No início reticente, Neymar acaba convencido que Arábia Saudita é a única opção
O brasileiro ainda é a transação mais cara do futebol em todos os tempos: 222 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão pela cotação atual)
Neymar teve de ser convencido que jogar na Arábia Saudita é uma boa opção. Segundo duas pessoas ligadas à família do jogador, o atacante da seleção brasileira achou estranho deixar a Europa agora. Nem era seu desejo. O sonho dourado era voltar ao Barcelona, onde atuou entre 2013 e 2017 e teve o período que considera o mais feliz da carreira.
Ele recebeu a visão contrária de seu pai e de empresários envolvidos na negociação. Um deles foi o israelense Pini Zahavi, o mesmo que já havia ajudado a azeitar outra transferência que, a princípio, o brasileiro não queria: sair do Barcelona para defender o Paris Saint-Germain há seis anos. Ainda é a transação mais cara do futebol em todos os tempos: 222 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão pela cotação atual).
Na época, ele balançou com o pedido de seus antigos companheiros da Espanha, especialmente do argentino Lionel Messi, para ficar. Mas já havia dado a palavra e aberto os bolsos para a família real do Qatar, controladora da holding que comanda o time parisiense.
O cenário pintado para o jogador desta vez é que este era o único caminho viável para conseguir algo que desejava havia pelo menos dois anos: livrar-se do PSG, com quem tinha contrato até 2027. Ele ganhou muito dinheiro na França. Só de salários foram cerca de 290 milhões de euros (R$ 1,55 bilhão em dinheiro de hoje).
Por cada campanha publicitária de apelo global, ele embolsou pouco mais de 1 milhão de euros (R$ 5,40 milhões).
A transferência para a Arábia, perto de ser concretizada, ainda não foi tornada oficial.
O argumento que lhe foi apresentado foi publicado primeiro pelo francês L’Equipe. Deveria ir para o Al Hilal, ficar por dois anos e depois sair, de graça, aos 33, para voltar à Europa e ter uma temporada em alto nível antes da Copa do Mundo de 2026, sua derradeira chance de ganhar o torneio com a seleção brasileira.
Em sua última manifestação sobre o tema, afirmou não ter certeza da vontade de jogar mais um mundial, ainda traumatizado pela queda nas quartas de final do torneio no Qatar, em 2022, diante da Croácia. Mas não há ninguém próximo a ele que acredite na possibilidade de não estar em campo se daqui a três anos se estiver bem fisicamente.
Há a avaliação também de que as demandas na Arábia Saudita serão menores. Seu período em Paris foi atrapalhado por lesões, além de problemas extracampo, protestos de torcedores e derrotas em fases decisivas da Champions League.
Há também o atrativo financeiro. São 320 milhões de euros pelas duas temporadas de contrato (R$ 1,7 bilhão hoje em dia).
Não é um argumento novo. Foi o mesmo apresentado a Cristiano Ronaldo para assinar com o Al Nassr. Mas não deu certo. Ao português, foi dito que ele poderia passar seis meses ou um ano no país e depois voltar à Champions, que era seu maior desejo. O clube tem como dono o mesmo do Newcastle-ING, classificado à principal competição europeia em 2024.
Neymar serve como mais um nome para o projeto de sportswashing da nação árabe, que gasta bilhões por meio do futebol para melhorar sua imagem e aumentar a influência geopolítica. É uma estratégia já colocada em prática pelos Emirados Árabes, dono do atual campeão europeu Manchester City, e do próprio PSG, com o Qatar.
Cristiano Ronaldo tem o maior salário do futebol mundial. São cerca de US$ 200 milhões por ano (R$ 1 bilhão). Times sauditas fizeram várias contratações caras e de renome para incrementar a imagem e o futebol de sua liga. Karim Benzema tem quase os mesmos vencimentos de Ronaldo, com cerca de US$ 180 milhões por temporada (R$ 970 milhões).
Ninguém admite que as transferências aconteceram pelo dinheiro e isso não deverá acontecer com Neymar. Ronaldo falou em projeto. Benzema afirmou que, como muçulmano, queria viver em um país islâmico.
Para ter Messi, o mesmo Al Hilal e o Al Ittihad ofereceram por volta de US$ 400 milhões por ano (R$ 2 bilhões). O argentino preferiu o Inter Miami, na MLS.
Se o atrativo monetário é inegável -a proposta que o Al Hilal fez não seria igualada por nenhum outro time do mundo-, o questionamento vai para o aspecto esportivo. Ronaldo estava com 38 anos quando decidiu ir para a Arábia Saudita. Já havia sido eleito melhor do mundo cinco vezes, mesmo número de títulos da Champions. Benzema, 35, é o atual detentor da Bola de Ouro, da France Football e ganhou o principal título de clubes quatro vezes.
Messi deixou o futebol europeu também aos 35, mas depois de ser eleito o melhor do planeta pela sétima vez e após ter conquistado o Santo Graal da sua carreira: levantar a taça de campeão do mundo com a seleção argentina.
Neymar tem 31 anos. Venceu a Champions de 2015 pelo Barcelona. Quando deixou o Santos em 2013, o plano era, claro, ganhar muito dinheiro, mas também conquistar o mundo, ser o maior de todos. No meio das discussões, às vezes acaloradas, com os dirigentes da Vila Belmiro para ser negociado com o futebol espanhol, em 2013, o pai do atacante deixou claro que o craque tinha de sair para cumprir seu destino.