FUTEBOL

Líder do Brasileirão, até onde o Vasco pode ir?

Comentaristas analisam o início de campeonato do time de Ramon Menezes, que está no topo da tabela com um jogo a menos

Cano, o artilheiro do jogo Foto: Rafael Ribeiro/Vasco

Poucos vascaínos se atreveriam a cravar que o Vasco abriria o Brasileirão 2020 com três vitórias seguidas, dois jogadores entre os artilheiros e, de quebra, a liderança do campeonato – com um jogo a menos. Numa competição em que as forças ficaram menos previsíveis por causa da paralisação em decorrência da pandemia do coronavírus, o time de São Januário soube aproveitar os desníveis físicos e técnicos dos concorrentes e enfileirar triunfos diante do Sport, São Paulo e Ceará. Para os analistas, o momento não pode gerar expectativas irreais, mas deve ser comemorado.

A estreia do Vasco, inclusive, seria fora de casa diante do Palmeiras, um dos times que encabeçam a lista de favoritos ao título. A coincidência da data da primeira rodada do Brasileiro com a final do Paulista levou ao adiamento do jogo.

Sem data para acontecer, seria um exercício de futurologia determinar em que lugar na tabela as duas equipes estarão quando finalmente se encontrarem. Porém, as três atuações do cruzmaltino sugerem alguns caminhos que o Vasco pode percorrer na competição.

Todos eles tendem a ser melhores do que os torcedores tiveram de encarar nos dois últimos anos na competição nacional. Em 2019, chegou a flertar com a parte de cima da tabela no returno, mas não passou do 12º. Na edição anterior, correu risco de rebaixamento, mas se salvou com o 16º lugar.

– Considerando a trajetória do Vasco nos últimos anos, esse ótimo início de campeonato já tem o mérito de trazer segurança para o próprio trabalho do time. Sim, ainda é uma amostra pequena, mas se vê um time trabalhador, que sabe o que pretende. A pontuação não deveria empolgar pela questão da liderança, porque a caminhada é muito longa e difícil, mas por demonstrar – à torcida e aos próprios jogadores –  que encarar todos os jogos da forma como se viu até agora pode conduzir o Vasco por uma rota muito mais tranquila do que nos campeonatos recentes – afirma o colunista do GLOBO André Kfouri.

A paz dada ao técnico Ramon Menezes, que está em seu primeiro trabalho à frente de um clube grande, é o grande significado da liderança, na opinião do colunista Carlos Eduardo Mansur.

– O lado bom é o nível de tranquilidade e respaldo para um treinador jovem, iniciante em clube grande, poder trabalhar. Ele precisa desses resultados para ter estabilidade – diz.

No entanto, tem-se de evitar que o sucesso inesperado se transforme em armadilha. Num campeonato longo, que só termina em fevereiro do ano que vem, o time do Vasco ainda carece de opções para aguentar o desgaste de jogos seguidos.

O Vasco do Ramon tem muitos méritos, que ficaram evidentes nas primeiras rodadas. O time é compacto, rápido. O time titular está no nível dos que vão brigar pela Libertadores. Resta saber se os reservas estarão à altura quando a conta do desgaste físico chegar, e parece inevitável que chegue, para o Vasco e para todos os outros times – analisa o colunista do GLOBO Martín Fernandez.

As oscilações que vierem a ocorrer não podem ser seguidas de cobranças fora de hora, acredita Mansur. Apesar das três vitórias, as atuações não estão necessariamente ligadas ao desempenho. Sobretudo no confronto com o Ceará, no qual o jogo se manteve igual até o segundo gol vascaíno:

– O Vasco não pode gerar um nível de expectativa fora da realidade. Precisa ter sempre em mente qual era a expectativa antes do campeonato. Não dá para transformar uma eventual queda no aproveitamento e transformar isso em crise. Se der para se manter la em cima, espetacular. Mas é sempre bom se lembrar de onde você saiu. O Vasco ainda tem questões a resolver. Por vezes, tem dificuldades na saída de bola, na construção da jogada. É um time em formação. O fundamental é o Vasco não perder isso de vista.

O colunista e apresentador do “Redação Sportv”, Marcelo Barreto, também é da teoria dos pés no chão, mas sem diminuir a importância das três vitórias. Ele não consegue prevê o futuro do Vasco num campeonato ainda cheio de incertezas e com muitos jogos em sequência por causa da pandemia. Uma análise mais certeira, no entanto, pode vir em algumas rodadas caso a equipe se mantenha no alto da tabela.

– A torcida tem de curtir o momento. Tem de olhar para trás e ver como foi a última década do Vasco. O único grande ano foi em 2011. De lá para cá, tem os rebaixamentos em Brasileiro, os começos quase sempre ruins. Então para esse momento, que é difícil para todo mundo, o Vasco vem de um estadual muito ruim para um Brasileiro muito legal. Se ele é sustentável, não dá ainda para saber. O que tem a comemorar é que o Ramon achou um jeito interessante de o time jogar, não é covarde – afirma.