Já tetra, Zagallo enfrentou críticas antes de levar seleção brasileira a mais uma final
s clamores por sua saída se tornaram mais constantes depois dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Campeão como jogador em 1958 e 1962, como treinador em 1970 e como coordenador em 1994, Zagallo voltou a assumir o time na função de técnico após o tetra. Nesse novo ciclo, a caminho da Copa do Mundo de 1998, foi muito contestado por seus críticos, que o consideravam ultrapassado e cada vez mais adepto de um futebol defensivo.
Os clamores por sua saída se tornaram mais constantes depois dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. A disputa semifinal foi trágica: com 3 a 1 a favor, a seleção permitiu o empate da Nigéria, que venceu a prorrogação na “morte súbita”.
Esse dia foi considerado por Zagallo o mais doloroso de sua história na seleção. “Ficou engasgado. O jogo estava ganho.” A equipe que buscava o inédito ouro olímpico voltou para casa com o bronze.
O alívio para o treinador veio somente na Copa América de 1997, na Bolívia. Alívio na forma de ataque.
Campeão ao superar a seleção anfitriã, Zagallo, ainda em campo e exasperado, soltou aos microfones da TV Globo a célebre frase: “Vocês vão ter que me engolir!”. Segundo ele, direcionada a dois jornalistas da mídia impressa de São Paulo que faziam campanha para derrubá-lo.
Desse modo, e ainda mais fortalecidos por outro título em 1997 (o da Copa das Confederações), Zagallo e sua seleção chegaram prestigiados à Copa da França, em 1998.
Ronaldo Fenômeno, então ainda chamado de Ronaldinho, vivia fase áurea, com o faro artilheiro apuradíssimo. Havia favoritismo, e o time foi à final.
Ironia, foi Ronaldo, a estrela mais cintilante do time, o responsável pelo abatimento de um elenco que, segundo Zagallo, vivia uma “felicidade total” após eliminar a Holanda, nos pênaltis, nas semifinais. “Aí aconteceu aquele desastre e abalou todo o time.”
Horas antes da decisão contra os anfitriões, o atacante sofreu uma crise nervosa na concentração e teve de ser levado para atendimento em uma clínica. Zagallo chegou a escalar Edmundo, mas recuou quando Ronaldo apareceu no vestiário.
“O Ronaldo chegou quase em cima da hora e já veio com meia, calção… pronto para jogar: ‘Zagallo, não me tira dessa. Pelo amor de Deus, não me deixe de fora’.” Foi atendido.
Só que nem Ronaldo nem o Brasil se acharam e tiveram uma atuação pífia. França, Zidane à frente, campeã fácil, 3 a 0.
O mesmo Zidane esteve em campo no jogo que encerrou a participação de Zagallo em Copas do Mundo. Na Alemanha, em 2006, nas quartas de final, o craque francês teve atuação portentosa no 1 a 0, gol de Henry, que eliminou o Brasil.
Nesse Mundial, como coordenador técnico, Zagallo havia retomado a parceria com Carlos Alberto Parreira, o técnico do tetra, que reassumira a seleção na tentativa do hexa -o penta viera quatro anos antes.
Perto de completar 75 anos, Zagallo não se mostrou tão ativo. Estava mais magro e menos vigoroso, efeito da cirurgia a que foi submetido em 2005 para a retirada de um tumor no duodeno. No procedimento, a vesícula e parte do estômago também foram extraídos.