Goiânia 88 anos: Jovens atletas treinam na capital para chegar às Olimpíadas
Chegar aos Jogos Olímpicos é um sonho que estimula atletas no ginásios, quadras, piscinas, pistas…
Chegar aos Jogos Olímpicos é um sonho que estimula atletas no ginásios, quadras, piscinas, pistas e campos de Goiânia. A cidade ainda não tem tradição de formar esportistas de alto nível, com raras exceções. Mas investimentos recentes em locais de treino e na formação de jovens aos poucos transforma a capital dos goianos em um celeiro de vencedores.
Um exemplo é Lindsey Hanlet Barboza Lopes, garota de 18 anos que é exemplo de potência e resistência no atletismo. “Minha maior meta é estar nas Olimpíadas, e, mais do que isso, ser campeã. É o que almejo desde que comecei no atletismo. Acredito ser uma meta ousada, mas com treino e dedicação é possível”.
Lindsey iniciou na modalidade em em 2017, em uma competição escolar. Ao vencer uma prova de 200 metros, foi convidada pelo treinador e olheiro José Adriano Bispo de Araújo (Jabá) a integrar a Gaara, sua atual equipe. Após iniciar como velocidade, se redescobriu em competições de meio-fundo. Uma decisão que se mostrou acertada e que foi coroada por um pódio brasileiro em 2018. No ano seguinte, vieram medalhas no nacional sub-18 e nos Jogos Escolares. Lindsey mira exemplos da etíope Genzebe Dibaba, recordista mundial dos 1500m, e da sul-africana Caster Semenya, campeã olímpica dos 800m no Rio-2016.
Em 2020, conseguiu um bronze no Brasileiro Sub-20, ostentando o segundo lugar no ranking ao fim do ano. Atualmente, ela é líder dos 800m no Brasileiro Sub-20, e vice-líder dos 1500m. O destaque, no entanto, não é só em eventos nacionais. Lindsey ficou em terceiro lugar no Sul-Americano Sub-20, em Lima, no Peru, ganhando pontos para o ranking mundial. Ainda assim, lembra dificuldades enfrentadas. “No começo foi bem difícil. Não é todo atleta com condição de sair do estado e ir para fora. Foi primordial ter o apoio da minha mãe, sempre demos um jeito de ir”, destacou, apontando o apoio familiar.
Atualmente cursa Educação Física, pela FacUnicamps. Foi exatamente representante a faculdade que disputou e conquistou a medalha de prata nos 1.500m nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), em Brasília, em outubro.
Velocidade nas pistas da capital
Outro talento goianiense no atletismo é Pedro Henrique de Jesus Souza, que participa de provas de 100m e 200m, além do revezamento 4x100m.
“Desde pequeno jogava futebol, brincamos de atravessar o campo, de uns 100m e fiz um tempo legal. Meu pai (Ageu) empolgou e mandou a marca para um técnico paranaense, que convidou para treinar lá. Pelas dificuldades de ir (para o Paraná), nos recomendaram o treinador Jabá e então comecei em 2016”, contou o atleta de 17 anos, que também defende a Gaara.
Com participações em torneios por várias cidades do país, como Natal, Fortaleza e Cuiabá, o goianiense tem recordes estaduais nos 75 metros e no revezamento 4x75m. Com o jamaicano Usain Bolt – oito medalhas de ouro somando as Olimpíadas 2008, 2012 e 2016 (perdeu sua nona medalha, conquistada no revezamento 4 x 100m de Pequim-2008, por conta do doping de Nesta Carter, da sua equipe) – como ídolo, também tem o maior evento esportivo do planeta como sonho. “No atletismo o meu objetivo, que está longe ainda, mas é possível, é participar das Olimpíadas”, salientou, confiante.
Amor pelo skate e por manobras radicais são herança de família
Laura Rezende, de 17 anos, é o principal nome do skate goiano. Goianiense, convive com o esporte desde o nascimento, já que seus pais também são skatistas e, inclusive, hoje ocupam os cargos de presidente e vice da Associação Goiana de Skateboard (AGSK8)
“Comecei com 8 anos e hoje faz parte do meu dia a dia. Fico assistindo vídeos de skate e campeonatos com meus pais, além de andar em casa, já que meu pai (Eliaber Dias, vice-presidente da AGSK8) construiu uma mini ramp. Mesclo entre estudos e skate”, explicou a jovem, que irá prestar a próxima edição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Laura Rezende lembra que o Skate tem muitos adeptos, mas sempre foi visto como esporte marginalizado. De acordo com a atleta, a presença da modalidade nas Olimpíadas serviu para abrir a mente de muitas pessoas, resultando em um “boom grande”, com muitas crianças iniciando, além de aumentar o fluxo nas skate shops (lojas). “Espero que os governantes, gestores e as pessoas comecem a investir mais, não só construindo novos locais, mas também cuidem melhor das áreas que já temos, além de incentivar mais”, frisou.
“Não é nada fácil, mas um dos meus objetivos é me tornar profissional do skate, além de representar o Brasil e Goiânia nas Olimpíadas. Tem de começar nos estaduais, depois brasileiros, para depois ir ganhando convites para os eventos maiores, como X-Games. Através da pontuação nos rankings mundiais que a Federação define os representantes do país. É difícil, mas acredito que um dia eu estarei lá”, projeta, confiante.
