Klinsmann aposta em transformação da MLS com chegada de Lionel Messi
Messi pode promover um efeito parecido nos Estados Unidos, sobretudo por não sofrer com a resistência enfrentada por Klinsmann
Os 29 gols de Jürgen Klinsmann com a camisa do Tottenham em 1994/95 não renderam nenhum título ao time londrino. Mas a passagem do astro alemão pelo futebol inglês fez de sua única temporada completa na Premier League um marco no processo de transformação da liga, que se tornou a mais valiosa do mundo.
Foi o então atacante quem abriu as portas da Inglaterra, àquela época ainda isolada do desenvolvimento visto em outras campeonatos domésticos na Europa, sobretudo na Itália e na Espanha.
A despeito dos comentários quase xenófobos de que foi vítima ao ter sua contratação anunciada, inclusive na imprensa britânica, ele brilhou em campo, reverteu a parte da opinião pública e especializada contrária à sua chegada e inaugurou a era das grandes contratações.
Depois dele, atletas como os holandeses Ruud Gullit e Dennis Bergkamp e do italiano Gianfranco Zola desembarcaram no Campeonato Inglês, atualmente reconhecido mundialmente por equipes recheadas de estrangeiros, como o norueguês Erling Haaland, o egípcio Mohamed Salah e o argentino Julián Álvarez.
Hoje, aos 59, recentemente anunciado como técnico da seleção da Coreia do Sul, Klinsmann acredita que o argentino Lionel Messi esteja fazendo algo semelhante do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, desde sua midiática chegada à MLS (Major League Soccer), em junho.
“Ter o Messi jogando no país pelos próximos anos, às vésperas da Copa Mundo de 2026, que também será nos Estados Unidos, junto com México e Canadá, é como se a MLS tivesse ganhado na loteria”, afirmou Klinsmann em uma roda de entrevista com jornalistas de várias partes do mundo, para a qual a reportagem foi convidada.
Ainda que com diferenças significativas, como a receptividade a Messi e o fato de o futebol dos Estados Unidos, por lá chamado de “soccer”, ser historicamente aberto aos estrangeiros, o ex-atacante alemão aposta que este seja um momento ideal para o desenvolvimento da liga norte-americana.
“Esse é o poder de jogadores excepcionais como Messi ou Cristiano Ronaldo e Neymar. Eles são capazes de ajudar tremendamente a promover o futebol nos Estados Unidos, na América do Norte ou em qualquer parte do mundo.”
O alemão tinha 30 anos quando trocou o Monaco, da França, pelo Tottenham. Na época, os ingleses guardavam um ressentimento pelo jogador que, quatro anos antes, era a grande estrela do time da Alemanha que eliminou a Inglaterra nas semifinais da Copa do Mundo de 1990.
Para conquistar o público, o atacante apostou na época em seu carisma, muitas vezes debochando de si mesmo nas entrevistas. E também brincou com o fato de ser chamado de jogador cai-cai, adotando em suas comemorações um mergulho no gramado.
O carisma e as boas atuações mudaram a imagem que os ingleses tinham dele e da entrada de estrangeiros na liga. “Eu fui um dos primeiros jogadores a entrar na Premier League no início dos anos 90. E agora veja onde está a liga e o que está fazendo”, afirmou.
Messi pode promover um efeito parecido nos Estados Unidos, sobretudo por não sofrer com a resistência enfrentada por Klinsmann. Muito pelo contrário. Aos 36 anos, meses após ter conquistado a Copa do Mundo sendo o grande líder da Argentina, ele assinou com o Inter Miami e rapidamente mudou a história do clube.
“Vejam o que aconteceu com aquela taça da liga que eles criaram. Ninguém sabia disso. Na verdade, ninguém estava interessado. Messi entrou a bordo, jogou sua primeira partida em uma Copa e, de repente, esta competição disparou em audiência na televisão no mundo todo”, observou o alemão.
Ele estava se referindo à Leagues Cup, torneio que reuniu clubes dos Estados Unidos e do México, encerrado no último dia 19 com título do time do argentino. A taça foi obtida nos pênaltis, após empate por 1 a 1 com o Nashville SC.
Messi, que fez o gol do Inter Miami na decisão do campeonato internacional, estreou na MLS no último sábado (26), contra o New York Red Bulls, em Nova York. E balançou a rede no triunfo de sua equipe por 2 a 0.
Os ingressos na Red Bull Arena para a partida tiveram um grande aumento em função da presença do astro. O bilhete médio custava US$ 483 (R$ 2.300) em vez dos usuais US$ 46 (R$ 226). A inflação nos preços é reflexo da “Messimania” que tomou conta dos Estados Unidos desde a chegada do astro.
Essa, no entanto, não é a primeira tentativa da MLS de investir em grandes estrelas do futebol para alavancar a liga. No passado, nomes como Kaká, Andrea Pirlo, Frank Lampard, Wayne Rooney, Thierry Henry, Zlatan Ibrahimovic, David Villa, Gonzalo Higuaín e David Beckham, que é o dono do time de Messi, também foram para os Estados Unidos com grande expectativa.
Klinsmann torce para que, desta vez, o efeito provocado por Messi seja mais duradouro, sobretudo entre as crianças, pensando na formação de novas gerações de talentos. De 2011 a 2016, o alemão comandou a seleção norte-americana e tinha dificuldade para formar um elenco competitivo, embora tenha conseguido conquistar a Copa Concacaf de 2013.
Quando assumiu o cargo, mais do que buscar títulos, tinha o desejo de transformar o futebol no país, formando talentos. Chegou a dizer na época que seu maior objetivo era “encontrar um Messi chutando bola nos Estados Unidos”, algo que “seria incrível”.
Com a ida do próprio argentino para a liga norte-americana, talvez seja mais fácil materializar o desejo do alemão.
“Por isso será interessante ver o que acontecerá nos próximos cinco ou dez anos com Messi indo para a MLS.”