Justiça manda bloquear R$ 46 milhões de patrocinadora do Corinthians em paraíso fiscal
Segundo o MP, os valores movimentados pela Esporte da Sorte, patrocinadora do Corinthians, é provenientes de infração penal
DEMÉTRIO VECCHIOLI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Justiça de Pernambuco atendeu pedido da Polícia Civil e determinou o bloqueio de 6,3 milhões de libras esterlinas (R$ 46 milhões) encontradas em uma conta associada à Esportes da Sorte na Ilha de Man, um paraíso fiscal localizado entre a Inglaterra e a Irlanda do Norte.
Procurada pela Folha de S.Paulo, a Esportes da Sorte não quis comentar a decisão.
Por essa conta, a bet patrocinadora master do Corinthians teria movimentado o equivalente a 485 milhões de euros (R$ 2,9 bilhões), sendo 10 mil libras esterlinas (R$ 73 mil) em uma transferência a conta ligada ao cantor Gusttavo Lima nas Ilhas Cayman, outro paraíso fiscal. O relatório da polícia cita o repasse, mas não o relaciona a indícios de irregularidades.
Em nota publicada no fim de setembro, a defesa do artista afirmou que “a relação do cantor com as empresas investigadas era estritamente de uso de imagem e decorrente da venda de uma aeronave” e que foi “tudo feito legalmente”.
A decisão da juíza Andréa Calado da Cruz foi tomada na segunda-feira (25), quatro horas e meia depois de o Ministério Público de Pernambuco (MP-PE) requerer o arquivamento da investigação contra Gusttavo Lima e outras quatro pessoas por crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
O MP, em documento gerado às 14h09 de segunda, disse que inexistem “elementos que demonstrem que os valores das operações suspeitas são provenientes de infração penal, e em razão da absoluta inexistência de correlação dessas movimentações com o investigado Darwin Henrique da Silva Filho, possível contraventor do jogo do bicho, e suas empresas”.
Maioria dos brasileiros acha que ‘bets’ aumentam risco de manipulação no futebol 71% dos brasileiros são contra propagandas de apostas Entre jogadores, 5% já venderam alguma coisa para apostar, segundo Datafolha Na mesma manifestação, o MP pediu que a juíza do caso, Andréa Calado da Cru, se abstivesse de “deferir medidas cautelares requeridas pela Autoridade Policial com alegação genérica de que os valores em relação aos quais se pleiteia bloqueios são provenientes de infração penal de jogos ilegais da Esportes da Sorte”, reclamando que a juíza vem decidindo a respeito sem ouvir o Ministério Público, titular da ação penal.
Em decisão sigilosa à qual a Folha teve acesso, assinada às 18h43, a juíza da 12ª Vara Criminal da Capital de Pernambuco fez o contrário do que pediu o MP. Acatou o pedido da Polícia Civil sem consultar o MP, apontando que “as evidências indicam que os valores no montante de 6,3 milhões de libras esterlinas estão associados a atividades ilícitas, provavelmente relacionadas a jogos ilegais e lavagem de dinheiro no Brasil”.
O dinheiro foi encontrado pela polícia em contas da HSF Gaming, operadora da marca Esportes da Sorte, no Capital International Bank Limited, na Ilha de Man. Darwin Filho é, de acordo com a denúncia da polícia, o “beneficiário final” do recurso.
Para a juíza, o uso de “uma estrutura financeira internacional sugere uma tentativa deliberada de ocultação da origem ilícita dos recursos e dificulta a rastreabilidade dos mesmos, o que é típico em casos de lavagem de dinheiro.”
Só nos últimos 12 meses, essas contas receberam 100 milhões de libras esterlinas (R$ 730 milhões, sendo 8% desse total por meio de provedores de serviços de pagamento.
A denúncia cita que a Esportes da Sorte aceita apostas por quatro intermediadoras de pagamento, que receberam R$ 15 bilhões entre 2009 e setembro de 2024. O documento, porém, não detalha se o valor é relativo somente a depósitos que tinham o grupo da Esportes da Sorte como beneficiário.
Ao defender o bloqueio, a polícia citou que a Justiça havia decretado o bloqueio de R$ 600 milhões dos investigados, mas que os valores encontrados até aqui, já incluindo os R$ 46 milhões em Man, “não chega nem perto” do total bloqueado.
No relatório, a Polícia Civil diz ainda que o bloqueio, se autorizado pela juíza, iria embasar um pedido de cooperação jurídica internacional junto ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do MJSP, para repatriação ao Brasil de tais valores.
Em carta divulgada no começo de outubro, Darwin Filho afirmou que as operações da Esporte da Sorte são dentro da lei. “Nossa atividade é lícita, já as organizações criminosas são difíceis de combater e acredito que isso deve ser separado. A minha atitude sempre foi defender a lei. Também sempre pautei nossa atuação em favor das boas práticas, do jogo responsável e o defendo como forma de entretenimento.”
A empresa fechou contrato em julho com o Corinthians que prevê R$ 309 milhões em três anos. A bet também vai bancar os R$ 57 milhões do pacote de R$ 70 milhões pela contratação do atacante Mephis Depay.