Guerra pelo poder na CBF afasta VP da seleção e reforça papel de Juninho
O rompimento entre Ednaldo Rodrigues e Gustavo Feijó mexe com o modus operandi da gestão da seleção
Ednaldo Rodrigues e Gustavo Feijó sentaram-se na mesma fileira do auditório da sede da CBF, na sexta-feira passada, para acompanhar a convocação do técnico Tite para os jogos da seleção brasileira contra Chile e Bolívia, pelas Eliminatórias. Se ali estavam separados por duas cadeiras, a distância é bem maior quando em relação à sucessão na presidência da CBF, ao cotidiano da entidade e à condução da seleção brasileira.
O primeiro, baiano, está na cadeira mais importante da entidade, enquanto o segundo, alagoano, um dos vices, se articula para tentar articular uma chapa de oposição. O rompimento entre os dois mexe com o modus operandi da gestão da seleção e reforça o papel que o coordenador Juninho Paulista tem a cumprir a oito meses da Copa do Mundo.
Feijó se reaproximou do cotidiano e das decisões tomadas na seleção brasileira desde agosto do ano passado, ainda quando o presidente interino era o Coronel Nunes. Rogério Caboclo já tinha sido afastado, em um momento que uniu os vices da CBF e, até então, tinha Ednaldo e o dirigente alagoano atuando no mesmo lado. Ao fim daquele mesmo agosto, o baiano assumiu a presidência, com apoio dos pares, em uma proposta dos cartolas para acalmar as federações e garantir a união do movimento contra Caboclo.
Nesse cenário, Feijó se aproximou de Juninho Paulista e de Tite. Passou a ser figura presente nas viagens da seleção, inclusive para os jogos no exterior. Ednaldo também passou a marcar presença, embora o perfil boleiro seguisse concentrado em Feijó. Enquanto Ednaldo, com a caneta na mão, passou a angariar alianças pensando na eleição, Feijó desconstruiu a imagem de uma figura de trato difícil junto aos profissionais da seleção. Até surpreendeu alguns ouvidos pelo UOL.
Em janeiro, na data Fifa passada, ainda havia convivência e um discurso nos bastidores de que uma aliança era possível. Feijó até apareceu em um dos treinos da seleção na Toca da Raposa, em Belo Horizonte. À beira do campo, conversou longamente com Juninho. Mas veio o rompimento com Ednaldo. O conflito foi deflagrado de vez em fevereiro.
Sem diálogo com o presidente em exercício, Feijó já não trata mais dos assuntos da seleção. O dirigente, inclusive, deixou Juninho Paulista à vontade para não procurá-lo mais e buscar a tramitação dos assuntos diretamente com Ednaldo.
O presidente da CBF nas últimas semanas tem se cercado mais de advogados -já que a pauta recorrente na entidade envolveu processos e recursos judiciais, além dos trâmites para assembleia e eleição- do que de vice-presidentes na tomada de decisão. Isso envolve a seleção. Sem um VP para fazer o meio-campo, Juninho teve seu papel de liderança reforçado.
Na próxima data Fifa, é certo que não haverá Feijó na viagem. Inclusive, a eleição para presidente da CBF foi marcada para o dia 23, véspera do jogo contra o Chile (dia 24), no Maracanã.
Ednaldo vai registrar chapa, mas ainda não definiu quais serão os seus vices. O cenário atual não aponta uma reaproximação a Feijó, que, por sua vez, faz uma articulação para registrar a própria chapa nesta semana.
O chefe de delegação da seleção brasileira nos próximos dois jogos será Ricardo Lima, presidente da Federação Bahiana e ex-vice de Ednaldo na entidade estadual. Hoje, também um aliado político -embora em um passado não tão distante a relação entre os dois tenha ficado estremecida.