Nadal critica bolinhas atuais do circuito e padronização dos tenistas
De volta ao circuito neste mês, após longa recuperação física, Rafael Nadal está insatisfeito com…
De volta ao circuito neste mês, após longa recuperação física, Rafael Nadal está insatisfeito com a qualidade e o tipo de bolinhas adotadas atualmente pelos torneios do circuito profissional. Para o espanhol, elas estão mais ocas e menos propensas a ganhar efeito a cada golpe, o que favorece um estilo de jogo único nas competições, incluindo o Aberto da Austrália, em disputa neste momento em Melbourne.
O ex-número 1 do mundo não se refere somente às bolinhas usadas no primeiro Grand Slam do ano, da marca Dunlop. O espanhol vê uma mudança lenta e gradual desde sua chegada ao circuito, em 2001. “Acredito que a dinâmica das bolas mudou desde que entrei no circuito. Elas perderam os efeitos e se tornaram mais ‘vivas'”, disse o atual 5º do ranking, na quarta-feira.
“Mais vivas”, elas se tornaram mais difíceis de serem controladas pelos tenistas. Como consequência, há menor possibilidade agora de surgirem novas técnicas, efeitos e golpes na elite do tênis mundial. Não por acaso as batidas mais retas, ou chapadas, viraram padrão e a força e a velocidade são as principais apostas dos atletas na tentativa de surpreender seus adversários.
Por isso, o experiente atleta, de 35 anos, acredita que estas alterações nas bolinhas influenciaram diretamente o jeito de jogar dos tenistas da atualidade, com estilos cada vez mais semelhantes. Nadal é um dos poucos que costumam jogar mais afastados da linha de base, no fundo da quadra. “Os tenistas que jogam mais adiantados (na quadra) e com golpes mais planos são favorecidos agora.”
O também espanhol Pablo Andújar concorda com o compatriota. “Quando ele e eu começamos, as bolas faziam mais diferença no jogo. A maioria dos jogadores medem 1,90 metro (hoje) e agora isso tende a favorecê-los”, comentou. “Hoje em dia praticamente todos os tenistas jogam no mesmo estilo. A técnica não é tão mais importante.”
Nadal questiona também a qualidade das novas bolas. Por serem mais ocas, na sua avaliação, são mais vulneráveis a qualquer mudança climática ao longo de uma partida. “A bola muda completamente do dia para a noite por causa da umidade, que deixa a bola mais lenta. Quando está um pouco mais seca, fica muito rápida. Isso definitivamente favorece os jogadores que jogam um tênis mais chapado e que batem muito rápido.”
Estas alterações nas bolinhas atingiram em cheio o conhecido estilo espanhol, um pouco mais lento, de construção de jogadas e até mais sofisticado que a média. Nadal personifica este estilo como poucos. Ele está acostumado a trocar muitas bolas com os adversários, tirando vantagem da sua grande forma física e apostando nas variações dos golpes, incluindo os efeitos na bolinha. Foi assim que fez sucesso no saibro, o piso mais lento de todos, de Roland Garros. Com 13 títulos, detém o maior domínio já visto num Grand Slam.
Os efeitos aplicados por Nadal e outros tantos têm sucesso explicado pela ciência. Pesquisa de 2009 analisou a biomecânica destes golpes e constatou que o espanhol alcançou 5.000 rotações por minuto em seus rebatidas durante o Aberto da Austrália daquele ano, vencido pelo próprio espanhol.
O estudo, elaborado pelo especialista americano John Yandell, mostrou também que Roger Federer não superou as 4.000 rotações por minuto naquela edição do Grand Slam australiano. Não por acaso Nadal venceu o rival suíço naquela final, em seu único título em Melbourne até agora. O espanhol costuma fazer estrago com o efeito chamado “Top Spin”, quando a bola quica alta no fundo da quadra e sobe rapidamente, surpreendendo e dificultando a devolução dos adversários.
Parte deste e de outros efeitos começaram a se perder com as alterações nas bolinhas, de acordo com Nadal. O perdedor, na avaliação do espanhol, é o público, por não poder apreciar outros estilos de jogo em quadra. “Acho que tenho ido bem ao longo destes anos com estas bolinhas, mas o nível do espetáculo se perde”, disse o dono do recorde de títulos de Grand Slam, ao lado de Federer e do sérvio Novak Djokovic – cada um soma 20 troféus.