GINÁSTICA

‘Maior objetivo em Paris é chegar bem, saudável, para conseguir fazer a ginástica que quero’, diz Rebeca Andrade

Na temporada, Rebeca Andrade faturou 5 medalhas no Mundial de Ginástica e outras 4 no Pan-Americano

A ginasta brasileira Rebeca Andrade, 24, teve em 2023 um ano para não esquecer. Conquistou cinco medalhas no Mundial da Antuérpia, na Bélgica, incluindo um ouro no salto, desbancando na final ninguém menos que a norte-americana Simone Biles. Nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, repetiu o desempenho espetacular com mais quatro medalhas, sendo duas de ouro (no salto e na trave).

A guarulhense, que começou no esporte por meio de um projeto social, se mostra bastante tranquila tanto em relação às conquistas recentes como sobre os próximos desafios, como a disputa dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

“Sempre que a gente faz alguma coisa, nem sempre é o bastante. Mas como sei que a expectativa das pessoas não está no meu controle, não preciso me preocupar com isso”, diz a ginasta em entrevista à Folha.

“Meu maior objetivo em Paris é chegar bem, saudável, para conseguir fazer a ginástica que quero fazer naquele momento”, afirma Rebeca.

A multicampeã da ginástica artística diz ainda que, além de serem necessários cada vez mais projetos sociais para revelar novos talentos, também é preciso que as pessoas estejam preparadas para aproveitar as oportunidades quando elas surgirem.

“A minha família fez o máximo por mim para que eu pudesse realizar o meu máximo, dentro das nossas condições. Além de ter mais oportunidades, acho que também vem das pessoas saberem aproveitar essa oportunidade”, afirma a brasileira.

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Pergunta – Qual o balanço que você faz após as conquistas no Mundial e nos Jogos Pan-Americanos e de receber o reconhecimento de outras grandes atletas, como de Simone Biles?

Rebeca Andrade – Estou bem tranquila com essa questão. Me sinto muito feliz do patamar que cheguei, da atleta que me tornei. Foi muito difícil chegar até aqui, foram muitas mãos me moldando, me apoiando e me incentivando para que eu alcançasse tudo que alcancei.

E o que a Simone [Biles] é para a ginástica, o que ela fez ali comigo naquele momento [enquanto aguardavam para receber a medalha na prova de solo no Mundial, a norte-americana, que levou o ouro na disputa, fez um gesto como se passasse uma coroa para a brasileira, que ficou com a prata] que era um [momento] íntimo nosso, a gente não sabia nem que a câmera estava gravando, mas ela sempre teve um carinho muito grande comigo. A gente não conversava muito, mas sempre que parávamos para falar alguma coisa, ela sempre foi muito carinhosa e fico muito feliz.

P. – Após as conquistas alcançadas neste ano, você deve entrar em 2024 diferente daquela que começou em 2023?

R. A. – Não sei se entro diferente, acho que vou entrar a mesma Rebeca de sempre, com toda minha alegria, querendo buscar o meu melhor sempre, pronta para dar 110% nas competições. Acho que as pessoas me veem diferente. É muito difícil falarmos de nós mesmos.

Vou chegar para fazer o máximo, com a minha alegria de sempre, que acho que é o que contagia todo mundo quando me assistem competindo. Aquele sorriso no rosto e o brilho nos olhos de fazer o que ama não tem preço. Espero entrar ainda mais preparada e confiante para fazer o máximo. Todo ano chego um pouco mais preparada e confiante e isso para mim é muito importante. Então talvez isso seja uma diferença. Mas o coração é o mesmo, as vontades são as mesmas, o objetivo é o mesmo. O resultado é consequência, mas o objetivo é chegar para fazer o máximo. Vou buscar sempre fazer o meu melhor.

