Jorge Jesus guia Al Hilal para recorde mundial com 28 vitórias seguidas e sem Neymar
O recorde veio após uma vitória por 2 a 0 contra o Al Ittihad, de Romarinho e Marcelo Gallardo, válido pelo duelo de volta das quartas de final da Liga dos Campeões da Ásia
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O saudita Al Hilal, de Jorge Jesus e Neymar, alcançou nesta terça-feira (12) o recorde mundial de vitórias consecutivas no futebol, com 28 triunfos em sequência.
O recorde veio após uma vitória por 2 a 0 contra o Al Ittihad, de Romarinho e Marcelo Gallardo, válido pelo duelo de volta das quartas de final da Liga dos Campeões da Ásia, no estádio King Abdullah Sports City, em Jeddah, na Arábia Saudita.
O primeiro gol da partida foi marcado pelo lateral saudita Al-Shahrani, aos 15 minutos do segundo tempo. Já nos acréscimos, o brasileiro Malcom recebeu livre na entrada da área e ampliou.
Com a vitória, o Al Hilal se isolou como o recordista de vitórias consecutivas no futebol profissional, ultrapassando a equipe galesa The New Saints, que chegou à marca de 27 jogos na temporada 2016/17.
No futebol amador, já tiveram times que alcançaram sequências ainda maiores, como o Sparta Praga, da República Tcheca, que engatou 58 vitórias seguidas nos anos 1920, nos primórdios do então Campeonato Tchecoslovaco. Já na era do profissionalismo, o time saudita se estabeleceu nesta terça-feira como o dono da maior sequência de vitórias.
A atual série de vitórias do Al Hilal teve início em 25 de setembro do ano passado, quando a equipe venceu o Al Jabalain por 1 a 0 pela Copa do Rei Saudita. Ao todo, foram 16 vitórias pelo Campeonato Saudita, nove pela Liga dos Campeões da Ásia e três pela Copa do Rei. A trajetória inclui goleadas por 9 a 0 contra o Al-Hazm e por 7 a 0 contra o Abha Club, pelo Saudita.
Embora o futebol saudita não tenha a mesma tradição em comparação às grandes ligas da Europa, a chegada de jogadores que atuavam por grandes clubes europeus mudou o futebol local de patamar, na avaliação do técnico português Jorge Jesus. Segundo o luso, eleito em março o melhor técnico da liga saudita pela quarta vez seguida, o nível do torneio local está hoje acima do futebol praticado em Portugal.
“Não quero fazer comparações, mas se pensarmos um pouco, é fácil perceber. A qualidade dos jogadores das equipes aqui da Arábia, como o Al-Ittihad, o Al Hilal, o Al Nassr ou o Al-Ahli, custam milhões. Nem há comparação possível com Portugal. Só quem não acompanha o campeonato saudita é que não percebe as diferenças entre as equipes. Se os grandes jogadores que estavam na Europa agora estão aqui, forçosamente os times daqui são melhores”, declarou Jesus à publicação portuguesa Record após a vitória contra o Al-Ettifaq em fevereiro que representou o 24º triunfo consecutivo.
A própria presença do técnico multicampeão com o Flamengo no banco do Al Hilal é apontada como uma das razões para a sequência vitoriosa.
Jorge Jesus mostrou durante sua passagem no rubro negro uma habilidade ímpar de se adaptar a um contexto muito diferente do europeu, diz Thiago Freitas, diretor de operações da Roc Nation Sports no Brasil, empresa responsável pela administração da carreira de jogadores como Vinicius Junior, Endrick e Lucas Paquetá.
Na Arábia Saudita, assim como foi no Brasil, o treinador conseguiu ajustar a conduta dos atletas para implementar um modelo de jogo mais equilibrado que o anterior, com um sistema ofensivo fazedor de gols aliado a uma solidez defensiva –na sequência de 28 vitórias, o time fez 77 gols e levou apenas sete–, diz Freitas. “Ele é o grande responsável por essa sequência incrível”, afirma o diretor da Roc Nation.
Também pesa a favor da atual fase do Al Hilal o fato dele ter sido o time saudita que, de longe, mais gastou na última janela de transferências com reforços para o elenco.
Além de Neymar, o Al Hilal reforçou o plantel com nomes como dos sérvios Aleksandar Mitrovic e Sergej Milinkovic-Savic, vindos do Fulham e da Lazio, respectivamente, além do brasileiro Malcom, contratado junto ao Zenit da Rússia.
Também chegaram o zagueiro senegalense Kalidou Koulibaly, ex-Barcelona, o goleiro marroquino Bono, que defendia o Sevilla, e o lateral esquerdo Renan Lodi, ex-Olympique de Marselha.
Ao todo, o maior campeão saudita, com 18 títulos, gastou cerca de 376 milhões de euros na janela de contratação da temporada passada, ou cerca de R$ 2 bilhões, segundo dados do site especializado Transfermarkt. Neymar foi a contratação mais cara, vindo do PSG (Paris Saint-Germain) por 45 milhões de euros (R$ 244 milhões).
Sem poder contar com o astro da seleção brasileira, que está fora de ação desde outubro do ano passado e participou de apenas dois jogos da atual sequência de vitórias, o Al Hilal tem se valido da boa fase de Mitrovic para despontar na liderança do saudita com 65 pontos, 12 à frente do segundo colocado. O sérvio é o vice-artilheiro da competição, com 20 gols em 20 partidas.
A artilharia da competição é do português Cristiano Ronaldo, que fez 22 gols em 21 partidas até aqui, garantindo ao Al Nassr, do técnico Luis Castro, ex-Botafogo, a segunda posição na tabela de classificação, com 53 pontos.
Os gastos do Al Nassr para reforçar o plantel foram sensivelmente menores que os do Al Hilal, somando cerca de 165 milhões de euros (R$ 897 milhões).
Além da chegada sem custos de Ronaldo, que havia rescindido o contrato com o Manchester United, os maiores gastos foram com a vinda do senegalense Sadio Mané (20 milhões de euros; R$ 109 milhões), ex-Bayern de Munique, e do meia brasileiro naturalizado português Otávio (30 milhões de euros; R$ 163 milhões), ex-Porto, além do zagueiro Aymeric Laporte (25 milhões de euros; R$ 136 milhões), vindo do Manchester City.
Na segunda-feira (11), o Al Nassr perdeu para o Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, na disputa por pênaltis, e foi eliminado da Liga dos Campeões. Cristiano Ronaldo foi bastante criticado pela mídia do país por uma clara chance desperdiçada no segundo tempo e pela atuação apagada durante todo o confronto. O Al-Ain, treinado pelo argentino Hernán Crespo, será o adversário do Al Hilal pelas semifinais da Champions asiática.
Terceiro e quarto colocados na liga saudita, Al Ahli e Al Ittihad gastaram 184 milhões de euros (R$ 1 bilhão) e 124 milhões de euros (R$ 674 milhões), respectivamente, na última janela de transferência. As principais contratações das duas equipes, contudo, ainda não conseguiram corresponder dentro de campo.
Ex-Liverpool, Roberto Firmino, do Al Ahli, fez apenas seis gols em 21 jogos. Já o vencedor do prêmio Bola de Ouro em 2022, Karim Benzema, vindo do Real Madrid, fez nove gols em 17 partidas. O francês não atuou nesta terça-feira devido a dores nas costas. Na esteira da falta de gols, ambos convivem com rumores sobre uma eventual insatisfação nos clubes e o desejo de serem negociados.