CAMPEÃO MUNDIAL

Relembre as cinco Copas do Mundo que o Brasil ganhou

Ao todo a seleção ganhou 67 jogos e fez 210 gols

De Copa do Mundo ninguém entende mais do que o Brasil. Único país a disputar as 20 edições do evento esportivo mais importante do planeta, o Brasil também é detentor das principais marcas da competição: cinco vezes campeão, é quem mais vezes levantou a taça do Mundial, ganhou jogos (67) e fez gols (210).

Individualmente, nossos craques também têm os recordes mais expressivos do torneio. Pelé, por exemplo, é o único tricampeão e Cafu, com 16 triunfos, o atleta com mais vitórias. Dentre os maiores campeões do mundo, a seleção brasileira impera.

Ao longo da história, a seleção brasileira impôs um novo padrão para a Copa do Mundo. O de excelência por natureza. Até quando não foi campeão, o Brasil encantou os amantes do futebol bem jogado. Foi assim, por exemplo, com a fantástica seleção de Telê Santana, que foi “apenas” quinta colocada na Espanha em 1982.

Os cinco principais capítulos da trajetória do Brasil, iniciada em 1930, no Uruguai, são as conquistas de 1958 (Suécia), 1962 (Chile), 1970 (México), 1994 (Estados Unidos) e 2002 (Coreia do Sul e Japão).

Com equipes formadas de maneiras distintas, mas sempre lideradas por verdadeiros gênios da bola, o Brasil reinventou o esporte criado pelos ingleses e imortalizou seus craques.

Foi em 1958, que nasceu para o mundo da bola o Rei Pelé, o maior de todos os tempos. Quatro anos depois, Garrincha mostrou que é possível ser genial, mesmo sendo ingênuo e com as pernas tortas.

Em 1970, a constelação de craques reunidas por Zagallo assombrou o mundo e entrou para eternidade. Passados 24 anos, nos Estados Unidos, o baixinho Romário, com seu 1,67 metro de altura, entrou para o hall dos gigantes da bola. E, em 2002, Ronaldo deu um novo significado para a palavra fenômeno.
Agora, em solo brasileiro, chegou a hora de cravar a sexta estrela no peito.

COPA DE 1958

A Copa do Mundo de 1958, na Suécia, marcou o fim dos improvisos na seleção brasileira. Chefe da delegação e vice-presidente da CBD (atual CBF), Paulo Machado de Carvalho promoveu uma verdadeira revolução ao modernizar os preparativos para o Mundial. Com um ano de antecedência, ele montou uma equipe de profissionais para dar suporte aos atletas. Por último, já em março, escolheu o treinador: Vicente Feola.

As escolhas de Paulo Machado se mostraram acertadas. No dia 29 junho de 1958, o Brasil goleou a Suécia por 5 a 2 e conquistou a sua primeira Copa. Mais do que isso, revelou ao mundo o maior jogador de todos os tempos. Aquela vitória também serviu para enterrar o fantasma da derrota sofrida para o Uruguai na decisão de 1950.

Com o esquema 4-3-3, onde Zagallo atacava e também recuava para ajudar na marcação no meio de campo, a seleção surpreendeu os adversários. Mas não foi apenas por causa dessa inovação tática que o Brasil se sagrou campeão. Inspirado e entrosado, o trio de ataque formado por Pelé, Garrincha e Vavá destruiu os adversários.

Nos dois primeiros jogos, Pelé, então um garoto magricela de apenas 17 anos, ficou no banco. Contra a União Soviética, o jogo mais temido da primeira fase, foi escalado por Feola. A aposta deu certo. Com apenas um minuto de jogo, acertou uma bola na trave. O dono do jogo foi Vavá, que marcou os dois gols da vitória por 2 a 0, mas Pelé mostrou desenvoltura, não se intimidou e, por isso, não saiu mais da equipe até o fim do Mundial.

A confirmação de que o garoto era diferenciado veio já na partida seguinte, nas quartas de final, diante de País de Gales. Foi dele o gol do apertado triunfo por 1 a 0. Pelé, inclusive, considera aquele um dos grandes jogos da extensa carreira.

Mas foi diante da temida França, na semifinal, que o garoto deu o seu show particular. Os franceses contavam com o artilheiro Just Fontaine, que havia marcado oito gols em quatro e era até aquele momento o grande nome da Copa. Era até enfrentar Pelé. Com três gols, o craque brasileiro aniquilou os franceses: 5 a 2.

Para entrar na história faltava o título. E ele veio contra os donos da casa. Pelé marcou dois gols. O primeiro foi uma pintura. O garoto ajeitou a bola com o peito, deu um chapéu e bateu. Um lance que deixou os súditos boquiabertos. E ainda viriam outros nas Copas seguintes.