P. – Depois do grande desempenho em 2023, você sente que aumenta a pressão na busca por bons resultados nas Olimpíadas?

R. A. – As pessoas sempre esperam mais. Sempre que a gente faz alguma coisa, nem sempre é o bastante, mas como sei que a expectativa das pessoas não está no meu controle, não preciso me preocupar com isso. Como falei, o resultado é consequência. É claro que a gente quer medalha, e quanto mais medalha, melhor. Mas, se não acontecer também, acho que não preciso me sentir decepcionada. Triste sempre vamos ficar, porque treinamos muito para realizar o nosso melhor. Mas o erro faz parte, o acerto faz parte.

Não me sinto pressionada para voltar com uma, duas, três ou seis medalhas. Treinamos muito e o que tiver que ser, vai ser. Respeito muito minha cabeça, meu corpo, todos os profissionais que estão trabalhando comigo, e sei que estamos lá para fazer o melhor. A única pessoa que posso controlar sou eu. Enquanto estiver me controlando para fazer o melhor, é o que importa para mim. Mas espero ter ótimos resultados.

P. – Quais são os objetivos traçados para Paris?

R. A. – Meu maior objetivo em Paris é chegar bem, saudável, para conseguir fazer a ginástica que quero fazer naquele momento. De chegar e sair da competição com a consciência tranquila, de que não poderia fazer nada de diferente, que fiz o máximo. O resultado é consequência. Eu fazendo o meu melhor, mostrando o máximo que a Rebeca tem para mostrar para o mundo, é o que importa.

P. – Novidades devem ser esperadas durante as apresentações na capital francesa?

R. A. – Novidades a gente sempre faz, o mundo todo tem novidades. Mas vamos ter que esperar para saber. Vou deixar vocês com essa dúvida [risos].

P. – Como foi a preparação para as conquistas em 2023? Ela deve ser alterada de alguma forma ou segue igual para os Jogos Olímpicos?

R. A. – Essa parte de preparação quem organiza tudo é o nosso treinador, o Francisco [Porath Neto]. Mas a preparação que fizemos para ir para o Mundial e para as outras competições era de treinamentos aqui no Brasil, depois fazíamos alguns ‘campings’, que é quando junta as meninas de outros clubes no Rio de Janeiro, no centro de treinamento e treinava todo mundo junto. A gente conseguia avaliar a evolução de cada menina, isso para gente é muito importante para fazer a melhor composição para a equipe para ir para o Mundial. Imagino que possa ser um pouco parecido com o ano de 2023, mas talvez tenha algumas mudanças.

P. – O que o Brasil precisa fazer para ter mais Rebecas Andrades na ginástica?

R. A. – Não sei ao certo o que o Brasil deveria fazer para que mostrasse não só mais Rebecas, mas mais Flávias, mais Jades, mais Lorranes, mais Júlias e mais um monte de meninas que também têm muito talento, muito potencial. E o Brasil é cheio de talentos.

Acho que continuar dando oportunidades. Eu comecei através de um projeto social, ele que me trouxe até aqui, foi a maior oportunidade da minha vida. Só que também não é só a gente ter mais projetos sociais, são as pessoas também saberem aproveitar essas oportunidades. A criança que vai iniciar, os pais que estão ali incentivando, os tios, os avós, a pessoa que vai levar a criança para praticar aquele esporte.

Eles também acreditarem naquilo e fazerem o máximo para que a criança também atinja o máximo dela.
A minha família fez o máximo por mim para que eu pudesse realizar o meu máximo ali dentro do ginásio, dentro das nossas condições. Então, além de ter mais oportunidades, acho que também vem das pessoas saberem aproveitar essa oportunidade quando aparecer. Eu vivi isso. Eu tive a oportunidade e aproveitei e tive pessoas que me ajudaram a crescer a cada dia.

RAIO-X | REBECA ANDRADE, 24
Nascida em Guarulhos em 8 de maio de 1999, a ginasta começou no esporte através de um projeto social na cidade natal. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, se tornou a primeira brasileira campeã olímpica, ao conquistar o ouro no salto. Também foi a primeira do país a ganhar duas medalhas em uma mesma Olimpíada -ela também levou a prata no individual geral. Em 2022, foi campeã mundial no individual geral, ficando com a prata na mesma prova em 2023.