Paralimpíadas

Mulheres se igualam aos homens em campanha histórica em Paris

Bater os 22 títulos paralímpicos de Tóquio já não foi tão fácil, até o penúltimo dia (quando tinha 17), parecia que a marca não seria alcançada

Mariana D’Andrea beija sua medalha de ouro conquistada nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Foto: Ana Patrícia - CPB

ANDRÉ FONTENELLE E SANDRO MACEDO
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Antes do início dos Jogos Paralímpicos de Paris, o presidente Mizael Conrado lembrou em entrevista à Folha do planejamento feito no distante 2017.

“A gente tem no plano estratégico, formulado lá em 2017, a meta de conquistar entre 70 e 90 medalhas e de ficar entre os oito primeiros. Mas a real expectativa é fazer em Paris a melhor campanha de todos os tempos.”

Neste domingo (8), ao falar com a imprensa sobre um balanço da competição, Conrado, como um bom político, voltou a citar o planejamento. “Não dá para falar dos resultados sem voltar a 2017, quando elaboramos nosso plano”, disse no início da entrevista coletiva.

O Brasil ficou a uma medalha das 90, o limite da meta. Os 89 pódios superaram com folga os 72, recorde de Tóquio-2020 e Rio-2016. Foram 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes.

Bater os 22 títulos paralímpicos de Tóquio já não foi tão fácil, até o penúltimo dia (quando tinha 17), parecia que a marca não seria alcançada. Mas a delegação teve um sábado brilhante, principalmente no judô. Neste domingo, mais dois ouros (atletismo e canoagem) coroaram a campanha.

“Além de ter sido um resultado extraordinário, com três modalidades que nunca tinham medalhado, triatlo, tiro e badminton, a gente avançou no halterofilismo, muito orgulho. Uma campanha irretocável. Muita sensação de que o trabalho compensa.”

Na linha do balanço do COB, que reclamou do vento ter tirado o ouro de Gabriel Medina, Conrado também lamentou algumas derrotas. “A campanha podia ser ainda melhor, perdemos duas provas por centésimos. Nossa equipe de goalball era favorita.”

O Brasil fecha a competição no histórico top 5, atrás de China (220, com 94 ouros), Grã-Bretanha (124 e 49 ouros), EUA (105 e 36) e Holanda (56 medalhas, mas com mais ouros, 27).

De olho na eficiência holandesa, Conrado já faz planos para melhorar a campanha no futuro. “Claro que a gente sai com lições aprendidas. O ciclismo dá 51 medalhas, não ganhamos nenhuma. A Holanda ganhou 12 de ouro. Por isso começamos a construir um velódromo”, afirma. A pista deve ser anexa ao elogiado centro paralímpico, na região sul de São Paulo.

Ao olhar o resultado por gênero, os Jogos Paralímpicos são um filme repetido para o Brasil. Assim como aconteceu nas Olimpíadas, quase um mês atrás, as mulheres foram protagonistas. Nunca conquistaram tantos pódios. O resultado de Tóquio, antes o melhor –com 7 ouros, 7 pratas e 12 bronzes, 26 no total–, foi pulverizado. Em Paris, foram 13 ouros, 12 pratas e 18 bronzes, total de 43 medalhas. Exatamente o mesmo número do masculino, mas com menos atletas (foram 45,9% da delegação). As outras três medalhas foram de equipes mistas.

“Nosso objetivo é aumentar a participação feminina. Se a gente olhar para a China, mais de 60% das medalhas conquistadas foram por mulheres. Se a gente oportunizar, elas vão ser cada vez mais protagonistas”, comentou o dirigente, sem relevar tanto assim as conquistas femininas.

Ao todo, foram 12 modalidades com pódios, com atletismo, natação e judô. A nadadora Carol Santiago sai como a nova recordista entre as mulheres com medalhas de ouro (6) e entra no top 5 de todos os tempos.

E Gabriel Araújo, com três ouros e muito carisma, deixa Paris como uma das principais estrelas do paradesporto mundial.

O BALANÇO DE FORÇAS EM PARIS

Em relação a Tóquio, quando foi sétimo, o Brasil precisou superar apenas a Ucrânia para terminar em quinto lugar na classificação geral. A Rússia, quarta colocada em 2021, teve uma delegação reduzida a 88 atletas, e seus pódios não foram contabilizados pela organização do evento no quadro geral de medalhas –assim como os dos bielorrussos–, como uma sanção imposta pela invasão à Ucrânia.

Atletas dos dois países não participaram das cerimônias de abertura ou encerramento, não puderam exibir suas cores ou símbolos nos uniformes e não ouviram os respectivos hinos no pódio.

Apesar do conflito armado, a Ucrânia conseguiu ter rendimento similar ao dos Jogos de Tóquio, e brigou com o Brasil pelo top 5 até as últimas medalhas.

Já a ousada previsão de Marie-Amélie le Fur, presidente do Comitê Paralímpico Francês, que quase causou risos quando anunciada antes da competição, ficou muito perto de se concretizar.

Empurrados sempre pela vibrante torcida, os donos da casa saltaram de 54 para 75 pódios, aumento de quase 40%. Também terminaram em oitavo, no limite do top 8 desejado por Le Fur. Só faltou uma medalhinha de ouro para chegar nas 20, estabelecidas como meta. Ainda assim, o número foi bem superior aos 11 dos Jogos passados.