Inquieto, Lisca cobra mais do elenco e funcionários e ‘chacoalha’ o Santos
Lisca evita ser chamado de “Doido”, mas o Santos tem entendido na prática os motivos…
Lisca evita ser chamado de “Doido”, mas o Santos tem entendido na prática os motivos do apelido. O novo treinador já chacoalhou o clube em menos de uma semana.
A diretoria entende que Lisca está tirando alguns jogadores e funcionários da zona de conforto. Em seis dias, o técnico já reclamou da logística, mudou a rotina no CT Rei Pelé e ficou incomodado com a base.
“Uma gincana”
Lisca não poupou palavras ao reclamar da viagem do Santos para Fortaleza no empate em 0 a 0, no último domingo (24). Como era de costume com a comissão de Fabián Bustos e outros técnicos, o Peixe ia um dia antes das partidas. E não será mais assim.
A delegação chegou na capital do Ceará na noite de sábado para poder jogar com o Fortaleza no domingo. Festas na cidade atrapalharam ainda mais a logística apertada. Ao saber da programação, Lisca pediu mudanças, mas não houve tempo hábil.
Um dos motivos para o Santos viajar à véspera do jogo é a vontade do elenco, que ganha mais um dia com a família. Lisca já conversou com os atletas e avisou sobre a necessidade de “sacrifício”.
“Foi uma gincana. Vamos melhorar. Se não pudermos vir dois dias antes e sacrificar um pouco, estamos no clube errado. Santos é um gigante e tem que se preparar bem para as partidas, priorizando recuperação”, disse Lisca.
NOVOS HORÁRIOS E MAIS INTENSIDADE
O Santos de Fabián Bustos treinava logo cedo depois de jogos na Vila Belmiro. Os atletas chegavam na madrugada e às 8h já estavam no CT para o regenerativo.
Lisca chegou a Santos na quarta-feira, dia da vitória por 2 a 0 sobre o Botafogo na Vila. E se surpreendeu quando soube do horário do treino de quinta.
“A recuperação não pode ser na quinta-feira pela manhã. O sono é o maior recuperador que o jogador pode ter. O LeBron James dorme 12 horas por dia. Dormem para recuperar, parecem ursos hibernados. Não podemos terminar o jogo 0h e recuperar de manhã. Temos que dormir e recuperar às 15h”, avaliou o treinador.
Os treinamentos de Lisca também têm sido mais longos. Os atletas estavam acostumados com atividades intensas, só que com menor duração. O novo comandante quer alternar horários e cargas para não deixar os jogadores na mesmice.
O UOL Esporte apurou que Lisca atrasou o horário de almoço e a saída do ônibus em Fortaleza. O técnico se alongou na palestra e na preleção para preparar o time nos mínimos detalhes.
“Treinei um pouco demais em intensidade. O Santos está acostumado com treino mais curto, mas eu gosto. Não podemos ficar sempre na mesma batida, assim a performance não melhora. Temos que exigir mais como é com quem corre. Começa com 10 minutos e depois vai até maratona”, afirmou Lisca.
“São detalhes que fazem a diferença. Podemos perder um reino por causa do prego da ferradura do cavalo. O mensageiro não chega e, sem a mensagem, não tem jeito… Pequenos detalhes são fundamentais”, completou.
Lisca tem aproveitado ao máximo essa semana livre antes do Santos enfrentar o Fluminense, segunda-feira (1º), na Vila. O Peixe treinará às 9h na quarta e às 15h na quinta, sexta, sábado e domingo.
MUDANÇA DE ÚLTIMA HORA
Um dos primeiros objetivos de Lisca no Santos foi escolher a dupla de zagueiros para enfrentar o Fortaleza. Sem Maicon e Luiz Felipe, no departamento médico, o técnico esboçou o time com Eduardo Bauermann e Alex e chamou Jair, do sub-20, para treinar com ele.
Jair, de 17 anos, seria relacionado para a viagem ao Ceará, mas, de última hora, avisou o clube sobre um remédio para espinhas indicado por uma dermatologista. A medicação não causa ganho esportivo, mas é proibido pela Associação Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).
Se Jair não avisasse e fosse sorteado para o doping, poderia ser punido. Lisca ficou incomodado com a situação e questionou as categorias de base sobre o acompanhamento dos meninos e as regras para uso de remédios.
Esse exemplo do Jair mostra como Lisca se preocupa além dos treinos e jogos. Na coletiva de imprensa, o técnico disse que não pensa muito a longo prazo. A ideia é melhorar o Santos em pouco tempo e, para isso, quer aproveitar cada segundo.
“Bons treinadores são os que conseguem resultados em pouco tempo, na Europa são anos. Não tenho medo de sair do Santos. Não gostaria, mas a minha vida vai seguir e terei outra oportunidade. Sou bom no que faço. São 32 anos de carreira. Para sermos bons mesmo, precisamos de resultado e vou tentar isso. Se eu não conseguir, paciência.”