDONADO – No início de seu trabalho, quando recheava a seleção com jogadores da Copa do Mundo de 2014, o treinador dava seu próprio exemplo a eles como maneira de mostrar que, em 2018, poderiam se recuperar do tombo que levaram. “Em 1990, eu sofri para caramba, assim como outros jogadores da seleção. Mas quatro anos depois tive a chance de dar a volta por cima”, dizia.
Dunga se referia ao fracasso na Copa do Mundo de 1990, quando o Brasil caiu diante da Argentina nas oitavas de final e a seleção foi bastante criticada (sobretudo ele), e à redenção em 1994, quando levantou a taça pelo tetracampeonato. Detalhe: do grupo que foi à Itália, 10 jogadores tiveram uma segunda chance nos Estados Unidos. E teriam sido 11, se o zagueiro Ricardo Gomes não tivesse se machucado às vésperas do Mundial.