Medo

Ex-Atlético-GO e Vila Nova, Matheuzinho relata dias de temor por conta de guerra civil no Sudão

Jogador assinou com o Al-Merreikh, disputou seis jogos, mas foi surpreendido com guerra que assola o país nos últimos dias

Com passagens pelo Atlético Goianiense e Vila Nova, Matheuzinho marcou o seu nome na história recente do futebol goiano. Porém, o atleta está longe de passar por dias felizes. Para essa temporada, o meia-atacante assinou com o Al-Merreikh, do Sudão, disputou seis partidas e acabou sendo surpreendido, assim como o resto do país, por uma guerra civil que está assolando o território e que vem acumulando mortes e atentados nos últimos dias.

O Sudão, que fica no norte da África, é um dos países mais pobres do mundo. De acordo com a ONU, 15 dos 45 milhões de habitantes do país passam fome, e três milhões de crianças de menos de cinco anos apresentam quadro de desnutrição severa. Com um histórico de crise humanitária nas últimas décadas, um golpe militar vem se instalando desde 2021. O principal grupo paramilitar afirma ter assumido o controle neste sábado (15) do palácio presidencial, da residência do chefe do Exército, do aeroporto internacional de Cartum (capital do país), além de aeroportos nas cidades de Merowe e El Obeid, em uma aparente tentativa de golpe. Há relatos de ao menos três civis mortos.

“Para ser sincero, nós fomos pegos de surpresa. Estávamos na Arábia Saudita jogando a Arabe Cup, voltamos para o Sudão e dormimos em um país e acordamos em outro, já com granadas, bombas, caça passando, tiro para todos os lados e é uma sensação que a gente não deseja para ninguém. Muitas pessoas estão perdendo a vida em um conflito muito grande, para não falar de política, pois é um tema que eu prefiro não falar, por conta da minha segurança, mas é tudo que vocês estão acompanhando na internet, com essa briga de poder. Estamos em um país que precisa de autorização para viajar, é ‘outro mundo’. Quero voltar para a minha família, mas também quero que todos aqui fiquem em paz. Estou com o coração aflito e dormimos sem saber o que acontece no outro dia”, contou Matheuzinho.

O clube conta com mais brasileiros além de Matheuzinho. Também estão no elenco o lateral-direito Alex Silva, que já passou por Goiás e Vila Nova, o zagueiro Sérgio Raphael e o atacante Paulo Sérgio. Na comissão estão: o treinador Heron Ferreira, além de José Esdras, Itamar Rodrigues e Joílson Amorim. Os alimentos estão acabando e o brasileiro relatou que não há pessoas na rua, por conta do medo.

“Somos nove brasileiros, cinco da comissão técnica e quatro jogadores, estamos todos no mesmo prédio, mas em dois apartamentos diferentes. A comida está acabando, é uma situação muito triste, o gerador do prédio não sabemos até que horas vai aguentar com a energia para gente. Sentimos medo a todo o momento. A noite é um pouco mais tranquila, mas quando o sol nasce já volta tudo ao normal, acordamos temendo pela vida. Estamos buscando soluções, já falamos com Itamaraty, consulado e todo mundo que já pudemos imaginar. Recebemos mensagem para continuar onde estamos que tudo vai ficar bem. Recebi uma mensagem de uma mulher do consulado e eu tive que passar força para ela, pois ela estava sozinha e os caças estavam passando enquanto ela se escondia. Pedimos oração para vocês, que essa mensagem possa chegar a quem possa nos ajudar a sair daqui”, completou Matheuzinho.