Hamilton reconhece que questionou próprio talento em anos de ‘seca’
Hamilton demonstra ter aprendido e até redescoberto algumas coisas ao longo desses dois anos em que não venceu uma corrida sequer
Imagine ter sido capaz de feitos como fazer a última volta de uma corrida com um dos pneus furados e ainda vencer. Ter um número de pódios equivalente a todos os GPs disputados desde junho de 2014. Ter mais títulos que os outros campeões do grid atual juntos. E simplesmente não se entender com seu carro por dois anos seguidos.
É claro que Lewis Hamilton questionou várias vezes se o problema não era ele mesmo. Nas últimas duas temporadas, em que a Mercedes sofreu para entender seu carro, desde uma mudança de regra, o heptacampeão passou por muitos altos e baixos. Várias vezes, durante um mesmo final de semana.
Reclamou por não ser ouvido pelos engenheiros, comemorou performances que lhe deram quintos lugares, disse que estava contando os dias para aposentar o carro, que suas classificações eram inaceitáveis, disse que estava mais faminto do que nunca. Uma montanha-russa.
“No final das contas, quando você tem temporadas difíceis como esta, sempre haverá momentos em que você vai pensar: ‘Sou eu ou é o carro?’ Porque você sente falta de quando a mágica acontece, quando tudo se junta, o carro e você, e aquela faísca, é extraordinário. E é isso que você está procurando.”
“Sou humano”, disse o piloto, que faz 39 anos em janeiro, à BBC. “Se alguém no mundo disser que não pensa nessas coisas, essa pessoa está em negação. Somos todos seres humanos.”
Hamilton demonstra ter aprendido e até redescoberto algumas coisas ao longo desses dois anos em que não venceu uma corrida sequer (algo que não tinha acontecido em suas primeiras 15 temporadas na F1). Aprendeu que o caminho de volta a ter um carro vencedor não é linear. E redescobriu o sentimento que o faz gostar tanto de pilotar.
Tanto, que o piloto que dizia, quando estava colecionando vitórias e títulos, que não ficaria por mais tempo na categoria, hoje tem contrato para correr até perto dos 41 anos. E não descarta uma renovação.
“O que você precisa aprender é nunca dizer nunca. Naquela época, eu definitivamente não pensava que continuaria. É muito tempo longe de todo mundo. Faço isso há 16 anos. É cansativo. Há muito glamour e muitos aspectos positivos, mas não é nada fácil estar no seu melhor, sempre comprometido, continuar treinando, continuar entregando performance.”
“CHEGUEI EM UM PONTO EM QUE NÃO TENHO COMO VENCER”
Essa redescoberta também passou pela compreensão do que é uma vitória para ele nessa fase da carreira. Recordista em vários aspectos na F1, ele não acha que resultados em si vão mudar alguma coisa.
“Estou em um ponto da minha vida onde não tenho como vencer. Se eu ganhar uma corrida, é: ‘Oh, ele é heptacampeão, conseguiu 103 vitórias.’ Se eu não for bem, é [crítica]… Só posso perder neste momento da minha vida. Então, com certeza teve uma época em que eu estava questionando se queria passar por isso.”
Então Hamilton começou a focar na sensação que tem ao pilotar. “Ainda adoro entrar no carro. Quando eles ligam o carro e você tem todas aquelas pessoas ao seu redor, a equipe, você desce pelo pit lane, eu ainda entendo esse sorriso no meu rosto da mesma forma que tinha no primeiro dia em que pilotei.”
Ele avalia que a temporada foi positiva aos domingos – ele ficou em terceiro lugar no mundial, atrás dos dois pilotos da Red Bull – mas sente que ficou devendo aos sábados – em que empatou em termos de resultado com o companheiro George Russell, que admitiu ter tido um ano muito difícil.
“A maioria das minhas performances nas corridas foi muito boa, então estou feliz com isso. Voltando ao nível em que deveria estar. A classificação ainda é uma área que precisa ser melhorada. Tivemos dificuldades para tirar desempenho desses pneus e por isso às vezes o George estava muito mal e eu bem, e depois isso se invertia.”
Essa inconsistência marcou o ano da Mercedes, mas eles acreditam que encontraram um caminho para o carro, que só não pôde ser colocado em prática ainda por restrições que vêm do teto de gastos da F1 e também de peças homologadas durante a temporada.
“Acredito que temos um norte agora, algo que não acho que tivemos por dois anos”, diz Hamilton. “Mas mesmo assim para chegar lá não é uma linha reta.”