Data abençoada

Entenda por que o 8 de dezembro é uma data cheia de significado e fé para torcedores do Botafogo

Alvinegro pode ser campeão brasileiro após 29 anos, diante do São Paulo, em dia marcado por história e devoção

O 8 de dezembro pode ser conhecido como o dia que o Botafogo pôs fim ao jejum de 29 anos e coroou uma campanha irretocável com o título do Campeonato Brasileiro de 2024. Porém, muito antes do jogo de hoje contra o São Paulo, esta data já era histórica para o clube de General Severiano.

O Clube de Regatas Botafogo e o Botafogo Futebol Clube permaneceram separados até uma tragédia em uma partida de basquete entre eles, no dia 12 de junho de 1942. O jogador Albano, do Botafogo Futebol Clube, morreu em quadra, vítima de um infarto fulminante. O jogo foi interrompido e nunca terminado. A morte foi o estopim para o presidente Augusto Frederico Schmidt, do Regatas, sugerir que os clubes se fundissem num só. A fusão foi oficializada seis meses depois, no dia 8 de dezembro de 1942.

A criação do Botafogo de Futebol e Regatas também é marcada pela celebração da Nossa Senhora da Imaculada Conceição, padroeira do alvinegro.

A fé envolve a paixão pelo preto e branco de uma série de devotos. A família Monteiro é apenas um entre muitos exemplos. Alexandre, 62 anos, herdou o amor divino e futebolístico da sua mãe Conceição ao nascer na Policlínica de Botafogo, Zona Sul do Rio, em frente à sede de General Severiano.

O filho Breno, 30, não poderia deixar a doutrina familiar de lado, ao mesmo tempo que carrega consigo a religião umbanda em vez da católica. Ele fez questão de se casar com a também botafoguense Luiza em uma “pequena e apertada” capela da Nossa Senhora da Conceição — sincretizada com Oxum para os umbandistas —, na Tijuca, Zona Norte.

“Ser Botafogo é ver o “Brasil de nossa gente” feliz, independentemente da opinião, religião ou posição política diferentes que as pessoas compartilham. Apesar de meu pai ser católico e eu umbandista, não tem nenhum tipo de preconceito”, destaca Breno.

Com muitos pedidos e orações à padroeira do clube, Breno e Alexandre se desdobraram financeiramente por um motivo mais do que especial: vivenciar o título inédito da Libertadores, em Buenos Aires. A emoção foi tanta que o filho chegou a desmaiar no terceiro gol marcado por Júnior Santos. Hoje, pai e filho estarão novamente lado a lado, no mesmo lugar de sempre do setor Leste Inferior do Nilton Santos.

Outro devoto alvinegro que viu de perto a glória eterna foi o padre Kadun Dornelles, 39, que sentiu mais do que nunca a presença de Nossa Senhora da Conceição. Sem ingresso para o provável jogo do título, ele espera celebrar outro troféu na “missa que marcará sua vida”, hoje, às 18h, na Paróquia Santos Anjos, no Leblon, Zona Sul.

“Nossa Senhora sempre esteve em minhas orações pelo clube. Como pode jogar com um jogador a menos e vencer fazendo três gols? Eu clamei por seu auxílio e fui atendido”, agradece Kadun.

Por Breno Angrisani e Lucas Ribeiro — Rio de Janeiro