Máfia no futebol

Procuradores dos EUA recebem dados bancários de ‘dirigentes brasileiros’

Processo irá julgar José Maria Marin e outros cartolas por corrupção em Nova York

Os procuradores norte-americanos receberam novas provas relacionadas a “dirigentes brasileiros” de futebol, no âmbito do processo que irá julgar José Maria Marin e outros cartolas por corrupção em Nova York. O Estadão.com obteve confirmações de que na semana passada, 27 pastas com documentos foram transmitidas de Berna aos Estados Unidos.

Fontes próximas ao caso se recusam a dar os nomes dos envolvidos nas informações. Mas garantem que dados sobre “movimentações financeiras de dirigentes brasileiros” estão incluídas. Nos Estados Unidos, Marin aguarda em prisão domiciliar seu julgamento, que deve começar apenas em novembro de 2017. Mas o Departamento de Justiça dos EUA também já indiciou Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero.

Em dezembro de 2015, a Justiça americana havia solicitado dados de Berna relativos a contas controladas por Teixeira, além de movimentações de João Havelange. No documento solicitando os dados, obtido com exclusividade pelo Estadão.com, o FBI aponta que o brasileiro é suspeito de ter “ter recebido mais de 20 milhões de francos suíços (aproximadamente R$ 67 milhões) em contas em que ele era o único beneficiário em propinas da ISL entre 1992 e 2000, em violações ao código penal suíço”. A ISL era a empresa de marketing que, em 2001, quebrou e levou a Fifa a uma crise profunda.

Para os americanos, Teixeira caminhava para ser o “próximo presidente da Fifa”, ao “alavancar” sua posição de poder dentro da CBF e da entidade em Zurique. O FBI identificou contas controladas por ele em pelo menos três bancos: o UBS, Banca del Gottardo e BSI.

Em apenas duas dessas contas, um total de US$ 800 mil (R$ 2,6 milhões) foram transferidos de contas nos EUA para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies. Ele é suspeito de agir como testa de ferro para o empresário J. Hawilla e de realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas. O “laranja” seria Willy Kraus, dono da Kraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio de Janeiro. Numa das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina com contas nos EUA, pediu para transferir seus ativos para a Suíça. No dia 25 de setembro de 2008,a conta em território americano foi fechada e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus, na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478,2 mil.

Outro nome registrado pelos americanos era o da sociedade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o “efetivo controle” sobre essas contas. No documento do FBI, os investigadores apontam que acreditam que Kraus “permitia que Teixeira usasse suas contas como forma de esconder sua verdadeira fonte”.

No total, os responsáveis pelo processo em Nova York estimam que já existam cerca de 10 milhões de páginas de documentos em sua posse sendo analisadas, num dos maiores casos de corrupção da história do esporte.

Quarenta e duas pessoas e entidades são alvos do processo. Mas muitos já admitiram a culpa e negociam acordos de delação premiada. Dezesseis entendimentos diferentes já foram fechado e a Justiça dos EUA espera que esse número aumente até o final do ano.

Oito deles, porém, insistem em suas inocências, entre eles José Maria Marin. A Justiça americana estima que o sistema de corrupção movimentou quase R$ 800 milhões.