COPA DE 1962

A seleção brasileira chegou à Copa de 1962 com nove jogadores campeões de 1958. A equipe, naturalmente, era favorita ao título, mas a lesão na coxa esquerda sofrida por Pelé logo na segunda partida, contra a Checoslováquia, colocou em dúvida a capacidade de o Brasil ser campeão. Então com 21 anos, o Rei vivia grande fase e era a principal esperança de gols do time comandado por Aymoré Moreira.

O treinador resolveu dar a Amarildo a responsabilidade de substituir Pelé. E logo no seu primeiro jogo como titular o atacante do Botafogo tratou de tranquilizar a torcida brasileira: marcou os dois gols da vitória por virada sobre a Espanha.

Mas para conquistar o bicampeonato mundial, o Brasil precisava de um craque capaz de desequilibrar jogos difíceis. E, na ausência de Pelé, esse jogador foi Mané Garrincha. Com suas pernas tortas, desnorteou os adversários, um a um. Sua primeira grande exibição foi nas quartas de final, contra a Inglaterra, quando a abriu o placar de cabeça, cobrou a falta que acabou em gol de Vavá e ainda acertou um belo chute de fora da área.

Garrincha estava no auge da carreira e, no jogo seguinte, diante do Chile, mais uma vez fez a diferença. Com jogadas geniais, tirou de letra a pressão vinda das arquibancadas do Estádio Nacional de Santiago – o público foi de quase 80 mil chilenos – e anotou dois gols.

Já no finzinho da partida, foi expulso por dar um pontapé em Rojas. Mesmo assim, esteve em campo na decisão contra a Checoslováquia. Dirigentes brasileiros teriam subornado o bandeirinha uruguaio Esteban Marino. Ele foi o único que viu a agressão, mas “misteriosamente” não compareceu ao julgamento do caso, na véspera da decisão.

Na final, Garrincha não balançou a rede. Isso, no entanto, não significa que não tenha atormentado a defesa da Checoslováquia, seleção que tratou de chamar de “aquela equipe com a camisa do São Cristóvão”. O show de Garrincha nos gramados chilenos naquela Copa fez com que o jornal francês L’Equipe o descrevesse como “o ponta-direita mais extraordinário que o futebol já conheceu.”

COPA DE 1970

Quatro anos antes de construir uma das mais espetaculares seleções da história, o Brasil afundava em uma vexatória eliminação na Copa da Inglaterra. Da queda precoce em 66 à consagração de 70, a seleção passou por uma profunda reformulação que teve quatro trocas de técnico até a volta de Zagallo ao comando da equipe.

A entrada do Velho Lobo no lugar de João Saldanha até hoje gera polêmicas já que o antigo técnico teve uma campanha arrasadora nas Eliminatórias com 100% de aproveitamento (seis vitórias), com 23 gols marcados e apenas dois sofridos. A militância de Saldanha no Partido Comunista e a rejeição de um “pedido” do presidente Médici para escalar Dadá são apontados como motivos para a queda.

À sua maneira, Zagallo modificou a equipe então conhecida como “as feras do Saldanha” e conseguiu melhorar uma engrenagem que já vinha embalada. De quebra, tinha Pelé no auge de sua forma física e técnica, e o Rei deu show na sua despedida em Copas até mesmo quando não fez gol: foi na estreia contra a Checoslováquia (vitória por 4 a 1), que ele tentou do meio de campo, que ficou conhecido até hoje como “o gol que Pelé não fez”.

O Rei ainda eternizaria outros lances como o drible de corpo lendário sobre Mazurkiewicz contra o Uruguai na semifinal e a antológica defesa de Gordon Banks em cabeçada fulminante, considerado por muitos como a maior intervenção de um goleiro.

Mas o Brasil de 70 não foi só Pelé. Foi Jairzinho, o Furacão que marcou em todos os jogos, foi Rivellino, com sua patada atômica. Foi Gérson, com seus passes de dezenas metros de precisão assombrosa. Foi de Tostão, gênio discreto. A mágica daquele time foi justamente reunir tantos talentos e fazê-los render como um conjunto.

Na primeira fase, só a então campeã Inglaterra foi páreo (vitória por 1 a 0). Daí em diante deslanchou e chegou para enfrentar a Itália como favorito, resultado que se confirmou com um acachapante 4 a 1 e transformou aquele esquadrão, que ficaria com a posse definitiva da Taça Jules Rimet, em uma verdadeira lenda do esporte.

COPA DE 1994

A quarta conquista brasileira nasceu bem antes de Roberto Baggio mandar nas nuvens a última cobrança da Itália na decisão por pênaltis no Rose Bowl. A gênese do tetra teve início em 8 de setembro de 1993, quando Carlos Alberto Parreira pôs fim às brigas com Romário e convocou o atacante para a decisiva partida contra o Uruguai pelas Eliminatórias. Os dois gols que incendiaram o Maracanã e carimbaram o passaporte para os Estados Unidos foram apenas o prólogo da conquista.

