Justiça dá 48h para CBF explicar ausência de número 24 na Copa América
Seleção brasileira é a única na disputa que não conta com o número nos uniformes, fato que a CBF não soube explicar o motivo
O TJRJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro) deu 48 horas para a CBF explicar o motivo da ausência da camisa 24 na seleção brasileira na disputa da Copa América. O Brasil é a única seleção da competição que não usa o 24 nos uniformes, pulando do 23 para o 25 — o fato foi apontado pelo UOL Esporte no dia 24 de junho.
A decisão liminar do juiz Ricardo Cyfer, da 10ª Vara Cível do TJRJ, atende a ação apresentada pelo Grupo Arco Íris de Cidadania LGBT, que fez ainda outros quatro questionamentos à CBF:
- Se a não inclusão do número 24 nos uniformes é uma política deliberada;
- Qual departamento da instituição é responsável pela deliberação dos números;
- Quais as pessoas e funcionários são responsáveis pela definição da numeração;
- E se existe alguma orientação da FIFA ou da Conmebol sobre o registro de atletas com a camisa 24
Segundo o grupo, “o fato da numeração da seleção brasileira pular o número 24, considerando a conotação histórico cultural que envolta esse número de associação aos gays, deve ser entendido como uma clara ofensa a comunidade LGBTI+ e como uma atitude homofóbica”.
Na decisão, o juiz Ricardo Cyfer destacou a importância de medidas afirmativas e de respeito à comunidade LGBTQIA+ na luta contra a discriminação e a violência às minorias.
“A luta da comunidade LGBTQIA+ pelo fim da discriminação contra seus membros, com o reconhecimento do seu direito a uma convivência plena na sociedade, é amplamente conhecida, tendo suas causas e seu desenvolvimento sido sobejamente detalhados na narrativa dos fatos na inicial desta ação”, disse o magistrado.
Na semana passada, o UOL Esporte apontou que a seleção brasileira é a única entre as participantes da Copa América que não tem um jogador vestindo o número 24. Na ocasião, a CBF não quis explicar o motivo dessa decisão.
Na numeração, a Amarelinha pula da 23 do goleiro Ederson para a 25 do volante Douglas Luiz. Nos outros nove países que participam do torneio, há um atleta inscrito com a 24 nas costas. Vale destacar que a Conmebol não faz imposições sobre a numeração e deixa a critério das delegações.
O número 24 está historicamente relacionado ao homem gay no Brasil por causa do Jogo do Bicho, que associa a numeração ao veado — animal é usado de forma homofóbica como ofensa à população LGBT+. Por conta disso, o futebol brasileiro já viveu diversos episódios de homofobia. O mais recente deles ocorreu na chegada de Cantillo no Corinthians, quando o então diretor de futebol e hoje presidente, Duílio Monteiro Alves, disse “24 aqui não” no meio da apresentação. Ele usava o número no Júnior Barranquilla. Duilio classificou a própria fala como “brincadeira infeliz”. Menos de um mês depois de ser apresentado, Cantillo foi a campo com o 24 nas costas.