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Reprise da goleada contra Argentina reabre debate sobre decepção na Copa de 2006

Recheada de talentos, seleção comandada por Parreira chegou como favorita e não comprovou expectativas

Ronaldo Fenômeno, ex-atacante da seleção brasileira (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

É possível analisar sob dois prismas a decepcionante atuação da seleção brasileira de 2006, uma reunião de talentos das mais generosas: pelo viés tático de um time desequilibrado entre ataque e defesa; ou pelo viés anímico, representado na má forma física de algumas estrelas ou numa aparente saciedade de conquistas. Um ano antes do Mundial, o país viveu o auge da euforia nos 4 a 1 sobre a Argentina da final da Copa das Confederações, jogo que a Rede Globo exibe hoje, às 16h (horário de Brasília).

O frenesi era natural. O time batera os rivais de forma contundente, num torneio em que dera folga a astros como Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. Para um elenco que iria à Copa com cinco prêmios de melhor do mundo na bagagem — três de Ronaldo e dois de Ronaldinho Gaúcho, então dono dos dois troféus anteriores — , era uma enorme validação das expectativas.

O técnico Carlos Alberto Parreira admite que os dois fatores tiveram seu peso. Como o futebol já provou muitas vezes, o que parece garantia de sucesso pode virar armadilha. Havia uma espinha dorsal de jogadores vencedores, novos nomes pedindo passagem, confiança em alta. Mas nem sempre é simples abrigar tantos talentos sem desequilibrar um time.

— Aquela não era a minha formação ideal. Tenho trabalhos de que me orgulho: o Bragantino, o Fluminense dos anos 80, a seleção de 94. Ali (2006) tivemos dificuldade — afirma Parreira, em referência às questões táticas.

Quanto à predisposição do grupo para competir, ele também é claro:

— Em 1993, quando terminou o jogo com o Uruguai (pelas Eliminatórias, que deu a classificação ao Brasil à Copa de 1994), talvez uma das dez melhores atuações da história da seleção, eu disse que se repetíssemos na Copa tínhamos muita chance de título. Mantivemos o time e o espírito. Em 2006 não foi a mesma coisa. Não chegamos com o mesmo espírito.

A imposição absoluta diante da Argentina deu a Adriano um status de titular. Algo que já se desenhava desde sua participação decisiva na Copa América de 2004. Ocorre que, durante todo o ciclo pré-Copa de 2006, Parreira pendia para a utilização de um tripé de meio-campistas, acompanhados por um “camisa 10” e dois atacantes. O “quadrado mágico” do Mundial, com Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Adriano tornava difícil equilibrar o time. Antes da Copa das Confederações, só três vezes o Brasil jogara com quatro homens tão ofensivos. O quarteto do Mundial também só jogou junto três vezes antes da convocação final.

— Não era fácil equilibrar, ficava quase um 4-2-4 pela característica dos jogadores. Mas era duro deixar um de fora naquele momento. E o time foi ganhando com facilidade nas eliminatórias — lembra Parreira.

Robinho foi a diferença

Após bater os argentinos e erguer a Copa das Confederações, no dia 29 de junho de 2005, Parreira passou a apostar mais fortemente no quarteto ofensivo. Mas os rivais, dali até a Copa, foram Chile, Sevilla, Venezuela, Emirados Árabes e Rússia. Já com o time reunido na Europa, a seleção usou os quatro homens de frente contra o FC Luzern, da Suíça, e a Nova Zelândia. Nada capaz de dar tantas garantias de funcionamento.

Mas na final contra a Argentina, a um ano da Copa, funcionou. Ocorre que, ali, havia uma sutil diferença. Ronaldo, que em entrevistas reclamara do excesso de compromissos, ganhara uma dispensa após ter sido convocado. Robinho entrou em seu lugar. Parreira lembra que ele dava mais mobilidade ao ataque e recompunha como “um quinto homem de meio”. O Brasil sobrou contra a Argentina, mesmo poupando estrelas. A exibição assombrou.

Na Copa, Ronaldo chegaria acima do peso e há dois meses sem jogar por uma lesão. Adriano também estava fora de forma. E o desempenho do time ao longo do Mundial fazia aquele jogo com a Argentina virar uma sombra. E não só sobre os atacantes. Pedia-se Robinho, pela mobilidade, mas também os laterais Cicinho e Gilberto, titulares no título de um ano antes.

— Foi um jogo de imposição do futebol brasileiro, de qualidade técnica e de ajuda entre os jogadores — lembra Parreira, falando da vitória na Copa das Confederações. — Após uma atuação daquela, você sempre faz ponderações. Mas não tem como chegar num Mundial e deixar de fora Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo…