A Chapecoense virou case de sucesso no futebol brasileiro devido à sua rápida ascensão nos últimos anos. O clube subiu da Série D do Campeonato Brasileiro para a Série A em apenas cinco anos e, desde a sua chegada à elite do Nacional, em 2014, tem desbancado times tradicionais e com orçamentos mais volumosos.
Fundada em 1973, a história da Chapecoense começou a mudar a partir de 2005. Com dívidas que somavam R$ 1,5 milhão e eram consideradas impagáveis, a diretoria chegou a cogitar a possibilidade de fechar definitivamente as portas do clube. Um grupo de empresários da cidade, ligados ao ramo de frigoríficos e ao agronegócio, no entanto, se uniu para quitar as pendências e salvou o time da falência.
A mudança de gestão e o equilíbrio nas finanças não demoraram para começar a dar resultado. Em 2007, o time foi campeão estadual depois de 11 anos de jejum. Duas temporadas depois, conseguiu subir da Série D para a C do Brasileiro.
Junto com os acessos de divisão, veio também o expressivo aumento na arrecadação em um curto espaço de tempo. O orçamento de R$ 13 milhões em 2013 saltou para R$ 45 milhões nesta temporada. Mesmo assim, é quase 10% dos R$ 400 milhões recebidos pelo Flamengo, por exemplo.
O mesmo abismo se vê em relação ao patrocínio da Caixa Econômica Federal, que para estampar a marca do banco no uniforme do clube paga R$ 4 milhões por ano. Já o Corinthians recebe R$ 30 milhões.
Mesmo com o aumento nas receitas nas últimas temporadas, a maneira de administrar o clube permaneceu inalterada. Dono de uma distribuidora de frutas na cidade, o presidente da Chapecoense desde 2008 era Sandro Pallaoro, morto no acidente de avião.
Ao lado de outros empresários da cidade que faziam parte da diretoria, ele implantou uma política de austeridade financeira e só gastava o dinheiro que tinha em caixa. Com folha salarial de R$ 2 milhões, a Chapecoense surpreendeu ao anunciar que pagou 14º salário aos seus funcionários em 2015 – uma forma de gratidão.
A filosofia de Pallaoro era fazer o que ele chamava de “um futebol diferente do praticado no Brasil”, honrando salários em dia no clube. Nas últimas temporadas, a Chapecoense se destacou por ter um elenco homogêneo, sem grandes atletas.
O teto salarial era de R$ 100 mil por mês. Segundo o dirigente, não adiantava contratar um jogador medalhão. A filosofia era buscar no mercado jogadores com motivação para atuar na Chapecoense e ambição de defender a equipe para crescer profissionalmente no futebol.
No grupo de jogadores mortos no acidente aéreo, o único que destoava desse perfil era o meia Cleber Santana, de 36 anos, capitão do time, e com passagens por Santos, São Paulo, Atlético-PR e os espanhóis Atlético de Madrid e Mallorca.
CT E BONS PÚBLICOS – A menina dos olhos da Chapecoense é o centro de treinamento, inaugurado em 2014. O local custou R$ 2 milhões, ocupa uma área total de 83 mil metros quadrados, possui três campos oficiais e um anexo para as categorias de base, cinco vestiários, academia, sala de massagem, sala de fisioterapia, rouparia e cozinha. Antes da construção do CT, a equipe treinava em campos localizados em fazendas e fábricas de empresários da região.
Os 200 mil habitantes da cidade da parte Oeste de Santa Catarina distante quase 600 quilômetros da capital Florianópolis, “abraçaram” o time. Com 7,6 mil torcedores por jogo no Campeonato Brasileiro, a Chapecoense tem a melhor média de público entre os clubes catarinenses e está à frente também de Botafogo, Ponte Preta e América-MG, rebaixado.