ATLETISMO

Nos 400m com barreiras, Alison dos Santos briga por pódio inédito para o Brasil

O brasileiro tem o recorde sul-americano da prova dos 400 m com barreiras, com o tempo de 47s31

Foto: Wander Roberto/COB

Alison dos Santos chega forte na final dos 400 metros com barreiras na madrugada desta terça-feira (3), à 0h20 (horário de Brasília). Primeiro brasileiro a correr a prova abaixo de 48 segundos, ele quebrou pela quinta vez somente nesta temporada o recorde sul-americano na semifinal dos Jogos de Tóquio com o tempo de 47s31, confirmando a sua evolução meteórica.

Além dos números expressivos em uma prova que o Brasil não tem tradição, o que se destaca nesse jovem de 21 anos nascido em São Joaquim da Barra (SP) é a sua história de vida. Quando tinha apenas dez meses de idade, ele sofreu um acidente doméstico grave. Bateu em uma frigideira cheia de óleo fervendo, que virou sobre si, provocando queimaduras de terceiro grau na cabeça, ombros, peito e braços.

Alison ficou internado durante meses e carrega as cicatrizes até hoje. Na cabeça, por exemplo, tem uma falha no cabelo. Quando ele não está competindo, quase sempre usa um boné para proteger a pele mais sensível do sol.

Com exceção das marcas na pele, o acidente doméstico não deixou sequelas em Alison. Prova disso é que ele disputará a final olímpica dos 400m com barreiras com grandes chances de conseguir um lugar no pódio olímpico.

O seu corpanzil, inclusive, é um diferencial em relação à maioria dos demais atletas. Ele tem 1,98m de altura, sendo 1,12m só de pernas, que facilitam na hora de dar passadas largas e transpor os obstáculos.

Quando criança, Alison se arriscou no judô. Foi nesse período que ganhou o apelido de Piu, mas logo trocou o tatame pelo atletismo.

Não é de hoje que a sua condição atlética lhe proporciona bons resultados nas pistas. Com apenas 16 anos, ele já competia entre adultos. Em 2019, aos 18 anos, venceu os 400m com barreiras com o tempo de 48s84 e quebrou o recorde sul-americano sub-20.

Nos Jogos Pan-Americanos de Lima naquele ano, melhorou ainda mais a sua marca, com 48s45. Aí, ano a ano, prova a prova, vem correndo cada vez mais rápido e melhorando o seu desempenho até chegar aos 47s31 do último domingo que o colocaram com o segundo melhor tempo na classificação geral das semifinais dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Seus maiores adversários na final são o norte-americano Raj Benjamin e o norueguês Karsten Warholm, atual recordista mundial (46s70) após derrubar em junho deste ano uma marca que já durava 29 anos. “O Warholm e o Benjamin são favoritos ao ouro, mas são oito classificados para a final e qualquer um pode levar a medalha”, disse Alison. “O Brasil pode esperar que essa será uma das provas mais fortes e mais bonitas, não porque eu estou nela, mas porque a prova está muito forte.” A expectativa é até de possibilidade de novo recorde mundial na briga por um lugar no pódio.

Controlar a ansiedade e o nervosismo antes da sua primeira final olímpica é, neste momento, o principal desafio de Alison. “Os Jogos Olímpicos são a maior competição para nós, mas tentamos levar na maior leveza possível para não deixar o nervosismo ficar à flor da pele e atrapalhar um grande resultado. Tenho de manter a calma, porque treinamos muito, nos preparamos para isso Nesse momento dos Jogos, tento me manter o mais tranquilo possível e descansar o máximo”, conta Alison.

O Brasil nunca conquistou uma medalha nos 400m com barreira nos Jogos Olímpicos. Piu pode mudar a história na madrugada desta terça-feira.