Questionada sobre referências no esporte, Laura Rezende apontou Rayssa Leal (a ‘Fadinha’, que foi prata em Tóquio), citou amigas e atletas estrangerias, mas com destaque especial para Patrícia Rezende, sua mãe e presidente da Associação Goiana da modalidade. “É minha maior inspiração, pois não tinha competições femininas na época que ela andava. Se reunia com outras mulheres, após o trabalho, e marcavam presença, pediam os torneios. Se tem feminino (nos eventos) hoje e uma maior visibilidade, é por causa das meninas lá atrás, que buscaram espaço, então é minha mãe minha maior influência”, ressaltou, orgulhosa.
Nos Jogos Olímpicos, o skate se faz presente com duas disputas: o park e o street. No primeiro, as provas são em “bowls”, espécies de piscinas grandes – vazias, obviamente -, com série de curvas sinuosas, além de corrimões e rampas maiores, podendo alcançar maior altura e, consequentemente, uma maior variedade de manobras. Já o street tem uma pista com elementos que têm nas ruas das cidades, como corrimões, lombadas, rampas, escadas e vãos.
“Sou mais adepta do street, por influência dos meus pais e dos amigos deles, então sempre andei. Às vezes, me arrisco um pouquinho no park, mas não é muito a minha, pois tenho medo”, concluiu Laura, aos risos. Rezende agora aguarda a confirmação de uma seletiva local visando o Brasileiro Feminino, que será disputado no fim do ano.
Natação: início visando saúde se transforma em projeto olímpico
Uma das maiores revelações do esporte goiano vem das piscinas. Aos 15 anos, o goianiense Lucas Alves, nadador da Swimmers/Sesi Campinas, o jovem iniciou no esporte por conta de uma sugestão médica.
“Por instrução médica, comecei a nadar, pois ia melhorar minha rinite alérgica. Iniciei no Sesi Canaã e, melhorando os treinos, após as primeiras competições (Copas Sesi), entrei na Swimmers em fevereiro de 2016. Trabalhando bastante, vencendo torneios e conseguindo bons resultados recentes, minha meta é chegar nas Olimpíadas”, destaca, confiante.
Para conseguir o objetivo, Lucas Alves divide suas atenções entre os estudos e os trabalhos nas piscinas. De segunda a sexta, os treinos são das 15h até 17h30, enquanto nos sábados, as atividades vão das 7h30 até 10h. Os ídolos são Michael Phelps (dos Estados Unidos, um dos maiores nomes da história do esporte, com 28 medalhas olímpicos, sendo 23 de ouro) e Guilherme Costa “Cachorrão” (de 23 anos, que chegou na final dos 800m em Tóquio).
A inspiração também pode vir da história do esporte goianiense. Carlos Jayme e Bruno Bonfim competiram, com destaque, em edições dos Jogos Olímpicos. “É um atleta mais parecido com o Bruno Bonfim, que é de meio fundo e fundo, enquanto o Carlos era de provas de velocidade. Atualmente, o Lucas já conseguiu quebrar alguns recordes do Bonfim, então esperamos que siga os passos dele”, explicou Pedro Durães, que treina o atleta ao lado da professora Najla Uchôa.
“No começo, (Lucas) era um bom nadador, percebíamos talento, mas precisava trabalhar. Nada vem do zero. Se ele conquistou algo, pode ter certeza, que trabalhou bastante. A gente sabe que ele tem capacidade para evoluir mais, até pela capacidade e apoio da família. Olimpíada é um sonho, obviamente, mas que a gente vê cada vez mais palpável. Sabemos que é um trabalho árduo, bastante complexo, com os esportes cada vez mais fortes
Paris-2024 e Los Angeles-2028 são possibilidades, então temos de trabalhar”, projetou Pedro Durães.
Lucas conquistou sua primeira medalha em Campeonato Brasileiro em 2019, com um terceiro lugar nos 400m medley. Em 2021, faturou um ouro na mesma prova, além de um terceiro no 1.500m livre, um bronze também nos 200m livre, fora outros dois quartos lugares. Os próximos desafios de Lucas Alves serão a Copa Cidade de Goiânia, no Ferreira Pacheco (neste final de semana), Torneio Sudeste Infanto Juvenil (em Bauru/SP, a partir do dia 29), uma competição regional de Maratona Aquática e, por fim, o Campeonato Brasileiro.
Exemplos olímpicos
Na Olimpíadas de Tóquio, dois goianos estiveram presentes: Lais Nunes, do wrestling, e Léo Dutra, do handebol. Enquanto a lutadora é natural de Barro Alto, o jogador é de Anápolis. Nenhum atleta da capital participou da última edição dos Jogos Olímpicos.
Os goianienses Rafael Andrade (ginástica de trampolim), Bruno Bonfim (natação), Clemilda e Janildes Fernandes (ciclismo), Raiza Goulão (de Pirenópolis, no mountain bike), Mahau Sugimati (de São Miguel do Araguaia, no atletismo) e Renato Portela (de Luziânia, no tiro) foram outros que representaram Goiás em edições anteriores recentes das Olimpíadas (desde Sidney-2000).
Outros nomes históricos do esporte goiano são Dante Amaral (ouro em Atenas-2004, prata em Pequim-2008 e Londres-2012) e Carlos Jayme (bronze nos 4×100 metros livres, em Sidney-2000). Enquanto o jogador de vôlei é natural de Itumbiara, o nadador é nascido em Goiânia.