Maioria dos brasileiros acha que ‘bets’ aumentam risco de manipulação no futebol

Para mais da metade dos entrevistados, possibilidade de combinação de resultados cresce com liberação de apostas nas bets

(Folhapress) A maioria dos brasileiros crê que os sites de apostas esportivas aumentam o risco de combinação de resultados nos jogos de futebol. Pesquisa Datafolha realizada de 5 a 7 de novembro mostrou que 54% das pessoas veem a possibilidade de manipulação crescer com a liberação das empresas de apostas online, chamadas de “bets”.

O levantamento foi feito em 113 municípios das cinco regiões do Brasil, por meio de 1.935 entrevistas com pessoas de 18 anos ou mais, em áreas metropolitanas e em cidades do interior. A margem de erro para o total da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%.

Uma parcela de 3% dos entrevistados apontou que as “bets” diminuem o risco de manipulação. Outros 33% disseram que elas não fazem diferença nesse sentido, e 9% não souberam responder.

A pesquisa traçou ainda o comportamento dos torcedores que têm o hábito de fazer apostas. E a maioria disse que jamais apostou contra o próprio time: 69%. Os demais 31% afirmaram já ter jogado as fichas no oponente de sua equipe do coração. Nesse recorte, a margem de erro é de cinco pontos percentuais, para mais ou para menos.

O levantamento, por fim, mostrou que a maior parte dos torcedores tem resistência à possibilidade de uma “bet” patrocinar seu time. Apenas 32% daqueles que dizem ter um clube são a favor, e 59% são contra. Afirmam ser indiferentes 6%, e 4% não souberam responder. Nesse recorte, a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Apesar dessa objeção, o dinheiro oferecido pelas empresas de apostas esportivas tem sido irresistível para as agremiações. No Campeonato Brasileiro deste ano, contabilizadas a Série A, a Série B e a Série C, 52 das 60 equipes tiveram no uniforme a marca de alguma casa de apostas online. A própria competição teve seu nome vendido pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e passou a se chamar Brasileirão Betano.

Os quatro grandes de São Paulo terão, a partir de janeiro, uma “bet” como sua principal patrocinadora. Corinthians, São Paulo e Santos já contam, respectivamente, com significativas verbas de Esportes da Sorte, Superbet e Blaze. Já o Palmeiras tem acordo de quatro temporadas alinhavado com a Sportingbet.

As “bets” passaram a inundar o mercado a partir de uma medida provisória editada no último mês do governo do presidente Michel Temer, em dezembro de 2018. O texto previa a regulamentação do setor em até quatro anos, o que não foi cumprido por Jair Bolsonaro, chefe do poder executivo de 2019 a 2022.

Nesse intervalo, o mercado cresceu em um limbo legal, e começou a aparecer com frequência no Brasil um problema que já era visto em várias partes do mundo, em diversas modalidades esportivas, a manipulação das disputas para ganhos ilícitos em sites de apostas. Diferentes operações policiais apontaram quadrilhas que operam com apostas, combinando com atletas, por exemplo, o recebimento de cartões –as apostas vão muito além do resultado propriamente dito e incluem gols, cartões e escanteios.

Dois jogadores da seleção brasileira, Lucas Paquetá e Luiz Henrique, são investigados por suposta manipulação de partidas e foram chamados para depor na CPI das Apostas, no Senado Federal. Ambos negam participação em qualquer esquema ilegal.

Também diz ser inocente o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, alvo de recente operação da Polícia Federal que apura possível manipulação de cartões para benefício de apostadores. Houve busca e apreensão de documentos na casa do atleta, no centro de treinamento do clube rubro-negro e em endereços de seus familiares, em municípios de Minas Gerais.

Paquetá e Luiz Henrique continuam atuando normalmente por seus clubes, West Ham e Botafogo, e pela seleção brasileira. Bruno Henrique também ganhou apoio do Flamengo e tem participado sem restrições do dia a dia da equipe vermelha e preta.