O Baixinho foi o sopro de talento em uma seleção que não encantou e muitas vezes foi criticada por não fazer jus à escola brasileira de jogo vertical e incisivo. Para tirar o País da fila de 24 anos, o treinador montou uma equipe muitas vezes burocrática, mas que poucas vezes passou por sufoco. Em um time morno, Romário era o toque de classe e carregou a equipe nas costas em praticamente todos os jogos.

Foi ele quem marcou o primeiro (na vitória por 2 a 0 sobre a Rússia, na estreia) e o último (contra a Suécia, no apertado triunfo por 1 a 0 na semifinal) gol na campanha do tetra.

Quando não balançou as redes, foi fundamental com passes precisos, como aquele que encontrou Bebeto para ele marcar o gol salvador da vitória nas oitavas de final contra os donos da casa em pleno 4 de julho – dia da Independência dos Estados Unidos.

O único jogo além desse em que passou em branco foi na final contra a Itália, mas curiosamente o Baixinho não foi o artilheiro do torneio: o búlgaro Stoichkov e o russo Salenko, com seis gols (um a mais que o brasileiro), foram os vencedores.

Mas não foi apenas o faro de goleador que devolveu a hegemonia do futebol ao Brasil. O time operário de Parreira mostrou consistência inquestionável e contou com coadjuvantes inesperados para se consagrar.

Aldair e Marcio Santos ganharam as vagas dos lesionados (e então titulares) Ricardo Gomes e Ricardo Rocha e transformaram a defesa em um paredão: com três gols sofridos, foi a menos vazada da história das conquistas.

No meio, outro personagem teria seu acerto de contas com o destino. Dunga, apontado cruelmente e injustamente como símbolo da fracassada participação na Copa de 1990, deu a volta por cima e terminou o Mundial com a faixa de capitão (que pertencia a Raí, que acabou na reserva) no braço e erguendo o troféu com gritos e xingamentos que exorcizaram os fantasmas que o perseguiram por anos.

Com um futebol eficiente e um gênio no ataque, Parreira conseguiu enfim acabar com o jejum de 24 anos sem conquistas. Diz-se que o Brasil não brilhou, mas ninguém lembrou disso na hora de comemorar o tetra.

COPA DE 2002

Quando Ronaldo venceu Oliver Kahn pela segunda vez naquela noite de 30 de junho de 2002, em Yokohama, não só coroou mais uma de suas voltas por cima na carreira como escreveu o mais improvável capítulo das conquistas brasileiras.

O Brasil chegou à Ásia desacreditado e colecionando vexames como a eliminação para Honduras na Copa América. Lembrar da campanha quase faz esquecer que apostar naquele time à época beirava o absurdo.

Antes do Mundial, França e Argentina despontavam como favoritas à conquista; a primeira por ser a então campeã mundial e por ter vencido a Euro dois anos antes. Já os comandados de Marcelo Bielsa tiveram campanha praticamente irretocável nas Eliminatórias Sul-Americanas e encantavam o mundo com um futebol ofensivo. Acabaram incrivelmente naufragando abraçadas ainda na primeira fase.

Luiz Felipe Scolari, chamado às pressas para classificar a seleção, foi fundamental na conquista. Aguentou os duros golpes com sua resiliência habitual e bancou a aposta em Ronaldo, que vinha de gravíssima lesão no joelho. Ao seu estilo, ignorou os pedidos por Romário (até o então presidente Fernando Henrique Cardoso fez campanha pelo Baixinho) e deu a camisa 11 a Ronaldinho Gaúcho, que no fim seria um coadjuvante de imensa valia.

O treinador conseguiu fechar o grupo em torno do objetivo e criou a “família Scolari”, que pouco a pouco foi encorpando e atingiu seu ápice justamente na Copa.

Além de Ronaldinho e Ronaldo, o Brasil contou com um mundial inspiradíssimo de Rivaldo – apontado por muitos como o melhor jogador da competição –, fechando a trinca de “R’s” que levou o País ao título.
A sorte também foi parceira de Felipão. Do fraco grupo na primeira fase (Turquia, China e Costa Rica) ao erro de arbitragem de Peter Prendergast, que anulou erroneamente gol do belga Wilmots nas oitavas de final quando o jogo estava 0 a 0, passando pela incrível batida de roupa de Oliver Kahn que culminou no primeiro gol contra a Alemanha na decisão, o destino conspirou a favor do Brasil, que também mostrou um jogo sólido coletivo e foi derrubando os rivais um a um até conquistar o Penta com autoridade e justiça.